Elegia para Moïse
Seu nome era Moïse, mas poderia ser Antônio, Francisco ou José
Em busca de melhores condições de vida, Moïse Mugenyi Kabagambe deixou o Congo e veio para o Brasil. Não sabia ele, infelizmente, que por aqui as pessoas pretas são mortas dia e noite sem que nada aconteça aos assassinos, não importando se a vítima é uma vereadora, uma criança, um trabalhador braçal ou um consumidor em um supermercado. Abandonai todas as esperanças, o Brasil é aqui!
No país que não é racista, mas “abençoado por Deus e bonito por natureza”, crianças negras “caem” de prédios, homens e mulheres, todos pretos, são cotidianamente humilhados, torturados e mortos. A escravização de seres humanos, que dilacerou este país por mais de três séculos continua a avançar tal qual uma metástase no corpo enfraquecido de uma sociedade terminal.
Moïse Kabagambe foi trucidado a pauladas ao cobrar um pagamento de duzentos reais. Os bárbaros que tiraram a vida do jovem congolês sabem que contam com um apoio que nós, meros mortais, não sabemos bem qual seja. Eles, no entanto, o sabem muito bem, pois são partes de uma engrenagem corrupta e criminosa que avilta o Estado democrático de Direito sem que a eles sejam imputadas as mais leves sanções.
O que também remonta à “escolha difícil” continuamente disseminada aos quatro ventos pelos editoriais irresponsáveis e artigos criminosos (alguns os chamam de “plurais”) publicados diariamente na mídia corporativa. As digitais de todos aqueles que deram seu “joinha positivo” para mergulhar o Brasil no caos em que está, estão nos pedaços de madeira e no taco de beisebol usados para matar Moïse Mugenyi Kabagambe.
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