TIPOS DISTINTOS DE FLORESTA E SEUS PROCESSOS DE REGENERAÇÃO

TIPOS DISTINTOS DE FLORESTAS E SEUS PROCESSOS DE REGENERAÇÃO

Tipos distintos de floresta e seus processos de regeneração

secas e úmidas se regeneram de maneira oposta, diz

Por Carolina Lisboa/O Eco

“É interessante ver que florestas úmidas e secas começam a sucessão de forma muito diferente, mas ao longo do tempo se tornam mais semelhantes entre si, em termos de microclima e densidade da madeira”, explica a pesquisadora Ima Vieira, do Museu Goeldi.

O artigo “Wet and dry tropical forests show opposite successional pathways in wood density but converge over time” (“Florestas tropicais secas e úmidas mostram caminhos sucessionais opostos em densidade de madeira mas convergem ao longo do tempo”, em português) foi publicado nesta segunda-feira (22) na revista Nature Ecology and Evolution.

A publicação é resultado dos esforços de uma rede de pesquisadores da , Estados Unidos, Austrália e Europa, denominada 2ndFOR, e descreve as análises sobre e dinâmica de florestas secundárias usando dados coletados em 50 localidades de 10 países latino-americanos.

Os pesquisadores concluíram que florestas úmidas e secas começam a sucessão de forma muito diferente, mas ao longo do tempo se tornam mais semelhantes entre si em termos de microclima e densidade da madeira. Tal descoberta implica em uma mudança de paradigma na ecologia, com importantes consequências para a restauração de florestas.

As florestas tropicais têm sido desmatadas a taxas alarmantes para dar lugar a áreas agrícolas e pastagens. Atualmente mais da metade das florestas tropicais do não são florestas maduras bem conservadas, e sim florestas secundárias em processo de regeneração.

Na América Latina, elas cobrem 28% da zona tropical. Contudo, a vegetação das florestas pode se regenerar após o abandono das áreas que sofreram intervenções naturais ou antrópicas, num processo chamado “sucessão”, no qual a vegetação cresce gradualmente levando à mudanças nas condições ambientais.

Como as espécies vegetais têm estratégias de crescimento diferentes, mudanças ambientais locais também levam a mudanças na composição de espécies ao longo do tempo. Entender como a sucessão funciona é crucial para compreender como as florestas nativas respondem às pressões antrópicas e elaborar estratégias e métodos de restauração florestal.

Pensando nisso, a rede de pesquisa 2ndFOR acompanhou a regeneração de florestas tropicais em 10 países latino-americanos e encontrou que florestas secas e úmidas apresentam caminhos sucessionais opostos.

O Prof. Dr. Lourens Poorter da de Wageningen (Holanda) e líder do artigo explica: “Espécies com características diferentes tem sucesso em ambientes diferentes. Uma característica chave das espécies de árvores é a densidade da madeira. Espécies que possuem madeira leve, tem a habilidade de crescer muito rápido quando há luz e água em abundância.

No entanto, essa estratégia tem a desvantagem de menores chances de sobrevivência, especialmente em condições sub-ótimas, como sob a sombra de outras árvores e sob condições de seca. Assim, as espécies de madeira leve tem um estilo de “rock and roll”: tem seu pico de sucesso no início da vida, vivem rápido e morrem jovens”.

Já as espécies com madeira mais densa usam estratégias opostas, como explica o Prof. Dr. Mark Westoby, da Universidade de Macquarie (Austrália): “Ao contrário das espécies de madeira leve, aquelas árvores que produzem madeira cara e durável podem persistir por muito tempo, especialmente em condições adversas.

Essa maior chance de sobrevivência vem às custas de um crescimento mais lento.” O pesquisador complementa que esse é um passo importante para entender a mudança de composição de espécies durante a sucessão florestal: “A teoria da sucessão prevê que no começo da sucessão a abundância de luz favorece a dominância por espécies pioneiras “rápidas” que tem madeira leve. Já em estágios avançados da sucessão, a disponibilidade de recursos, como luz, diminui levando à dominância por espécies de crescimento lento e madeira dura”.

Para avaliar as mudanças na densidade da madeira ao longo da sucessão, a equipe de pesquisadores da rede 2ndFOR analisou a regeneração de florestas em uma escala espacial sem precedentes, usando dados coletados em 50 localidades, 1.400 parcelas e >16.000 árvores de florestas tropicais de toda América Latina.

Uma das autoras do estudo, a Dra Ima Vieira, pesquisadora do Museu Goeldi, resume os resultados obtidos na : “Nossos resultados mostram que em florestas úmidas como a Amazônia, realmente acontece uma mudança de espécies de madeira leve para espécies de madeira dura ao longo do tempo, como prevê a teoria da sucessão e isso ocorre porque em florestas úmidas os recursos (como luz) diminuem ao longo da sucessão.

É interessante ver que florestas úmidas e secas começam a sucessão de forma muito diferente, mas ao longo do tempo se tornam mais semelhantes entre si, em termos de microclima e densidade da madeira”.

INFO

Infográfico. Crédito: 2andFor.

Para a pesquisadora, a importância deste estudo vai além do valor científico de se testar teorias estabelecidas, pois o conhecimento ecológico adquirido pode ser usado para melhorar a seleção de espécies para recuperar áreas degradadas: “Nossas conclusões sugerem que a restauração de florestas em áreas com estação seca intensa deve priorizar o uso de espécies com densidade alta da madeira (madeira dura), porque elas terão maiores chances de sobrevivência no período seco.

Nas florestas úmidas, como na Amazônia, é diferente, uma mistura de espécies de madeira leve e dura podem ser usadas porque não há limitação de disponibilidade de água. Neste caso, as espécies de madeira leve crescerão rápido e formarão um dossel que abrigará as espécies de crescimento lento e madeira dura, que por sua vez dominarão a no longo prazo”.

No entanto, Ima Vieira alerta que é preciso reconhecer que plantar árvores não deve ser prioridade em projetos de restauração, e sim usar a regeneração natural, que é a opção mais barata e tecnicamente mais fácil. “Claro que o tempo de recuperação pode ser acelerado pelo plantio de espécies nativas. Nesse caso, as recomendações sobre seleção de espécies são válidas”, esclarece.

2ndFOR

A rede colaborativa em florestas secundárias 2ndFOR envolve 85 pesquisadores de 16 países, e tem como foco estudar a ecologia, dinâmica e biodiversidade das florestas secundárias tropicais e compreender os serviços ambientais que elas proveem em paisagens modificadas pelo homem.

A rede 2ndFOR é coordenada pelo Prof. Lourens Poorter, Prof. Frans Bongers, Dr. Masha van der Sande e a brasileira Dr. Catarina Jakovac, da Universidade de Wageningen na Holanda.

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p style=”text-align: justify;”>Fonte: O Eco

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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