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Formosa: Nota acerca da população de Couros

Há, na história de , poucos registros sobre sua população originária. Uma dessas preciosidades encontra-se no libro “Álbum de Formosa”, obra póstuma do escritor formosense Alfredo A. Saad (falecido em 2011), publicado em 2013.

Por esse relato, sabe-se que a população escrava de Couros era relativamente pequena, que no povoado havia mais homens do que mulheres, e que o número de idosos era bastante alto, comparado com outros locais no mesmo período. Segue um excerto:

“Muito pouco se sabe acerca da população de Couros, o mesmo ocorrendo com a Vila Formosa da Imperatriz e da cidade de Formosa, até o advento dos censos demográficos nacionais, em 1872.

Durante o governo do Vice-Rei, Don José de Almeida Vasconcelos Soveral de Carvalho, o ouvidor, Dr. Antônio José Cabral de Almeida, decidiu que o povoado fosse elevado a “julgado”, pois a lei mandava que para essa regalia fosse outorgada a todo distrito que alcançasse uma pulação de “100 a 200 fogos”, isto é, que tivesse de cem a duzentas casas de residência. Isso ocorreu no ano de 1.772.

Em 1.774, porém, o capitão-general Don José de Vasconcellos, inspecionando diretamente o domínio da Coroa Portuguesa, em Goiás, decidiu que Couros não preenchia os requisitos legais para se constituir em julgado – e ordenou ao ouvidor que transferisse o juizado para Cavalcante, que, então, deveria atender ao que exigia a lei.

Assim, Couros, em 1.774, não deveria ter população que alcançasse quinhentos habitantes: menos de 100 residências. Pode ser que algum evento de peso, uma doença, ou um desastre natural, tenha obrigado os moradores a emigrar, levando à redução da população. Ou simplesmente o ouvidor, Antônio José Cabral de Almeida, tenha tomado a decisão baseado em informações que se revelaram falsas.

Em 1.823, o general Cunha Matos, em viagem de inspeção à Província que acabava de receber para governar, mandou que sua comitiva de soldados realizasse um levantamento em Couros e encontrou a seguinte população, vivendo em 50 casas, apenas na zona urbana:

Total: 1087 habitantes, sendo: homens brancos: 251; homens pardos: 163; homens negros livres: 38; mulheres brancas: 220; mulheres pardas: 191; livres: 38; homens escravos: 108; mulheres escravas: 78; homens até 69 anos: 405; homens de 70 a 79 anos: 11; homens de 80 a 89 anos:12; homens de 90 a 99 anos:6.

Para essa população, pode-se estimar a existência de pouco mais de 200 casas no arraial, estimativa que contradiz o dado fornecido pelo general, que apontava a existência de 50 casas em Couros.  Pode-se supor que os soldados da comitiva do General tenham levantado apenas casas de telha. Ou, talvez, o General tenha, simplesmente, se enganado. A dúvida permanecerá, a não ser que novos documentos sejam descobertos.

Ao lado do espantoso fato de viverem, em Couros, 18 homens com idade superior a 80 anos, algo muito raro naquele tempo, causa estranheza ali viverem apenas 186 escravos, quando o comum era a população escrava ultrapassar a população livre.

Isso pode sugerir que, até a época, não havia grande número de ricos no local, isto é, aqueles que tinham condições de possuir escravos, onde existissem, eram desviados aos garimpos – mas o ouro não era encontrado em Couros.

Na época de Cunha Matos, Couros possuía 39 fazendas de gado e 6 engenhos de açúcar.

Esses fatos observados conduzem À conclusão de que foram pessoas livres que procuraram o para criar gado, e não ricos, com seus escravos, em busca de ouro. Por outro lado, na região, não há sinais de organizados por escravos fugitivos.

O único lugar onde, depois de certa época, sempre predominou a população negra, foi em Flores, ao norte de Formosa. Essa população negra, contudo, não criou o povoado, mas passou a habitá-lo depois que os brancos que o criaram se afastaram, desiludidos com a incidência de doenças e com os parcos resultados comerciais obtidos ali.

Em 1872, foi realizado o primeiro recenseamento geral do país e os arquivos do IBGE guardam os registros de que a Parochia de N. Sra. da Conceição de Formosa da Imperatriz apresentava a seguinte população: Livres: 7,042 almas, sendo 3.535 homens e 3.507 mulheres; Escravos: 218 homens e 193 mulheres; Total geral: 7.453 almas, sendo 193 estrangeiros. Como se constata, a população escrava era diminuta, em relação à população total, o que reforça a hipótese exposta acima.

Digno de nota é o fato de 193 estrangeiros já viverem na cidade, naquele tempo, distante e isolada dos centros urbanos mais impostantes. Pode-se sup0r que, à vista da ausência total de garimpo na região e, consequentemente, da inexistência do comércio de ouro, os estrangeiros devessem, em parte, ser os primeiros comerciantes de fazendas (tecidos, ferragens e alimentos industrializados) a se instalarem em Formosa. “

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foto: acervo http://formosahistorica.blogspot.com.br/

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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