Elina e Lucélia
O belo texto abaixo é da pesquisadora escritora paraense Elina Zavask enviado para a Xapuri 101 via Edel Moraes:
Por Zezé Weiss
ELINA ZAVASK
Chamaram-me mulher e eu olhei! Olhei porque não tinha muito o que fazer naquele momento. Chamaram-me mulher de LUTA e fiquei a pensar o que seria aquilo, pois o pouco que li nas escolas até ali frequentadas não ouvi nomes de mulheres como referência.
Lá, na casa de farinha onde eu passava a maioria do tempo e aprendia ver, ler e escrever o mundo, o trabalho árduo de ralar a mandioca (decepando os dedos no ralo grande), de espremer a mandioca no pano e tirar a puba na lata, o que deixa a mulher quase sem mão, também nunca foi o trabalho mais valorizado.
Sempre vi o homem valorizado, quando ele faz a última etapa da farinha; a torra. Deste modo eu não sabia o que era ser essa nomenclatura: mulher de luta.
Quando cresci eu li no jornal que nós somos um dos países que mais matam mulher no mundo.
Deste modo, é estranho pensar e inaugurar esse lugar de mulher de luta.
Estranho ver o meu corpo, o meu cérebro, a minha narrativa neste lugar!
Pois bem! Por mim, por elas e por todas, saí do sudeste paraense para ocupar e colorir o mundo do meu jeito e no meu tempo, lutando e fazendo poesia. Hoje, quando me chamam mulher de luta, eu respondo: Só um momento, estou indo chamar as nossas.
LUCÉLIA SANTOS
Onde tem luta, tem Lucélia Santos. Quem diria que essa companheira mirradinha, gigante no palco, miudinha na vida real, fosse se tornar uma das mais valorosas militantes das causas socioambientais deste nosso turbulento torrão brasileiro?
Conheço Lucélia há mais de três décadas. Nesse tempo todo, nunca houve uma só vez em que, chamada, ela não se fizesse presente, na linha de frente, na luta contra a violência, a injustiça e a desigualdade social.
Foi assim no Acre de Chico Mendes, antes e depois da morte dele, em defesa dos povos da Floresta. Foi assim na luta pela Anistia, nas Diretas Já e em todas as campanhas do Lula. Foi assim na Vigília Lula Livre. Foi assim, durante a pandemia, com a Campanha SOS Xavante. Lucélia é sempre assim: entra de cabeça em todas as lutas que abraça.
Esse nosso planeta de militância é pleno de companheiras gigantes, de gente que dá o melhor de si, que vai além do que pode para salvar os povos da floresta, os povos indígenas, a Amazônia. Lucélia, com certeza, está no topo de todas as listas.
Zezé Weiss – Jornalista Socioambiental. Texto sobre Lucélia é excerto de depoimento prestado ao jornalista Eduardo Meirelles, para o livro Lucélia Santos – Coragem para Lutar, Editora Telha, 2022.