Poesia da vida

A VOLTA DA COMISSÃO DE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS

Poesia da escrita em forma de decreto: volta a Comissão de  

“Isso é poesia da vida escrita em forma de decreto. Que os recebedores de justiça se tornem  poemas inesquecíveis de todos os brasileiros.  Bem-vinda a volta  da Comissão dos Mortos e Desaparecidos Políticos.”

Por Urariano Mota 

Depois do anúncio da próxima prisão de Bolsonaro, a melhor notícia da primeira semana de julho foi a recriação, pelo , da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. A necessária comissão havia sido destruída pelo governo fascista que dirigiu o antes do nosso governo democrata. No retorno da Comissão, teremos a volta da brava Procuradora Eugênia Augusta Gonzaga.

Nunca será demais lembrar que a doutora Eugênia Augusta Gonzaga esteve à frente e inspirou o Grupo de Perus, responsável por identificar ossadas de presos políticos em . O objeto era a identificação de 1.047 restos mortais de desaparecidos políticos enterrados no cemitério de Perus. Se não houvesse feito mais que isso, já estaria qualificado para todo trabalho de justiça histórica. 

Na Comissão que retorna, teremos ainda Cecília de Oliveira Adão, representante da sociedade civil; Rafaelo Abritta, representante do Ministério da Defesa; e Natália Bonavides (PT-RN), federal. A esta altura, alimentamos a de que a Comissão não seja republicana no pior sentido, naquele da pretensa imparcialidade. 

Queremos dizer, a verdade tem que ser parcial, absolutamente parcial na defesa dos ex-presos políticos e punição aos criminosos assassinos da tortura. Ela não poderá jamais repetir o erro que abrigou antes um jurista pernambucano, que depois, ao fim, saiu a defender torturadores do regime, porque a anistia havia sido “para os dois lados”! 

Acreditem, na redemocratização ainda existiu quem defendesse uma lei atravessada à força no fim da ditadura, de escárnio à justiça. Agora, temos a esperança ainda que sejam desenterrados os processos emperrados pelos mais torpes motivos e desculpas. 

Entre eles, o de Givaldo Gualberto da Silva, processo de Anistia 2010.01.67794. A razão é de urgência. O seu estado de é gravíssimo. Na idade de 82 anos, tornado cego, e com outros males, como suspeita de câncer.

Nomeio Givaldo porque o conheço de mais perto. Mas existem outros processos, que por demora e lentidão burocrática terão os benefícios concedidos aos herdeiros. Os injustiçados podem perder e já perderam um mínimo de dignidade no fim das suas vidas.

A nota boa e feliz desta semana foi o decreto do Presidente Lula em 04/07/2024:

Considerando o disposto no art. 84, caput, inciso VI, alínea “a”, da Constituição, e tendo em vista o disposto nos art. 5º e art. 13 da Lei nº 9.140, de 4 de dezembro de 1995, torno sem efeito o Despacho do Presidente da República, publicado no Diário Oficial da União de 30 de dezembro de 2022, Seção 1, Edição Extra A, que aprovou o Relatório Final de Atividades da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, referente ao período de dezembro de 1995 a dezembro de 2022, e declaro a continuidade das atividades da Comissão Especial, na forma prevista no art. 4º da Lei nº 9.140, de 4 de dezembro de 1995”.

images 5Urariano Mota – Escritor. Autor de Soledad do Recife, recriação dos últimos dias de Soledad Barret, entregue pelo marido, o traidor Cabo Anselmo, à ditadura. Matéria publicada originalmente no Brasil 247.

 

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p style=”text-align: justify;”>Capa: Divulgação/Antonio Cruz/Agência Brasil

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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