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O CAUSO DO MILAGROSO FINADO MANOEL

O causo do milagroso finado Manoel

Existência dolorosa, morte trágica, aura mítica e fama de milagroso

Por José Gil Barbosa Terceiro /Causos Assustadores do Piauí 

MANOEL ALVES DE OLIVEIRA nasceu na zona rural da cidade de Altos em 23 de setembro de 1951, sendo filho de Jacob Francisco de Oliveira e de Inês Alves do Nascimento. Quando vivo morava na região do Bairro Bacurizeiro, na zona urbana de sua cidade natal, mas frequentava sempre regiões rurais próximas. Era um homem muito amigo e  inteligente, e, apesar de não ter estudado muito, demonstrava enorme conhecimento nato nas ciências exatas, em especial a matemática.

Apesar disso, foi muito discriminado em vida, tendo sido vítima de enorme preconceito do povo da sua cidade. O jovem era enfermo, sendo portador de epilepsia, uma doença que lhe fazia ser acometido por graves crises convulsivas. Segundo pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) o distúrbio afeta cerca de 4 milhões de pessoas apenas no Brasil – aproximadamente 2% da população.

A doença, que é uma alteração na atividade elétrica do cérebro, temporária e reversível, produz manifestações motoras, sensitivas, sensoriais, psíquicas ou neurovegetativas.

Até existem epilepsias sem manifestação de crise convulsiva, mas, quando ocorrem convulsões, é muito comum que a  alteração elétrica no cérebro faça a pessoa perder a consciência e agir como se estivesse levando choques elétricos por todo o corpo.

O excesso de atividade elétrica, causa, também,  uma produção excessiva de saliva, fazendo com que a pessoa fique babando durante as crises.

Nos dias de hoje, a doença é facilmente controlada com o auxílio de medicamentos em pelo menos 80% dos casos, e, após alguns anos sem as crises, a pessoa pode até mesmo deixar de tomar os medicamentos e levar uma vida normal.

Em tempos passados, contudo, a medicina não tinha os recursos que tem hoje em dia, e, no mais das vezes, as pessoas passavam a vida inteira apresentando tais crises.

Hoje em dia, sabe-se que a doença, no mais das vezes, é causada por uma lesão no cérebro, que causa algum dano às conexões entre os neurônios, de modo que o mal não é contagioso, não havendo nenhum perigo de contágio às pessoas próximas.

Nem mesmo as faculdades mentais e a capacidade de raciocínio são  comprometidas. Isso, contudo, é uma realidade bem recente, fruto do avanço da , do aumento da escolaridade das pessoas, e do aumento do acesso à .

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No entanto, em eras passadas, a doença era alvo de muita especulação, pois não se conheciam as suas causas ou elas não eram bem explicadas e/ou divulgadas, fazendo com que o povo, por meio de preconceitos, buscasse explicar o problema. E isso, quase sempre, era muio difícil para o doente.

Em artigo intitulado “Percepção de estigma na Epilepsia”, a psicóloga Paula Teixeira Fernandes  o médico Li Min Li (2006) explicam bem o estigma por trás da epilepsia, e os efeitos sociais, psicológicos e econômicos do preconceito para o doente:

O estigma na epilepsia inicia-se já com a de seu nome, pois epilepsia é uma palavra de origem grega que significa ser invadido, dominado ou possuído. Com isso, podemos ter uma explicação mágica, sobrenatural, associada com possessão por espíritos divinos ou malignos.

Registros da antiguidade mostram que o estigma na epilepsia não é uma questão recente. Já nos anos 2000 a.C., as pedras babilônicas possuíam descrições de algumas manifestações clínicas que hoje podem ser caracterizadas como crises epilépticas.

Desde aquela época, o preconceito existia: os escravos podiam ser devolvidos e contrato rescindido se a pessoa apresentasse crises no prazo de um mês depois de sua contratação. Até 1970, em alguns países do mundo, como Reino Unido, as pessoas com epilepsia eram proibidas de se casarem.

Na Bíblia, também aparecem passagens que falam da epilepsia. Em São Marcos, capítulo IX, versículos 13 a 28, aparece uma parábola onde Jesus expulsa o demônio do corpo de um menino, que apresentava convulsões, com prece e orações. (…)

Na epilepsia, o estigma tem sido considerado um dos mais significativos fatores que influenciam negativamente a vida diária do paciente e sua família. Na epilepsia, o estigma afeta as pessoas de diferentes maneiras, podendo influenciar as relações sociais, as oportunidades escolares e de emprego e os aspectos emocionais.

