#VazaJato: Moro volta a ter que se explicar

#VazaJato: Moro volta a ter que se explicar

Por Helena Chagas, no Divergentes e para o Jornalistas pela Democracia

Brasília não é para principiantes, por mais famosos e endeusados que sejam. Em tese, a prisão dos hackers de Araraquara seria o momento de o ministro da Justiça, Sérgio Moro, assumir a ofensiva e tentar encurralar a Vaza Jato. Apenas em tese.

Neófito na política, porém, Moro está, na visão de interlocutores do Judiciário, a cada dia se desgastando mais, expondo-se ao assumir o papel de comandante da investigação na qual se coloca como vítima. Além da história mal contada envolvendo um DJ, uma manicure e um motorista de Uber, nesta manhã surgiram dois fatos novos que deixam Moro em maus lençóis:

  1. A divulgação da portaria editada ontem pelo ministro da Justiça endurecendo regras e procedimentos para repatriação e deportação do país de “pessoa perigosa”. Impossível não relacionar a medida ao jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept, responsável pela divulgação dos diálogos comprometedores envolvendo o e-juiz e os procuradores da Lava Jato.
  2. A publicação, na Veja On Line, de diálogos de Greenwald, de 5 de junho, em que sua fonte, que havia lhe passado eletronicamente o material, lhe assegura não ter sido o autor da invasão do celular de Moro noticiada pela imprensa naquele dia. Aliás, seguindo a lógica irrefutável de que o suposto hacker que obteve as conversas do Telegram, não iria se expor dias depois, dialogando com suas supostas vítimas. Ninguém assegura que isso é verdade, mas faz muito sentido.

Com isso, a história vai ficando cada vez mais enrolada. Evidentemente, a suposta intenção de deportar Greenwald vai acirrar os ânimos e provocar reações. Chega a ser espantoso ver o ex-juiz e atual ministro, que se coloca entre as vítimas da invasão aos celulares da Lava Jato, operar com desenvoltura no caso, sem esconder seu interesse pessoal.

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 Essa impressão já havia se disseminado na véspera, quando o mesmo Moro comunicou a autoridades da República que elas tiveram seus celulares invadidos e que suas mensagens seriam destruídas – afirmação imediatamente rebatida por ministros do STF e do STJ e, por fim, pela própria Polícia Federal. Afinal, cabe ao juiz do processo, no caso Vallisney de Oliveira, decidir o que fazer com as mensagens.

 

Mas o que pode ser pior para Moro é o fracasso de sua estratégia de direcionar as atenções para o crime dos hackers – que tem mesmo que ser apurado e punido – na tentativa de desviar e tirar a credibilidade do fato principal: a investigação de atitudes impróprias e parciais da Justiça na Lava Jato a partir da divulgação das conversas do Intercept.

Tudo indica que Moro não conseguiu estancar essa sangria e nem assustar os jornalistas que vêm investigando o assunto, como mostra a manchete de hoje da Folha de S.Paulo, segundo a qual o procurador Deltan Dallagnol fez palestra paga para uma empresa mencionada na Lava Jato.

A ofensiva de Moro pode durar pouco, pois ele terá que voltar logo à defensiva para se  explicar.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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