‘Povos Indígenas no Brasil’: Filme do ISA mostra luta ancestral nos últimos anos

no ‘ convida a um mergulho na luta ancestral dos últimos seis anos

Minidocumentário realizado pelo ISA acompanha lançamento da 13ª edição do livro ‘ Indígenas no Brasil’, com retrato do período entre 2017 e 2022,

Por Mariana Soares/Tainá Aragão – ISA

É na voz de Vanda Witoto e de diversas lideranças indígenas que o minidocumentário Povos Indígenas no Brasil reverencia a viva e coletiva dos mais de 260 povos que habitam no país. Parte do lançamento do livro Povos Indígenas no Brasil 2017-2022, o filme é uma realização do Instituto Socioambiental (ISA).

Com 16 minutos de duração, o filme expande a narrativa do livro com fortes depoimentos e imagens que ilustram a beleza da diversidade indígena brasileira e as injustificáveis violências sofridas pelas comunidades. Além do filme, também será lançado um especial em áudio do Copiô, Parente, podcast do ISA sobre povos indígenas e povos tradicionais da , apresentado por Ester Cezar e Helder Rabelo.

 
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Mauricio Ye’kwana, diretor da Hutukara Associação Yanomami/ISA

A série de materiais evidencia a importância  da luta dos  dos povos indígenas para se colocarem no mapa e na linha histórica do Brasil, como aponta Maurício Ye’kwana, liderança do povo Ye’kwana e diretor da Hutukara Associação Yanomami em um dos depoimentos: “O povo brasileiro esqueceu quem são os povos indígenas e sua riqueza. Não sabem que há povos indígenas, e o grande valor que tem nisso”, afirmou.

O conjunto de materiais destaca ainda as violências e silenciamentos enfrentados no período, um dos mais desafiadores para o Brasil Indígena, marcado sobretudo por ameaças territoriais, impactos da Covid-19 e intensas violações de direitos e retrocessos. É o que aponta Vanda Witoto, técnica em enfermagem, educadora e liderança do povo Witoto. “A gente fala que, realmente, nós vivenciamos dois vírus durante a pandemia: além da Covid, tivemos que lidar com o descaso dos governantes do nosso país.

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Vanda Witoto, liderança Witoto do e narradora do minidoc/ISA

Em sintonia com o livro, o filme registra também a importância dos povos indígenas para a manutenção e proteção das no Brasil. Estudo do ISA revelou que a presença de povos indígenas amplia a proteção dos territórios e promove o aumento da biodiversidade e a recuperação de áreas degradadas.

O minidocumentário Povos Indígenas no Brasil demarca ainda a necessidade de proteção dos territórios de povos indígenas isolados no Brasil, país com o maior registro de isolados no mundo, com mais de 100 povos. “Não tem como separar essa existência do território da nossa existência enquanto povo. Ela está interligada. Se você não garante o território, você não está garantido a vida das pessoas”, explica Angela Kaxuyana, liderança da Terra Indígena Kaxuyana-Tunayana.

Atualmente, existem 732 terras indígenas em diferentes fases de reconhecimento, das quais apenas 491 possuem concluída.

 
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Angela Kaxuyana, liderança da Terra Indígena Kaxuyana-Tunayana (PA)/ISA

Lar de mais de 1,5 milhão de pessoas indígenas, o Brasil ainda falha na proteção de seus povos originários. No contexto de intensificação dos ataques e retrocessos, o período foi determinante para fortalecer a luta indígena – destaque para as lideranças femininas. Em 2019, por exemplo, a primeira Marcha das Mulheres Indígenas levou 2.500 representantes de 130 povos às ruas de Brasília para reivindicar respeito aos seus territórios, corpos e espíritos.

“Eu posso estar na cidade, eu posso estar estudando na cidade, mas minha memória, minha língua, minha infância, tudo está ali, baseado na aldeia, na nossa comunidade, no nosso povo. Então, nossa história existe, está viva, e é exatamente por isso que a gente defende tanto a nossa terra”, diz Maial Paiakan, ativista kayapó e do Instituto Paiakan.

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Maial Paiakan, liderança da Terra Indígena Kayapó (PA)/Kamikiá Kisêdjê

Povos Indígenas no Brasil 2017-2022

Criada na década de 1980 pelo Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI), organização que deu origem ao ISA, a publicação Povos Indígenas no Brasil nasceu para dar visibilidade  aos  povos indígenas e à devastação de seus territórios, pouco conhecida na época, até mesmo pelos especialistas. 

Foi estabelecendo contato com pessoas que tinham relações diretas com as comunidades indígenas que o CEDI conseguiu criar uma extensa rede de colaboradores para contribuir com o monitoramento e estabelecer o documento como uma ferramenta essencial para trazer visibilidade à luta dos povos indígenas.

A edição mais recente, Povos Indígenas no Brasil 2017-2022, publicada pelo ISA mostra em suas mais de 700 páginas que o Brasil indígena é uma história contemporânea que continua emergente, sendo vivida, escrita e recriada cotidianamente.

Assista aqui!

Mariana Soares/Tainá Aragão – Jornalistas. Fonte: ISA . Foto: Katie Mähler/Apib. Este artigo não representa necessariamente a opinião da e é de responsabilidade das autoras. 


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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