PL do licenciamento restringe responsabilidade de bancos pelos danos ambientais gerados por seus financiamentos

PL do licenciamento restringe responsabilidade de bancos pelos danos ambientais gerados por seus financiamentos

Entidades alertam que esse “jabuti” bate de frente com a legislação federal e ampliará danos à e ao .

Por Aldem Bourscheit/ O Eco

Aprovada na Câmara e tramitando no Senado, uma proposta legislativa que enfraquece o licenciamento ambiental também limita a responsabilização de bancos sobre danos ambientais oriundos de seus financiamentos.

Um artigo do projeto de lei 2159/2021 restringe a reparação desses prejuízos só aos casos em que as instituições financeiras não pedirem a licença ambiental do empreendimento ou atividade alvo do aporte de dinheiro.

Na prática, isso pode fazer com que bancos sigam injetando recursos em negócios de baixo desempenho ambiental, prejudicando a conservação da e o equilíbrio climático.

Por isso, a Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de Meio Ambiente (Abrampa) afirma que esse “jabuti”, tema estranho ao texto sobre licenciamento, bate de frente com a e legislação federais.

“Não basta observar se requisitos prévios ao licenciamento ambiental foram atendidos, resultando na concessão de uma licença válida. É necessária uma análise mais alargada e prognóstica do projeto”, destaca em nota a entidade.

Difundindo parâmetros para classificar riscos ambientais de investimentos, a ong Associação Soluções Inclusivas Sustentáveis (SIS) pondera que o licenciamento “é uma ínfima parcela da responsabilidade” das empresas.

Após obter a licença, é preciso cumprir as condicionantes previstas e outras normas, como as legislações de crimes ambientais, trabalhista, florestal, de recursos hídricos e das .

“As instituições bancárias estão claramente financiando atividades que causam danos ambientais com sua omissão ou até conscientemente, e por isso querem fugir à responsabilização”, traz uma análise da entidade civil.

Todavia, a Abrampa diz que responsabilizar bancos tem amparo na Nacional do Meio Ambiente, em decisões do Supremo Tribunal Federal, resoluções do Banco Central e no Acordo de Paris sobre clima.

Conforme a Associação, essas diretrizes não só zelam pela proteção do meio ambiente como também proporcionam um “ambiente de negócios mais confiável”, tanto no quanto internacionalmente.

“O artigo 54 do projeto se encontra na contramão da lógica exarada pelos órgãos reguladores do setor financeiro e bancário no que diz respeito aos deveres das instituições na concessão de crédito”, conclui a Abrampa.

Apesar de ter peso legal e técnico, assegurar uma responsabilização ambiental mínima de instituições financeiras é ameaçado por um forte lobby no denuncia a SIS.

Conforme a organização civil, o setor defende que isentá-lo de arcar com estragos socioambientais de seus financiamentos é indispensável para “desburocratizar a concessão de crédito”.

Isso pode injetar ainda mais recursos em empreendimentos e atividades causadoras de desmatamento – a violação ambiental mais comum no Brasil –, ampliando danos à e a populações humanas.

“As instituições bancárias não consultam a maioria das bases de dados públicas disponíveis com informações ambientais e, mesmo quando consultam, não há evidências de que isso efetivamente gere mitigação dos riscos ou, em casos extremos, negativa de crédito”, afirma a SIS.
O projeto de lei tramita na Comissão de Meio Ambiente do Senado, com relatório favorável de Confúcio Moura (MDB-RO). Depois, segue à Comissão de , onde a relatoria deve ser de Tereza Cristina (PP-MS).

Aldem Bourscheit Biólogo e Jornalista. Fonte: O Eco. Foto de capa: Raphael Ribeiro/Bacen.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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