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Povo Munduruku

TI Sawre Muybu: Povo Munduruku realiza nova etapa da autodemarcação

Povo Munduruku realiza nova etapa da autodemarcação da Terra Indígena Sawre Muybu

Com a demarcação paralisada desde 2016, os indígenas prosseguem com a defesa e o monitoramento de seu território às margens do Tapajós de forma autônoma

POR BÁRBARA DIAS E MARIANA PONTES, DO CIMI REGIONAL NORTE 2

Dentre os dias 26 a 31 de julho, o povo Munduruku do médio e alto Tapajós, realizou mais uma etapa da autodemarcação da Terra Indígena (TI) Sawre Muybu, no Pará, iniciada em 2014. A ação ocorreu logo após o I Encontro de Jovens Munduruku, e contou com mais de cem guerreiros, jovens, crianças, guerreiras, pajés, caciques e lideranças, além de seus grandes aliados, os ribeirinhos de Montanha e Mangabal, comunidade tradicional da região do Tapajós que também está fazendo sua autodemarcação.

Povo Munduruku
Primeiro Encontro de Jovens Munduruku ocorreu na TI Sawre Muybu entre os dias 22 e 25 de julho. Foto: Bárbara Dias/Cimi Norte 2

Dividindo-se em dois grupos, os indígenas e ribeirinhos partiram para as extremidades do território com o intuito de fazer a limpeza dos picos da autodemarcação, já abertos em outras etapas. Também deram continuidade ao monitoramento e mapeamento das invasões de garimpeiros, madeireiros e palmiteiros que avançam sobre o território e, como forma de inibir as invasões, colocaram placas da terra indígena em pontos estratégicos de seus limites.

Durante a expedição de defesa e monitoramento da TI Sawre Muybu, foram encontrados os rastros de destruição da exploração ilegal de palmito e madeira, com grandes ramais cortando a terra indígena; barracões abandonados de garimpos; um deles ativo, com pista de pouso a menos de 100 metros do limite do território e o barracão, local de moradia dos garimpeiros, bem próximo também. Os Munduruku, com o mapa de seu território em mãos, mostraram a eles os limites da terra indígena e de quão próximos eles estavam dela, explicando o trabalho que estavam fazendo da autodemarcação. Com auxílio de GPS e do grande conhecimento das lideranças sobre o território, as invasões foram mapeadas ao longo do trajeto.

Povo Munduruku
Munduruku colocaram placas da terra indígena em pontos estratégicos de seus limites. Foto: Bárbara Dias/Cimi Norte 2

Depois de anos de luta pela demarcação e contra a construção de hidrelétricas no rio Tapajós, especialmente a Usina Hidrelétrica (UHE) São Luís do Tapajós, que alagaria partes da TI Sawre Muybu, em 2016 os Munduruku conquistaram a publicação do relatório circunstanciado de identificação e delimitação da terra indígena, primeira etapa do processo demarcatório.

Povo Munduruku
Indígenas e ribeirinhos partiram para as extremidades do território com o intuito de fazer a limpeza dos picos da autodemarcação. Foto: Mariana Pontes/Cimi Norte 2

Indígenas e ribeirinhos partiram para as extremidades do território com o intuito de fazer a limpeza dos picos da autodemarcação. Foto: Mariana Pontes/Cimi Norte 2

“Faz dois anos que a demarcação está parada, o governo não quer reconhecer que essa terra é dos Munduruku”, afirmou a Associação Indígena Pariri, que representa os Munduruku do médio Tapajós, em texto publicado nas redes sociais.

“Aqui vocês do governo (pariwat) jamais vão conseguir tirar o que é nosso, mesmo que tenhamos que morrer pra defender a nossa casa”, prossegue o texto.

Confira o texto abaixo, na íntegra:

Povo Munduruku
Associação Indígena Pariri – Munduruku, Médio Tapajós

Nós, jovens guerreiros, guerreiras e caciques Munduruku do Médio e Alto tapajós estivemos juntos também como os Ribeirinhos para continuar a autodemarcação do Território Sawre Muybu.

O Relatório da TI Sawre Muybu foi publicado em 2016 e faz dois anos que a demarcação está parada, o governo não quer reconhecer que essa terra é dos Munduruku.

Sabemos que várias empresas e o próprio governo contestaram nossa terra – mineradoras, a Confederação Nacional da Indústria, o consór

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ANOTE AÍ

Fonte: CIMI

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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