O mito da onça-boi
Genésio Xavier Torres, servente do Tribunal de Apelação do Rio Grande do Norte, andou, muitos anos, pelos rios da Amazônia e Acre, tirando seringa, cortando caucho e apanhando castanhas
Por Luís da Câmara Cascudo
Afirma-se que a onça-boi é o animal mais temido pelos caçadores, e sua existência está, diz ele, fora de qualquer dúvida.
É uma onça-pintada, com a peculiaridade de possuir patas como o boi, patas redondas, cascos fortes que deixam rastro inconfundível.
Naquelas paragens não há gado que justifique a pegada.
A onça-boi anda sempre casalada e nisso reside o perigo. O caçador perseguido pela onça-boi estará perdido se não a puder matar imediatamente.
Como os cascos não permitem a subida nas árvores, elas ficam, dias e noites, vigiando o caçador que, procurando salvar-se, empoleirou-se num galho.
Quando uma das onças está com fome, retira-se, e a companheira permanece de sentinela. Essa vigia alternada esgota as forças do homem que termina caindo exausto da árvore e sendo devorado.
Todos os caçadores contam a mesma estória.
No acampamento número 23, perto da boca do rio Abunã, no Madeira, a turma de caçadores encarregada de prover de alimentos da mata os trabalhadores, vez por outra, encontravam-se com o rastro redondo das onças-boi.
E apesar de ser constituída por homens veteranos de caça e pesca, mateiros com 20 anos de floresta, nenhum ousava “entrar”, no pavor do encontro terrível.
O senhor Francisco Peres de Lima (Folclore Acreano, p.107, Rio de Janeiro, 1938) escreve sobre a onça-pé-de-boi:
“Esse animal sai do círculo dos bichos fabulosos e imaginários, porque de fato existe.”
Não discutamos…
Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) – Folclorista brasileiro, em Geografia dos Mitos Brasileiros, Editora Global, 2001. Capa: Divulgação