Unicamp: Eles merecem ficar expostos?

Unicamp: Eles merecem ficar expostos?
Veja abaixo 5 medidas para colocar toda a estrutura de na Unicamp à serviço dos trabalhadores e do pobre
Flávia Telles

Nesta semana a Unicamp anunciou a suspensão das aulas devido a crise do coronavírus, serão aulas e eventos cancelados com o objetivo de diminuir a propagação do vírus. Ao mesmo , estudantes bolsistas não foram liberados de suas atividades e milhares de trabalhadores, efetivos e terceirizados, vão seguir trabalhando e se expondo aos riscos da doença, sem nem mesmo terem espaços de discussão para decidirem o que fazer.

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A crise do Coronavírus tende a se acelerar no Brasil marcado pela precarização da saúde, que se aprofundou pós-golpe com medidas como a PEC do teto e sobretudo com todos os ataques de Bolsonaro. Frente a tamanha crise é preciso imediatamente exigir a revogação de todo teto de gastos estadual e federal para a saúde pública. E que toda a estrutura de saúde que existe (pública e privada) seja utilizada para atender as demandas do SUS, com leitos, UTIs, equipamentos e materiais adequados. Se existe leitos privados, é um absurdo que sejam utilizados para lucrar com a saúde das pessoas enquanto a população morre sem leitos públicos.

Na Unicamp, a reitoria anunciou que o HC (Hospital de Clínicas), o CAISM (Centro de Atenção Integral à Saúde da ) e o Cecom (Centro de Saúde da Comunidade) continuarão com seu funcionamento normal. Mas será que frente a uma crise de tamanha magnitude, onde a própria Unicamp monitora 11 casos suspeitos e Campinas já tem 1 confirmado, e onde os hospitais da Unicamp cumprem um papel central no atendimento à saúde de Campinas e região, é possível manter a normalidade precária dos hospitais?

Nós acreditamos que não, e frente a tamanha crise precisamos de medidas emergenciais que coloque a estrutura da universidade à serviço dos trabalhadores e da população que sofre com a crise do Coronavírus e possam diminuir riscos aos trabalhadores da saúde. Se a Unicamp recebe 1 milhão de dólares do BID (Banco Interamericano de ) para ampliar suas relações com a iniciativa privada, porque não utilizar esse dinheiro para atender as necessidades da população? Veja que medidas emergenciais devemos defender:

1) Contratação emergencial na área da saúde da Unicamp: Não é um segredo para ninguém que os e as trabalhadoras da saúde na Unicamp tem que lidar cotidianamente com a precarização, mostramos aqui como em 2018 a greve dos trabalhadores foi protagonizada por trabalhadoras da saúde que denunciavam a falta de funcionários, leitos e equipamentos adequados. Frente à crise do Coronavírus, é urgente utilizar os recursos financeiros da universidade, a começar pelo recurso de U$ 1 milhão do BID, para contratar emergencialmente mais funcionários para cobrir o atendimento à saúde, limpeza e todas funções necessárias, a começar pelos trabalhadores de saúde que estão desempregados devido a crise econômica e assim cobrir toda a demanda necessária, pagando salários justos a todos. Dória determinou suspensão das férias dos trabalhadores da saúde nos próximos dois meses, uma medida autoritária, já que os trabalhadores da saúde são propensos à altas taxas de contaminação e vão necessitar de mais rotatividade no , o que a contratação imediata de mais trabalhadores poderia resolver. Além disso é preciso exigir exclusiva aos médicos que trabalham na Unicamp mas são proprietários de clínicas particulares e atendem à saúde privada. Assim é possível combater a sobrecarga de trabalho de todos.

2) Comitê de crise composto por trabalhadores, professores e estudantes para decidir como se proteger: os trabalhadores devem ter espaços de discussão onde possam decidir como vão se expor menos aos riscos, estabelecendo uma rotatividade mais adequada entre os trabalhadores das áreas de maior exposição. É preciso formar um comitê de crise composto por trabalhadores eleitos em cada unidade, efetivos e terceirizados, como representantes, e que sejam, junto a especialistas e a representantes estudantis, os que vão decidir as medidas para crise, uma proposta que poderia ser levada à frente por STU, Adunicamp, DCE e APG. Um comitê como esse poderia decidir liberar todos os trabalhadores do bandejão, e que os alunos recebam auxílio alimentação em dinheiro enquanto os restaurantes estiverem fechados, além de contratação imediata para garantir as creches a todos os trabalhadores que vão seguir trabalhando, sobretudo aos trabalhadores da saúde, com também um plano de prevenção com as e os trabalhadores da infantil.

