O homem, o padre e o Filósofo

O homem, o padre e o Filósofo

Por: Joacir S. d’Abadia

Um dia, nas andanças de minha , cruzaram meu caminho três pessoas: um homem, um padre e um filósofo.

Olhei fixamente para cada um deles. Na verdade, soube antes de encontrá-los que os encontraria. O momento que eu vivia era um tanto delicado. Meio que minha fé estava sendo testada ou ainda minha crença, sei lá!

Tristeza, angústia, aperto no peito, desapontamento e tantos outros sentimentos envolvidos no período que antecedera ao encontro. E então o mesmo se deu sem grandes alardes e o olhar fixado que eu lançara a eles me mostrou um pouquinho sobre cada um:

_ O homem era franzino, estatura mediana, semi-calvo na parte frontal da cabeça, sorriso contagiante, meio tímido, porém, nada de timedez, modesto e grande em sua pequenez;

_ O Padre. Ah, o Padre! O Padre era audacioso, meio místico se posso dizer assim. Dotado de grande firmeza e apesar da aparência juvenil de Padre, ele se mostrava um ancião pronto para dar o sermão e certo que as coisas vão acontecer assim conforme sua direção. Delegava e cobrava os resultados sempre embasado na fé, no apreço e na de um grupo e sem coação. Ele sabia que as coisas seguiam assim: o orgulho cai e a fé se mostra na missão;

_ O Filósofo…. O Filósofo, meu Deus do Céu! Perdoe-me, Pai Amado! Pois dos três que eu encontrei, esse caiu no meu agrado. Não que o Homem não me agradaste e o Padre também não, mas é que o Filósofo, minha gente, mexeu com minha emoção; despertou sonhos antigos; vontade do bem fazer; escrever enquanto grande, para os pequenos poderem ler; falar de Deus e na escrita também falar de política. E de uma forma coerente falar de tudo que vier na mente que filósofo excita.

É uma pena, minha gente! E o pior: é difícil compreender que essas três pessoas que encontrei, na verdade, é uma só: Padre Joacir d’Abadia. Confesso que não sei se o Padre é o homem, se o Joacir é o padre ou se o d’Abadia seja o Filósofo. Contudo, tenho uma certeza: encontrei três seres em uma única pessoa.

1. Quem é o homem?

… E, ao permitir que meus dedos deslisassem por aquele teclado luminoso, comecei ainda que muito retraído, a tecer este melindroso. E, na audácia de tentar responder a pergunta desafiadora, me perguntei novamente:

_ Quem é o homem?
Cuidadosamente, tremendo por dentro e por fora, com tantas referências de outrora, ia escrevendo com extrema cautela. Cautela! Essa palavra que de certa forma inibe e atormenta, martelando de lá e de cá e me fazendo lembrar que homem é sempre um tormento e quase que não me aguento e me deixando atormentar volta à tona a pergunta que me faz repensar:

_ Quem é o homem nessa tríade? Melhor seria deixar sem resposta. Mas há a necessidade do falar! Eu posso falar do homem que vejo… Ou do homem que lá está.

Melhor recorrer ao Padre pra ele me orientar! E, após uma direção, posso até pedir o filófoso para na resposta me ajudar!

Não obtive resposta naqueles onde eu imaginava encontrar, pois para a pergunta feita é la no íntimo de cada um que a resposta está. Como assim se ele já é homem feito, com qualidades e defeitos porque é difícil falar? Quem é o homem? A essa altura a pergunta já chega a importunar.

… E na facilidade encontrada e saída de dentro de mim… Não foi difícil dizer quem era o homem, enfim. Sua , sua essência, vida de fé e aparência. De aluno a , dissabores e predileções.

Aqui eu queria me silenciar, porém, lá dentro algo falava em mim. Palavras as quais recuavam como que andorinha voando, fazendo voos rasos e com isso em apenas em um relance eu comecei a imaginar!

– Quem é o homem, então? Eu fui descobrindo que o homem é um homem com tudo aquilo que ele tem. E mas ainda o que eu pudesse imaginar!

