Barragens: Lama tóxica da Samarco contamina os corais de Abrolhos, no mar da Bahia

Pesquisa da UERJ revelou impactos inéditos do rompimento da barragem da Vale em Mariana (MG), há três anos

Não foram só as 19 vidas humanas, nem a destruição do povoado de Bento Gonçalves, nem a morte do Rio Doce, o por si só já é uma tragédia de tamanho incomensurável.  Matéria do de Fato deste 20 de novembro reporta que o vazamento da barragem do Fundão foi além e contaminou diferentes pontos do litoral brasileiro. Segundo a matéria, uma pesquisa da UERJ revelou impactos inéditos da barragem da Vale/Samarco em ,em novembro de 2015 no Arquipélago de Abrolhos, no mar da , a 250 km da foz do Rio Doce. Confira:

Da Redação do Brasil de Fato:

O vazamento da barragem do Fundão em Mariana (MG), em novembro de 2015, contaminou diferentes pontos do litoral brasileiro. Para além do Espírito Santo, primeiro em que a lama chegou ao Atlântico, uma pesquisa da do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) revelou esta semana que os corais do Parque Nacional dos Abrolhos, na Bahia, também foram contaminados pelos rejeitos do consórcio Samarco.

Em um relatório de quase 50 páginas, os pesquisadores descrevem a presença de metais no arquipélago de Abrolhos, demonstrando a incorporação de zinco e cobre, entre outros elementos decorrentes do rejeito da barragem da Vale. O foi realizado em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF) e com a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).

Contexto

O coordenador da pesquisa, Heitor Evangelista, do Laboratório de Radioecologia e Mudanças Globais (LARAMG), lançou uma página no Facebook para que o público acompanhasse a dispersão da lama tóxica  até o mar. Foi por meio desse monitoramento que eles foram alertados sobre a possibilidade de contaminação do arquipélago, a 250 km da foz do Rio Doce.

O relatório conclusivo sobre a contaminação dos corais foi encaminhado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da  (ICMBIO), órgão do Ministério do , e vai ser levado em conta nos autos da multa ambiental aplicada à Samarco.

Abrolhos é o recife mais importante do Hemisfério Sul e abriga um terço de toda a biodiversidade marinha global conhecida. Os corais são  que vivem em colônias e possuem exoesqueletos calcários.

Edição: Daniel Giovanaz

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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