3) Prevenção e cuidados com todos os trabalhadores, com materiais e equipamentos adequados: O Esquerda Diário recebeu denúncias de que os trabalhadores da saúde na Unicamp não estão nem mesmo sendo orientados sobre como vão se proteger, já que estão mais submetidos aos riscos nos hospitais. É preciso exigir orientação médica adequada a todos, com informações de prevenção, sintomas e como proceder, essa poderia ser uma levada pelas entidades de trabalhadores e estudantes para a população. É preciso ter distribuição gratuita de materiais necessários e de acordo com a demanda: como luvas, máscaras, álcool, não somente para área da saúde, mas para todas as unidades da Unicamp, já que o preço do álcool em gel chega a duplicar em Campinas. Além disso, que todo trabalhador que faz parte de grupos de riscos sejam liberados e que os que tenham suspeitas da doença, possa fazer o teste do Coronavírus gratuitamente e também liberados com todos os direitos.

4) Enfrentar a precarização causada pela terceirização: além dos trabalhos diretamente ligados ao atendimento aos pacientes, há trabalhos essenciais de funcionamento dos hospitais, como é o trabalho da alimentação e da limpeza, que na Unicamp é um trabalho terceirizado, portanto mais precário. É preciso que essas trabalhadoras também tenham medidas de segurança para se exporem menos, com mais contratação imediata para não sobrecarregar nenhum trabalhador, além de garantir limpeza preventiva de todos os espaços necessários com menores jornadas de trabalho. Nesse momento de crise se evidencia ainda mais como o trabalho terceirizado não é um “meio”, mas é central para o funcionamento da universidade e das áreas hospitalares, o que só fortalece a perspectiva de que tenham condições iguais aos efetivos. Para enfrentar a precarização do trabalho que as submetem a piores condições de vida e alimentação e portanto à maiores riscos de se contaminar pelo Coronavírus, é preciso exigir a efetivação de todos os terceirizados sem a necessidade de concurso público, para que possam ter melhores condições, isso também combateria o risco de demissão a que as 330 trabalhadoras do bandejão estão submetidas nesse momento. Colocar famílias nas ruas frente a esse cenário é aprofundar ainda mais a crise social no Brasil do Bolsonaro, por isso exigimos desde já que se mantenha todos os postos de trabalho com todos os direitos.

5) Polo da saúde em Campinas: A Unicamp é responsável por atender boa parte da população de Campinas e região, frente à crise é preciso ampliar a estrutura de saúde para que possa atender adequadamente a região. Isso é possível com uma forte relação com o Hospital Universitário da PUC-Campinas que também deve se colocar para receber a população e que o Centro Médico, que fica ao lado da Unicamp, bem como demais hospitais privados, disponibilizem imediatamente seus leitos para o SUS, sem qualquer indenização. É ínfimo os 40 leitos de UTI da Unicamp para atender a demanda, é preciso utilizar a estrutura já existente para responder à crise, do contrário se decidirá quem sobrevive e quem morrerá, como estamos vendo na Itália hoje.

Numa cidade como Campinas, onde a precariedade da vida vem aumentando e que em 2020 chegamos ao número de 822 pessoas em situação de rua que correm mais riscos à doença, é preciso colocar toda estrutura de saúde da cidade à serviço dos que mais necessitam, a começar pela Unicamp, lutando assim por SUS 100% estatal, livre dos interesses privados e que seja gerido pelos trabalhadores e população.

Com essas medidas, as universidade poderão cumprir o papel de, frente aos ataques de Bolsonaro, mostrar que podem se ligar à população e suas demandas mais sentidas, servindo aos interesses dos trabalhadores e do povo pobre. Exigimos nada menos do que isso diante de uma crise de saúde que só pôde ganhar tamanha proporção porque são os trabalhadores internacionalmente que estão pagando a conta da crise capitalista, com diversos ataques que nos retiram até mesmo o direito de envelhecer.

É preciso suspender imediatamente o teto dos gastos que retira milhões hoje que poderiam ir para saúde e serve para pagar a dívida pública, uma dívida ilegal e fraudulenta que devemos parar de pagar, já que ela organiza todo orçamento público para ir aos bolsos dos banqueiros e capitalistas e nossa saúde vale mais que os lucros deles.

Fonte: Esquerda Diário

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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