Quando perguntado quem é o homem me veio tantas coisas em mente. Contudo, nada parecia ser o que realmente era aquele homem minha gente. E ainda mais, oxalá fosse mesmo!

Ei!
… E essa somatória com certeza causa muita inquietação, quem é o homem na tríade com tantas qualificações, tão jovem e também tão velho. Carregando o fardo arrojado do peso da servidão. E nessa troca de versos quem é o homem então?

Em meio às grafias tortas, erros de digitação, busca-se a bendita resposta quem é o homem então? Ele é tão diferente que é difícil biografar. Vou falando o que vem na mente tentando o desenhar.

É o mais feio de uma família de tanta gente bonita, que fique claro na escrita, que estou parafraseando o Padre em uma de suas homilias ditas. O mais feio, mais franzino, porém o homem e o menino que escolheu a Deus servir.

Um homem cortez e sagaz, impetuoso e coerente, com tantas qualidades assim, busquei um defeito inerente. É modesto e tem o costume de se menospresar sem direito. Pois não precisa ser belo pra ser um homem perfeito. Já que a beleza está nos olhos de quem vê! Vejo o homem desse jeito:

O homem é este cara jovem e decidido, desprovido de arrogância, embora seja bem quisto. Este homem é o padre que veio pastorear um rebanho desgarrado, perdido em alto mar. És também um bom filósofo que veio pra despertar, muitos quereres adormecidos, regando as árvores secas para bons frutos dar.

Quem é o homem? Se já leu até aqui gostou do texto e podes rir. Este homem de quem vos falo é o meu grande amigo: homem pensador, amante da sabedoria, Joacir.

2. E, o padre?

O Padre é a figura central de uma vida de fé e devoção; o retrato de Cristo exposto no Altar e espelhado na comunidade em que serve em doação.

O Padre é o “oi” que sempre é respondido; o “oi” que se quer falar; o “oi” que se é ouvido. É, todavia, o abraço que acalenta e que mesmo em longas filas a espera deste abraço, nenhum cristão se lamenta!

É o artista que conquista fãs. Inúmeros fãs, mais não por ele, mas pela figura a qual representa, inspira, da o brilho, faz o ver no padre a imagem do Belo Filho.

O Padre abençoa, da a benção! O padre escuta, repele e orienta. É em ação verdadeira aquele que acalenta. O Padre é o pai, é o filho, é a , é a filha, é uma amiga, é um amigo. É ele que preenche o espaço de qualquer coração ferido.

O Padre leva o propósito de vida eterna e salvação. Portanto, somente o Padre pode conceder o perdão. O Padre consegue ver, como as coisas estão, mesmo quando um coração que chora o cumprimenta sorrindo.

3. O amante do saber, o filósofo

Agora o que dizer desse amante do saber? Pergunto-me, pois ele se mostra tão pequeno, humilde e simplório. Modéstia é sua característica principal!

Seu pela sabedoria, o transporta na nuvem mais lenta para o meio do povo. Que tem a oportunidade real de lidar com o que tudo aquilo que ele tem para oferecer, se percebe vivo. Porque sua leveza tal qual como a nuvem, vai contaminando as pessoas à sua volta. E isso faz com que elas percebam o quão gracioso é ver o mundo ao seu modo.

Seu jeito manso e ao mesmo inquietante permite que os que estão à sua volta em contato com seus escritos possa, assim como ele, viajar por paisagens hora desconhecidas, instigando cada leitor a encontrar caminhos perdidos, esquecidos ou até mesmo caminhos nunca antes imaginados. Este é o filósofo: aquele que por amor à sabedoria, dispõe-se a disseminação do saber. E vós quem dizeis que ele seja?

O homem, O padre e o Filósofo trabalham no mesmo compromisso. E não é apenas isso!
Mas cabe somente ao Padre espelhar a pessoa de Cristo.

ANOTE:

Joacir pb 1

 

 

@Padre Joacir d’Abadia, Filósofo autor de vários e membro das Academias de Letras “ALANEG” e “ALBPLGO” e da “Casa do Poeta Brasileiro”. Fotos:  Página no Facebook do Padre Joacir.

Contato: WhatsApp (61) 9 9931-5433

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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