Alguns autores falam que a epilepsia é uma condição estigmatizante, pois as pessoas não se adequam às normas sociais devido às crises imprevisíveis, muitas vezes de natureza dramática. Com isso, a tem medo de lidar com uma pessoa tendo crise epiléptica.

Em 1972, Bagley dizia que a persistência das teorias que consideram a epilepsia como maléfica e estigmatizante são baseadas no “terror anônimo”, no qual as pessoas com crise fazem exatamente o que outras temem fazer: perder o controle e retroceder a um estado mais primitivo de existência.

Anos mais tarde, Ablon complementa os achados de Goffman, dizendo que os sintomas da epilepsia afetam os valores da sociedade, pois estes prezam o controle e a previsibilidade das situações, o que não ocorre na epilepsia.

Diiorio et al. acrescentam que a epilepsia é uma condição propensa ao estigma por causa do não controle das crises, o que gera medo e inquietação.

Devido ao caráter inesperado das crises, a epilepsia sempre possuiu um caráter místico, dependente de interferências sobrenaturais, sendo conhecida como o “mal ”. Por causa de sua incerteza clínica e do seu significado social, o impacto da epilepsia da vida das pessoas é muito significativo.

Desde o diagnóstico da epilepsia, aparecem mudanças mudança na percepção e no grau de controle da pessoa. A partir dele, surgem dúvidas e questionamentos, que quando não respondidos, elevam a ansiedade e o stress, propiciando medo e confusão.

Aparece o medo de ser diferente, a preocupação quanto ao futuro, acompanhados da dificuldade para se inserir na comunidade, para conseguir um emprego ou formar uma família, causando problemas no e na autonomia da pessoa. (…)

Com isso, existe uma percepção negativa da epilepsia que, junto com o estigma associado, é legitimada pelas pessoas com epilepsia. A epilepsia passa a significar perdas em diferentes áreas, tais como: física, , emprego, relações sociais e familiares. Auto-estima e auto-confiança também são afetadas, contribuindo para uma diminuição da qualidade de vida.

Quando a pessoa se vê como “epiléptica”, um mundo de significados e crenças é ativado, influenciando negativamente seu ajustamento psico-social. Como resultado, a não aceitação ou a rejeição do diagnóstico de epilepsia passa a ser a maneira mais simples e rápida encontrada pelos pacientes neste primeiro momento.

O medo e a vergonha passam a ser comuns na convivência diária com a epilepsia. Por causa da percepção do preconceito, os pacientes com epilepsia, na tentativa de se sentirem “normais”, escondem seu diagnóstico e sua condição.

Por sentirem sua identidade ameaçada, encontram formas de controlar a informação sobre sua condição: ou escondem o que tem ou usam termos mais suaves para a descreverem. O segredo passa a ser peça fundamental na adaptação destas pessoas, e o esforço que fazem para manter esta informação em segredo é proporcional à intensidade do estigma percebido.

Além disso, para uma pessoa sentir-se estigmatizada é necessário que ela acredite nas idéias inadequadas da comunidade.

Muitas pessoas não se sentem mais capazes para lidar com esta situação, o que produz alterações comportamentais (vergonha, insegurança, isolamento) e maiores dificuldades de ajustamento psico-social. A partir daí, desenvolvem características negativas, que acreditam ser reais e que, segundo Scambler & Hopkins, reduzem as oportunidades.

Tudo isso influencia negativamente sua qualidade de vida e reforça o estigma existente, gerando possibilidades maiores de ansiedade e depressão e baixos níveis de auto-estima e autoconfiança.

Além disso, ainda nos dias de hoje, é comum encontrarmos lacunas no conhecimento sobre epilepsia. Alguns pacientes ainda acreditam que as crises representam um tipo de maldição ou aflição espiritual. Outros parecem ter sensações diferentes durante as crises que ocultam para seus médicos e outros profissionais envolvidos, por causa do receio de serem considerados “loucos”.

Com estas informações inadequadas, aparecem as atitudes negativas perante a epilepsia, que são tidas como um fenômeno comum no mundo todo, sendo considerado o maior causador de discriminação social contra as pessoas com epilepsia.

