Uma carta de Paulo Freire para Thiago de Mello
De: Paulo Freire
Para: Thiago de Mello
Eita, Thiago velho de guerra, amigo-sempre, companheiro imenso, poeta “de mesmo”, sorriso constante para o mundo e para os seres humanos, capaz de conversar com uma flor, de entender os passarinhos e doar a vida bonita aos esfarrapados do mundo, aguente o barco, irmão.
Precisamos de você, da sua fé e coragem, do seu desprendimento, da sua poesia – um grito de amor e de esperança, esperança na manhã de um amanhã de liberdade que homens e mulheres, oprimidos hoje, teremos de criar. Poeta que propõe aos oprimidos um discurso diferente – sua palavração.
Um discurso permanente, que abalará vales e montanhas, rios e mares e deixará atônitos e medrosos os atuais donos do mundo. Precisamos do menino que você guarda em você e que ajuda a ser mais homem o homem que você é.
Aguente o barco, querido amigo! Muitas madrugadas, cheias de orvalho macio, esperam por você. Andarilho da liberdade, você tem ainda muitos trilhos a percorrer; seus braços longos, muitas crianças a abraçar; suas mãos, muitos poemas a escrever.
Geneve, 13 de janeiro de 1974Carta que o educador e filósofo Paulo Freire (1921-1997), Patrono da Educação Brasileira, enviou ao poeta Thiago de Mello em 1974, de Genebra, na Suíça. A correspondência foi publicada no livro Poesia Comprometida Com A Minha Vida E A Tua Vida, de Thiago de Mello. Resgatada pelo Portal Vermelho nos 95 anos de Thiago de Mello, celebrados em 30 de março de 2021.