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Povos amazônicos domesticaram plantas há 6 mil anos

AMAZÔNIA: POVOS ORIGINÁRIOS DOMESTICAM PLANTAS HÁ 6 MIL ANOS

Povos amazônicos domesticaram plantas há 6 mil anos

Manaus, AM – Achados arqueológicos menores do que um grão de areia, que só podem ser vistos em um microscópio, reforçam a tese de que a região do Alto Rio Madeira, no Sudeste da Amazônia, foi um importante polo de domesticação de plantas, em tempos remotos.

Por Vandré Fonseca

Os resultados dos estudos, publicados nesta quarta-feira (25 de julho), no jornal científico on-line PLOS ONE, demonstram também que as antigas populações já provocavam mudanças na paisagem da floresta naquela época.
Análises genéticas já indicavam que a região teve um papel chave na domesticação de plantas na América, datando por exemplo que a mandioca teria sido domesticada ali entre 8 mil e 10 mil anos atrás.
“Mas até agora não tínhamos evidências arqueológicas disso”, explica a arqueóloga Jennifer Watling, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, autora principal do artigo.
Entre as evidências estão fitólitos, minúsculos pedaços de plantas petrificados encontrados em meio a argila. Eles têm cerca de 20 mícrons, ou 0,02 milímetros. Para comparar, ao lado de um grão de areia fina, proporcionalmente uma bola de tênis ao lado de uma bola de futebol de campo.
Watling e seus colegas analisaram remanescentes de sementes e outros restos de plantas mais antigos encontrados no sítio arqueológico e também artefatos utilizados no processo de alimentação.
“Neste estudo a gente conseguiu achar restos micro botânicos, associados com assentamentos antrópicos que remontam de 5 a 6 mil anos atrás. A gente está associando um tipo de sítio na região à domesticação de mandioca”, explica a pesquisadora.
Foram encontrados também os mais antigos vestígios de feijão do Brasil e de abóbora, plantas domesticadas em outras regiões, como Andes e México.

Reação às mudanças climáticas

“As descobertas sugerem que os povos do sudeste
amazônico passaram de caçadores-coletores
para horticultores há mais de
seis mil anos, bem antes do que se imaginava.”

Há também evidências de Terra Preta de Índio na região, resultado de alterações humanas no ambiente. As descobertas sugerem que os povos do sudeste amazônico passaram de caçadores-coletores para horticultores há mais de seis mil anos, bem antes do que se imaginava.
As razões dessas mudanças é a pergunta que Jennifer Watling quer responder com os estudos no Rio Madeira. “Uma das hipóteses é que seja uma resposta às mudanças climáticas”, arrisca a pesquisadora.
“No começo do Holoceno, final da Era Glacial (cerca de 11 mil anos atrás), quando está ficando mais quente, os ambientes mudam, os seres humanos estão perdendo recursos dos quais antes dependiam e então começam a investir mais para garantir recursos para sua dieta”, completa.
Registros de domesticação de plantas no México, Sudeste Asiático e Oriente Médio sugerem que a domesticação de plantas em várias partes do mundo ocorreu nesse período.
Na América Latina, além do México, os Andes e o Alto Rio Madeira também foram polos importantes da domesticação de plantas. Além da mandioca, na Amazônia foram domesticadas ao que tudo indica outras plantas, como amendoim e pupunha.

Paisagem alteradas

Jennifer explica que a presença da Terra Preta indica o uso mais intensivo da terra na Amazônia. Antes de 6 mil anos, de acordo com ela, as evidências encontradas no Alto Rio Madeira indicam uma população mais esparsas, com uma população mais móvel, que ainda iniciava o manejo ou cultivo de algumas espécies.
“Mas a gente viu dentro desses registros mais antigos que eles já cultivavam raízes, que podem ser mandioca ou ariá (um tubérculo parecido com a batata)”, afirma Jennifer Watling.

ANOTE AÍ

plantas
Equipe de arqueólogos trabalhando no Sítio Teotônio, em Rondônia. Foto: Amabile Casarin/Secom – Governo de Rondônia.

“Basicamente isso mostra impactos na paisagem que recua há até mesmo 9 mil anos, com palmeiras e outras plantas. Mas esse processo vai se intensificando a partir dos 6 mil, quando chega a abóbora e o feijão”, conta a pesquisadora.
As descobertas foram feitas em camadas de solo expostas recentemente no sítio arqueológico Teotônio, perto da cachoeira que leva o mesmo nome, em Rondônia. A região é considerada por arqueólogos como um microcosmo da ocupação humana no Alto Rio Madeira, porque preserva registros quase contínuos da culturas humanas que remontam há cerca de 7 mil anos Antes de Cristo.
Os estudos foram financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Fonte: O Eco

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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