Devido ao preconceito e às atitudes negativas, as pessoas com epilepsia tendem a enfrentar problemas psico-sociais, como medo, vergonha, isolamento social, dificuldades nos relacionamentos sociais, restrição de atividades, entre outros.

A partir daí, o paciente deixa de se inserir na sociedade, pois não consegue um emprego, não se sente aceito e tem dificuldades para formar uma família. Por esta razão, além de exigir uma adaptação a um novo estilo de vida, a epilepsia também exige uma redefinição de identidade das pessoas.

Mesmo com todos os avanços sociais e científicos, o preconceito aos epilépticos ainda é muito grande. Empresas deixam de contratar pessoas acometidas do mal para trabalhar e escolas recusam receber alunos com epilepsia. A própria sociedade os rejeita, teme e chegam a sentir nojo.

Na época em que Manoel era vivo, isso, contudo, era bem pior. As pessoas que o cercavam tinham medo de sua doença. O evitavam. Sentiam nojo dele. Até mesmo os familiares separavam para ele lençóis, copos, colheres e talheres.  Ninguém podia usar as mesmas coisas que ele.

Temiam ser contaminados pela sua doença. O perigo maior era durante as crises: a baba provocada pelo excesso de saliva produzida era tida como contaminada, contagiosa. Qualquer um que o socorresse durante as crises poderia ser contaminado e passar a ser portador da doença.

Isso fez com que Manoel vivesse a maior parte da vida em verdadeiro isolamento social. Nunca participava de eventos sociais, onde houvesse muita gente. Além da família, interagia com muito pouca  gente. Em toda a sua vida, só namorou uma moça. E por pouco tempo. Uma façanha, tendo em conta a imagem que o povo de sua época tinha dele.

Um dia, Manoel passou mal. Foi levado às pressas para ser internado em um  hospital na vizinha cidade de Campo Maior. Manoel faleceu em 22 de Outubro de 1977, aos 26 anos. O médico não soube explicar muito bem a causa.

Talvez nem ele soubesse. Apenas recomendou à família que não velasse o corpo. Manoel deveria ser enterrado de imediato. Trouxeram-no do hospital envolto em uma rede no carro de um homem já falecido de nome Rui, da família Miranda, e levaram-no ao Cemitério da Localidade Soturno, onde o sepultaram.

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Devido à existência sofrida, familiares e conhecidos, e depois também pessoas desconhecidas, começaram a recorrer à de Manoel, fazendo preces e promessas, por considerá-lo um mártir santificado pela existência dolorosa, e o fim trágico. O sepultamento envolto em mistério, sem velório, só ajudou a criar um clima de muita especulação, contribuindo para uma aura mítica em torno de seu nome.

Hoje são muitos os que recorrem à sua alma, e dizem ser ele milagroso, sendo muitos os relatos de fé e devoção onde pessoas efetuam promessas com o fim de alcançar graças com sua ajuda, e, de fato alcançam, de modo que os devotos em agradecimento, acendem velas e efetuam orações dedicadas ao finado Manoel.

Sua sobrinha Socorro afirma que por vezes o tio já se comunicou com ela. Quando mais moça, estava envolvida com um rapaz e um dia recebeu de uma pessoa que não quis revelar (a tal pessoa não gosta que os outros saibam de seu dom), mas que mora na cidade de Altos, uma psicografada onde o tio dizia a ela que não devia insistir na relação, pois o moço não estava destinado a ela.

À época, não acreditou naquilo. Mais tarde engravidou e foi marcada a data do casamento com o tal rapaz. Resultado: Socorro foi abandonada na porta da igreja, onde ficou esperando o noivo que não apareceu.  Teve de encarar uma dura realidade: teria de criar o filho que carregava na barriga sozinha.

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Foram tempos difíceis. Estava grávida de quatro meses e não tinha um companheiro. A família lhe dizia coisas muito duras. Nessa época, recebeu uma outra carta do tio, onde lhe dizia que não se preocupasse, que tudo iria dar certo.

A carta lhe revelava que o parto ia ser cesariano, mas que tudo correria bem, e dizia ainda o sexo da criança que iria nascer (o que nem as ultrassonografias haviam lhe revelado): um menino. De fato, assim foi, o parto, embora cesariano, foi tranquilo, e o menino foi batizado como Lucas.

