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CARAMELO: O CAVALO-SÍMBOLO DA RESISTÊNCIA 

CARAMELO: O CAVALO-SÍMBOLO DA RESISTÊNCIA 

CARAMELO: O CAVALO-SÍMBOLO DA RESISTÊNCIA 

Quatro dias em pé em cima de um telhado cercado por água. Sem comida. Sem água. E o cavalo Caramelo ali, firme, se equilibrando bravamente em suas quatro patas. 

Por Eduardo Pereira

Assim que as imagens daquele ilhado começaram a circular e ganhou projeção a história do cavalo ali, parado, no topo das águas em Canoas, no , Caramelo tornou-se símbolo de resistência no e no mundo.

Em meio a uma tragédia ambiental sem precedentes, engatilhada pelas mudanças climáticas, sua serenidade estoica conquistou nossos corações, e uma nação inteira passou a torcer por ele. 

Após uma mobilização intensa de pessoas pelas e fisicamente, para alívio e alegria de milhares que acompanhavam sua odisseia, Caramelo foi resgatado pelo Corpo de de São Paulo, acompanhado por uma equipe de veterinários e veterinárias. 

Em uma ação heroica, ele foi sedado e colocado dentro de um bote, pacificamente. Após serem constatados um quadro de desidratação e algumas pequenas lesões musculares, para a felicidade geral do brasileiro, Caramelo passa bem e está sendo cuidado com muito amor no Hospital Veterinário da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), também em Canoas.

Enquanto se recupera, Caramelo vem sendo disputado por pelo menos dez pessoas, que se dizem donas dele, e por uma imensidade de outras pessoas interessadas em adotá-lo. Quem ficará com Caramelo? Que seja uma pessoa cuidadosa e amorosa, que possa amá-lo como cada qual de nós o amamos hoje.

O mais importante, entretanto, é que este singelo cavalo gaúcho, que emocionou nossos corações e mentes com sua resiliência icônica, nos ajude também a compreender que as mudanças climáticas, de fato, chegaram e que nossa presença enquanto espécie humana no vai exigir de nós, cada vez mais, novos hábitos e novos comportamentos de respeito à

Que o exemplo de resistência de Caramelo nos faça ter mais respeito pela natureza, para que o mundo não tenha que passar por essas tremendas catástrofes climáticas, para que a população e não precisem sofrer as consequências dos posicionamentos negacionistas dos seus governos.  

Eduardo PereiraSociólogo. 

 

 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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