Bolsonaro poderá renunciar

Inominável poderá renunciar

Bolsonaro poderá renunciar

O discurso golpista do presidente Jair Bolsonaro vem de longe. Antecede o próprio mandato. Ele é viúvo da ditadura militar. À medida que as aproximam-se, diante da perspectiva de uma derrota que pode se configurar ainda no primeiro turno, ele enlouquece e, com ele, o círculo dos generais prepotentes que foram se alinhando a sua postura antidemocrática: Augusto Heleno (ministro-chefe do Gabinete de Institucional), Braga Neto (candidato à vice) e Paulo Sérgio Nogueira (ministro da Defesa).

Por Márcio Santilli/via Mídia Ninja

Jair Bolsonaro e seus ‘braços direitos’ oriundos das Forças Armadas: (D-E) Braga Neto (ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente), Augusto Heleno (ministro do Gabinete de Segurança Institucional) e Luiz Eduardo Ramos (ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República). Foto: Alan Santos / PR

Alan Santos PR

O mote golpista tem sido o questionamento do sistema eleitoral e, em particular, da urna eletrônica. Embora não tenha ocorrido nenhuma denúncia de fraude eleitoral em 18 anos de uso dessa , Bolsonaro contesta a lisura do sistema e reivindica o retrocesso ao voto impresso que, historicamente, sempre deixou espaço à fraude. Pois os generais, supostamente racionais, aderiram ao negacionismo eleitoral e ao golpismo presidencial.

Bolsonaro nunca teve compromisso com a verdade. Tudo indica que jamais terá. Mas, para os generais, pega muito mal a postura de se fingirem loucos. Mesmo assim, deram corda para a insanidade do chefe, passando recibo de carrascos da liberdade popular e de oportunistas de plantão.

Meia-volta, volver!
Heleno anda em silêncio. É provável que tenha consciência das mentiras do chefe, mas o seu espírito autoritário o leva a preferir o convívio com o negacionismo a uma eventual conversão democrática tardia. Não se sente ridículo como ministro da de um governo da desinformação, mas prefere sentar na cagada feita e seguir apoiando a maluquice presidencial.

Braga Neto deixou o Ministério da Defesa para assumir a candidatura a vice, lançando-se direto na . Flertando com o golpismo, pode se imaginar como vice-ditador. Mas parece tentar absorver a popularidade minguante de Bolsonaro para levar adiante o de poder do seu grupo militar. Também anda quieto nesses dias e deve ter percebido que Bolsonaro blefou e dançou.

Jair Bolsonaro em cerimônia militar. Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

Clauber Cleber Caetano PR 2

Paulo Sérgio ficou na pior. Vinha pondo as manguinhas de fora, ameaçando a , querendo impor ao TSE uma enxurrada de propostas retardadas para piorar o sistema eleitoral, como a absurda ideia de fazer, paralelamente às urnas eletrônicas, outra em cédulas de papel. Na semana passada, como hóspede de uma reunião de chefes militares das Américas, teve que enfiar a viola no saco e declarar respeito ao regime democrático, princípio básico da das Américas, da qual os países do continente são signatários.

Manifestos contra o golpe
O negacionismo eleitoral levou Bolsonaro ao isolamento extremo após a desastrosa convocação dos embaixadores para contestar a urna eletrônica. Ficaram mal os que andaram flertando com ele, como Paulo Sérgio, forçado a fazer um recuo estratégico. Até o PL, partido do Bolsonaro, procurou o presidente do TSE, Edson Fachin, para expressar a sua confiança na urna eletrônica e no sistema eleitoral.

O que o governo menos esperava foi a erupção de duas iniciativas políticas, dos meios jurídico e empresarial, que convergiram para o lançamento, em 11 de agosto, de dois manifestos em defesa da democracia que já reuniram centenas de milhares de adesões. Embora Bolsonaro ainda persista na intenção de usar as paradas militares de 7 de setembro para escalar um golpe, seus generais já têm uma amostragem do que pode ser o day after de uma eventual quartelada.

Bolsonaro ironizou a adesão ao manifesto dos maiores banqueiros do país, vinculando-a a supostas perdas do setor com o crescimento do PIX. Mas não há como negar que o documento não emana das forças políticas de oposição, mas simboliza o descolamento formal do PIB em relação ao golpismo presidencial.

 

Emparedado
A enxurrada de manifestações em defesa da democracia e das eleições pôs em xeque a opção golpista e confrontou Bolsonaro com o favoritismo de , que se mantém, há 60 dias das eleições, a despeito do uso abusivo da máquina e do orçamento públicos por Bolsonaro.

O pior nas pesquisas eleitorais para Bolsonaro nem é a vantagem de Lula, que pode chegar a 20 milhões de votos, mas a sua própria rejeição por 60% dos eleitores. Mais de 70% deles indicam nomes nas sondagens espontâneas e se dizem decididos. Bolsonaro seguirá, de motociata em motociata, como gado em picadeiro?

O golpe tornou-se impossível e a reversão do cenário de derrota é improvável. A hora da verdade se aproxima para Bolsonaro. Seus aliados no Congresso discutem medidas que possam garantir a sua impunidade, como a absurda proposta de transformar ex-presidentes em senadores vitalícios.

 

É difícil acreditar que, com o seu habitual espírito beligerante, Bolsonaro se exponha à porrada de uma fragorosa derrota eleitoral. Desde que se instituiu a reeleição, todos se reelegeram antes dele. Uma derrota em primeiro turno seria uma pá de cal sobre quaisquer pretensões futuras. O 7 de setembro será a sua última cartada e, então, ele estará à cata de mais pretextos para tumultuar a campanha eleitoral.

Não deve ser descartada a hipótese de Bolsonaro vir a renunciar à candidatura semanas antes do pleito, apelando aos seus seguidores pela abstenção ou anulação dos votos, na tentativa de deslegitimar as eleições e alegar que o vencedor representa a minoria dos eleitores. A essa altura, pode ser essa a sua opção menos pior.

http://xapuri.info/comeca-a-campanha-eleitoral-nos-municipios-hora-de-renovacao/

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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