Quando Lucas tinha 10 anos, Socorro foi morar com o filho na casa de uma irmã em Guarulhos, São Paulo, onde haviam lhe arrumado um emprego, o que poderia lhe ajudar a cuidar do filho. Um dia, como tudo chega ao fim, o contrato de trabalho foi encerrado. Quando se aproximava o dia em que receberia a última parcela, já começava a se preocupar por não arrumar novo trabalho.

Não queria ficar na casa da irmã, dependendo economicamente dela. Aflita, resolveu fazer uma prece pedindo ajuda ao tio. Nesse momento, de imediato, ouviu em sua mente a voz do tio: “Vá na Marisa!” Dirigiu-se à loja, e, lá chegando, havia uma vaga em aberto onde seu currículo se encaixava perfeitamente. Começou a trabalhar no outro dia.

Socorro disse que por diversas vezes se apegou com seu tio, e continua se apegando até hoje, sendo sempre valida, tendo alcançado, já, muitas graças. Contou ainda que em uma das cartas o tio lhe revelara outro detalhe futuro: ainda conheceria o homem da sua vida, com quem casaria, e que assumiria como pai, o filho que tinha, e que seria novamente mãe. O primeiro contato com o amado seria através de “meios de comunicação”. 

De fato, um dia conheceu aquele que viria a ser seu marido, tendo sido o primeiro contato por telefone. Ao contrair núpcias, o esposo registrou o filho mais velho, Lucas, como sendo seu filho. Este também trouxe para seu convívio um filho. Da união do casal, nasceu apenas uma criança, que veio a ser batizado como Manoel, em homenagem ao tio que tanto lhe ajudou.

Segundo ela, o menino seria também uma graça do tio. Ela já tinha Lucas e o marido também tinha um filho, mas queria muito ter um filho do amado. Começava a sentir os efeitos da maturidade, sua fertilidade começava a se esvair, e, vivendo há algum tempo com o esposo, nunca tinha engravidado. Um dia recorreu ao tio e disse que s engravidasse, batizaria a criança com o nome do finado. Para sua surpresa, em pouco tempo viu-se grávida.

Outros parentes teriam alcançado graças, recorrendo ao tio em momentos de doença, tendo sido todos agraciados com a saúde restabelecida em pouco tempo. O filho de um primo teria adoecido de um olho, e o médico já dizia que seria necessária uma cirurgia. No entanto, quando os pais do menino recorreram ao finado, o olho do menino melhorou milagrosamente, sem que fosse necessária qualquer cirurgia.

Um vizinho de sua mãe, também teria sido agraciado pelos milagres do tio. O filho do homem teria sido injustamente acusado de homicídio, sendo preso e processado. O pai, desesperado, se apegou com a alma de Manoel, pedindo que intercedesse em favor de seu filho. Em pouco tempo, a inocência do rapaz foi provada e este foi posto em liberdade, tendo sido preso o verdadeiro culpado.

São muitas as histórias de pessoas que alcançaram graças milagrosas recorrendo à ajuda do finado Manoel, tanto na zona urbana de Altos, quanto moradores de regiões rurais próximas do cemitério onde está sepultado, na Localidade Soturno. Os devotos agraciados, geralmente pagam as promessas com orações e velas, em visita ao túmulo do finado.

A fama de sua alma milagrosa, inclusive, chegou a mim através do pesquisador altoense, Carlos Alberto Dias, que foi quem me recomendou que procurasse Socorro, que, por sua vez, me contou a do tio, um homem tão santo que, mesmo tendo sofrido tanto preconceito em vida, após a morte passou a socorrer ao povo da cidade que tanto lhe discriminou.

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REFERÊNCIAS:

  • FERNANDES, Paula Teixeira. Percepção de estigma na epilepsia. Journal of Epilepsy and Clinical Neurophysiology. vol. 12. nº 4. Porto Alegre: 2006. ISSN 1980-5365. Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-26492006000700005>. Acesso em: 17 jan. 2019.
  • FERREIRA, Maria do Socorro Alves. Entrevista a José Gil Barbosa Terceiro. Altos, 27 de dezembro de 2018.

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL DE MARIA DO SOCORRO ALVES FERREIRA

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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