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Rock in Manaus: Armas e Rosas, Squid n’ Charlote

Rock in : Armas e Rosas, Squid n’ Charlote

Por José Bessa Freire

“Bem-vindo à selva / aqui temos tudo o que você quer”.

 (Welcome to the jungle Guns N’Roses. 1986)

Por José Bessa Freire

É assim que a banda toca. No início, eles tocavam na mesma banda. Depois, brigaram e cada um foi pro seu lado. Passaram anos se bicando até se reconciliarem em nome do bem comum. Isso aconteceu com duas bandas diferentes que recentemente deram shows em Manaus, no coração da selva amazônica. A brasileira Squid N’Chayote se apresentou na quarta-feira (31 de agosto) no Espaço Via Torres. E a americana Guns N’Roses na quinta (1º de setembro) na Arena da Amazônia, cada uma com histórias próprias de rixas internas. 

– Uma banda é como casamento, os Titãs já se divorciaram cinco vezes – revela Tony Belloto. A separação acontece em todas as bandas e se dá em três níveis: integrantes, gêneros musicais e opções políticas. Foi assim com a Guns N’Roses (Armas e Rosas), formada em 1985 com os nomes artísticos do vocalista Axl Rose e do guitarrista Tracii Guns, que se picou. Slash, seu substituto, também se pirulitou. Agora todos se uniram de novo, incluindo o baixista McKagan (por favor sem gracinhas com o aportuguesamento do nome).

Processo similar ocorreu com Squid N’Chayoteassim denominada a partir da combinação de dois nomes artísticos: Squid (vocal) – um tipo de molusco e Chayote (guitarra) – hortaliça rica em água, fibra e flavonoides (seja lá o que isso signifique), que dá um saboroso picolé. Pra quem gosta. Ambos subiram no mesmo palco e tocaram juntos na banda Direct Now (Diretas Já), em 1984. Dois anos depois foram eleitos deputado federal constituinte, se separaram e foram fazer carreira solo.

Reuniram-se uma vez mais em 1989 contra a banda collorida Dinda’s housequando o guitarrista Mário Pits subiu no palco e cantou junto com Squid. Mesmo em lados opostos, Squid condecorou Chayote quatro anos depois com o grau de Grande-Oficial do Mérito Militar. Depois nova separação. Agora, voltam a cantar juntos.

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LULAPALUZA

Os dois shows de Manaus, com públicos diferentes, constituem uma prévia do Festival de música alternativa, criado em 1991 nos Estados Unidos, denominado Lollapalooza, pronunciado na mídia como Lulapaluza, que significa “algo extraordinário, incomum, excepcional”. Ou “uma coisa impressionante e atrativa”.

O domínio do heavy metal exibido por Squidmetaleiro de profissão, foi excepcional. Ele deu um show de rock pauleira para 40 mil pessoas, que cantavam em coro o jingle “Sem Medo de Ser Feliz”, anunciando o brilho no céu de uma estrela, com acenos para a defesa dos . Outro coro foi a toada “Vermelho”, do boi Garantido, gravada por David Assayag, um parintinense filho de marroquino:

– Meu coração é vermelho (hey, hey hey!) / Tudo é garantido após a rosa avermelhar / Vermelhou o curral / O fogo de artifício da vitória avermelhou.

O show, como se diz em amazonês, foi “pra acabar com o açaí”. 

As duas bandas – a brasileira e a americana – fizeram as pazes com o passado, inspiradas no pedagogo “De vez em quando a gente precisa unir os divergentes, para vencer o antagonismo do fascismo”. Chayote, que não compareceu por estar em outro palco da mesma banda no interior de , enviou mensagem.

A Federal do Amazonas (UFAM) estava lá em peso. A repórter Tambaqui entrevistou a professora Elenise Scherer, que definiu o público: “Mulheres grávidas, idosos e idosas, do Distrito Industrial, professores, estudantes, uma diversidade cultural”. A filha de uma idosa cadeirante girava, de forma ritmada, a cadeira da mãe, acompanhada por um pai que balançava um bebê de colo.

A RUA DOS SONHOS

O show do Guns N’Roses na Arena da Amazônia, que durou quase três horas, abriu a turnê atual do grupo no Brasil. Os solos do guitarrista Slash, que foi capa da Time da mesma forma que Lulapaluza, fizeram chorar a repórter Tambaqui no encerramento com Paradise City, especialmente quando a letra pede para ser levado à cidade paradisíaca, onde a grama é verde e as moças são bonitas:

 Take me down to the Paradise City / Where the grass is green and the girls are pretty.

A música If the world assegura que, se o acabasse hoje, todos os nossos sonhos desapareceriam:

 If the world would end today / And all the dreams we had / Would all just drift away.

Uma das músicas parecia até endereçada ao Coiso:

(Don’t try / Don’t try / You’re just a basket case. / And you got no name).

Outra música do show, Street of Dreams, podia ser dirigida aos enganados pelo Coiso:

– O que antes eu achava que era verdade / eram mentiras que eu não podia ver. (What I thought was true before/ Were lies I couldn’t see).

É assim que as bandas tocam: Welcome to the Jungle. Armas e Rosas, e Chuchu: o mesmo combate.

 

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P.S. – Há alguns anos, ministrei curso para professores de Paraty (RJ). Depois do jantar, o grupo passou em frente a uma boate. Decidimos entrar e dançar, eu lá no meio. TODOS cantavam as músicas em inglês, que eu nunca tinha ouvido. – , em que mundo o senhor vive? São hits de heavy metal tocados diariamente nas rádios – me disse a professora Luiza Helena.

Constrangido, desembarquei em outra praia e comecei a cantar Noel Rosa, Clementina de Jesus, Ataulfo Alves, Caetano, Gil, Chico, Violeta Parra, Simón Dias, , Amparo Ochoa. Conto isso para dizer que não entendo bulhufas de heavy metal. As informações aqui foram colhidas com os sobrinhos: Amaro Jr, criador da composição da foto, Silvio Márcio Freire de Alencar Filho, autor da ideia que me mostrou a relação entre os dois eventos e Sérgio Freire. Quem tem sobrinho não morre pagão.

Mas a gente troca conhecimentos. Enquanto os sobrinhos me falam dos Titãs, conto pra eles que tal banda não existiria, se não fosse a fofíssima Heloísa Belloto, historiadora e maior referência em arquivística do Brasil. Ela, a mãe de Tony, nos orientou na organização do arquivo do Museu Amazônico da UFAM. Eterna gratidão. 

 

José Bessa Freire – Professor. Cronista do Blog www.taquiprati.com.br, onde publica, semanalmente, seus belos, irreverentes e profundos textos. 

https://xapuri.info/elizabeth-teixeira-resistente-da-luta-camponesa/

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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