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Tupi-Mondé: Desmatamento ilegal recorde em Terras Indígenas

Monitoramento mostra desmate ilegal recorde no Corredor do -Mondé

Área equivalente a mais de 1,7 mil campos de futebol foi ilegalmente desmatada em entre Rondônia e Mato Grosso. Garimpo, pastagens e extração de madeira para venda lideram o ciclo de destruição. Os dados foram extraídos de uma plataforma internacional e gratuita de monitoramento.

Tecnologia de ponta e colaboração coletiva na troca e checagem de informações são a base do aplicativo Global Forest Watch (GFW), concebido pelo World Resources Institute (WRI) para o monitoramento de florestas e emissão de alertas diante de ameaças importantes. A ferramenta funciona em todo o e, no Brasil, tem permitido acompanhar o desmatamento no Corredor Tupi-Mondé, área de grande pressão, situada entre Rondônia e Mato Grosso.

Imagens de satélite, dados abertos e informações fornecidas pela população local permitem mapear onde o desmate acontece na região, suas causas e agentes. “O ganho dessa metodologia é a precisão conferida pelo olhar de quem está no local. Utilizamos imagens dos satélites Landsat e Sentinel, disponibilizadas pela Agência Especial Europeia (ESA), para fazer um primeiro mapeamento e, em seguida, validamos com as lideranças indígenas locais, que ainda ajudam a identificar quem está desmatando e por quê”, explica Pedro Soares, gerente do Programa de do Instituto de Conservação e da (Idesam), que capitaneia a iniciativa, juntamente com a Equipe de Conservação da Amazônia (Ecam), a Gamebey — Associação Metaleirá do Indígena Suruí e a Kanindé — Associação de Defesa Etnoambiental.

As informações coletadas vão subsidiar o Boletim do Desmatamento do Tupi-Mondé, de periodicidade semestral. A primeira edição já está em circulação e analisa dados coletados entre janeiro e julho de 2017.

Nesse período, a região perdeu cerca de 1,2 mil hectares de , o equivalente a mais de 1,7 mil campos de futebol. A destruição segue um ciclo já bem estabelecido. “Primeiro, vêm o corte ilegal de madeira e as atividades mineradoras de ouro ou diamante, que são de grande liquidez. O dinheiro arrecadado subsidia, mais tarde, atividades de pecuária e agricultura. Em alguns territórios, os indígenas participam, frequentemente como mão de obra, como no caso da mineração”, afirma Soares.

De acordo com ele, a perda de floresta no período atingiu as mais altas taxas já registradas na região e, no entanto, há uma ausência crônica de fiscalização. O Corredor Tupi-Mondé possui uma área total de 3,5 milhões de hectares, divididos em sete Territórios Indígenas, que abrigam 6 mil habitantes das etnias Cinta Larga, Zoró, Paiter Surui, Gavião e Arara. Ele está situado no meio do arco do desmatamento da Amazônia e integra um importante corredor florestal de grande biodiversidade.

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ANOTE AÍ:

Mondé é uma indígena do tronco Tupi falando por várias nações indígenas da Amazônia.

Esta matéria nos foi gentilmente cedida pela P&B Comunicação

Pedro Soares está disponível para entrevistas.

Para receber o Boletim do Desmatamento, responda enviando nome, telefone e o e-mail para onde a publicação deve ser enviada.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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