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Um velho calado, silenciado, cercado, mesmo assim Lula falou mais alto, Lula fez muita gente tremer

Um homem:

Lula, em silêncio, comandou com os olhos o espetáculo de dor e esperança do que deveria ter sido apenas um enterro triste, como sempre são devastadoramente tristes os enterros de crianças.

   Em silêncio, falou mais alto do que todos,

foi além da roupa de mártir que se recusa a vestir.

Cruzou o mar de dor com dignidade.

E, no pouco que lhe deram para sofrer, fez o sofrer com ele,

cada pessoa decente, cada humano em sintonia com o outro, cada irmão, cada irmã.

Por: Leandro Fortes/DCM 

Em silêncio, coroado de cabelos brancos, Lula fez o mundo tremer.

Pois foi o mundo todo que viu os seguranças, as polícias, os soldados, as armas e o rancor mobilizados, todos cagados de medo, sem compreender a força daquele homem.

Aquele homem que os deixou nus.

As pessoas não foram enterrar Arthur, foram levar a Lula, foram oferecer seus corações, sua fé, seus olhos para que por eles Lula pudesse chorar também. Vieram pedir , esperar nem que fosse um milagre.

Em silêncio, Lula falou mais alto do que todos, foi além da roupa de mártir que se recusa a vestir. Cruzou o mar de dor com dignidade. E, no pouco tempo que lhe deram para sofrer, fez o mundo sofrer com ele, cada pessoa decente, cada humano em sintonia com o outro, cada irmão, cada irmã.

Lula enterrou Arthur e, generoso, trouxe calor de novo aos nossos corações. Encheu nossa de coragem e se colocou, outra vez, à frente da luta.

De novo, esse homem preso sem provas, vítima de um Judiciário apodrecido, deixou apavorados seus algozes, seus detratores e os dementes que os seguem.

Um velho calado, vestido apenas de coragem e amor, fez toda essa gente tremer.

Preso, Lula nos deu . Sempre vamos dever isso a ele.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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