Procura
Fechar esta caixa de pesquisa.

Sri Lanka: País marcado pelo conflito entre budistas e cristãos

Conheça a história do Sri Lanka, País marcado pelo conflito entre budistas e cristãos

A pequena ilha é bastante fragilizada devido às cicatrizes deixadas pelos portugueses, holandeses e britânicos durante a colonização

Por: André Nogueira – aventurasnahistoria

O Sri Lanka, também conhecido por colonial Ceilão, foi um importante centro de profissão da fé budista e, depois, uma relevante posse portuguesa de produção de café. A pequena ilha próxima à Índia pode até não se destacar por seu tamanho ou sua relevância estratégica militar ou bélica, mas sua presença no mundo não pode ser relevada.

Conheça melhor a história desse complexo e pequeno país na Ásia — que sofreu uma série de atentados em três igrejas, quatro hoteis e um complexo residencial neste domingo de Páscoa, 21, deixando um rastro de 290 mortes e 500 feridos.

Antiguidade e formação do budismo

polonnaruwa sri lanka

É no auge do estabelecimento do budismo na Sri Lanka que é realizado no reino, em 25 a.C.,  um importante comício religioso, o Quarto Concílio Budista Teravada, no templo Anuradhapura Maha Viharaya, patrocinado por Valagamba de Anuradhapura. Naquele ano, uma gigante crise produtiva levou à morte por fome de diversos monges na região, criando um pânico relativo à possibilidade da extinção de diversos cultos budistas após a partida daqueles que conheciam o cânone religioso. Muitos textos puramente orais professados pelos dhammabhāṇakas poderiam ser perdidos se não passassem para a plataforma escrita, segundo o medo dos monges srilanqueses, levando ao evento, que traduziu para a escrita diversos conhecimentos da doutrina religiosa. O cânone manuscrito será divulgado pela região do Sul da Ásia.

Os estabelecimentos tâmeis

A partir do século III, a hegemonia cingalesa começa a ser ameaçada, pois a ilha passa a ser ocupada também por populações tâmeis, também originárias do subcontinente indiano, assumindo territórios no Noroeste da ilha. Durante séculos, foram travadas diversas batalhas entre os tâmeis e o reino cingalês. Por esse motivo, há uma importante mudança de capital no reino cingalês para Polonnaruwa. Contemporaneamente, há a formação de vários reinos e equivalentes a principados tâmeis em regiões mal ocupadas pelos cingaleses. Na mesma época, florescem conflitos religiosos entre budistas e hindus.

No século X, se estabelece na ilha também uma comunidade de origem árabe e comerciante, criando relações diplomáticas e amigáveis com o reino cingalês, que se fortalecia cada vez mais. No século XII, o então rei cingalês Prakrama Bahu encerra a guerra interna da ilha contra os tâmeis e acaba com seus reinos, estabelecendo um reino unificado ocupando todo o território da ilha. Nessa época, floresce o auge da prosperidade econômica e cultural, tornando-se importante polo de estabelecimento da doutrina budista.  Prakrama Bahu invade também o sul da Índia e a Birmânia, que se tornam posses cingalesas por um tempo.

Porém, no século XV, a ilha é invadida por tropas chinesas, que dominam a Sri Lanka. Com a invasão, os reis locais cingaleses declaram subserviência ao Império chinês e prestam tributo ao imperador.

A chegada dos europeus

A dominação chinesa não dura muito tempo, pois o século XVI foi marcado pelo aparecimento dos europeus na ilha. Em 1505, os primeiros brancos chegam à ilha: aporta em território cingalês o navegador português Lourenço de Almeida. A frota portuguesa se depara com um reino extremamente dividido, consequência da dominação chinesa, e repleta de batalhas internas. Essa divisão fazia da Sri Lanka incapaz de conter a invasão europeia. Os portugueses ocupam a ilha a partir da costa sudoeste, tomam a cidade de Kotte e fundam, pela região, a cidade de Colombo em 1517, como feitoria de controle da região costeira.  Em 1592, fugindo da dominação portuguesa, os cingaleses mudam novamente a capital, dessa vez para Kandy, no interior da ilha, melhor protegida dos dominadores da costa.

Apesar de uma onda de conversão ao cristianismo, a maioria budista da Sri Lanka criou um ódio religioso contra os invasores católicos.

Com isso, outros possíveis aliados europeus aparecem como forma de luta contra os portugueses. No início do século XVII, frotas holandesas aparecem na ilha e chegam a Kandy, onde autoridades cingalesas pedem auxílio. Em 1638, os holandeses atacam acampamentos portugueses e anos depois tomam Colombo.

Em pouco tempo, os holandeses dominam toda a ilha, exceto o reino de Kandy, com quem fizeram acordos. Inicia-se um período de perseguição aos católicos e apoio, mesmo que com taxação de tributos, aos protestantes, muçulmanos e budistas, maioria na região. É importante destacar que os impostos neerlandeses eram bem mais pesados que os dos portugueses, gerando um relevante incômodo nas populações nativas da Sri Lanka.

Domínio Colonial Inglês

A supremacia holandesa dura na ilha até o início do século XIX. Com as campanhas napoleônicas na Europa, o Reino Unido teme a ascensão de um novo Império Francês que governasse os Países Baixos e suas possessões. Temendo a dominação francesa da Sri Lanka, na época determinada pelo nome português dado, Ceilão (ou Ceylon), os britânicos invadem e dominam a ilha. Em 1802, o Ceilão é formalmente admitido como território britânico e torna-se oficialmente colônia. É a partir de então que os ingleses iniciam campanhas de ocupação total do território e em 12 anos, chegam a ocupar Kandy e destruir toda a base do reino independente da Sri Lanka, estabelecido pelos cingaleses.

Os ingleses introduzem forçadamente o cultivo do chá e do café (conhecidos desde a chegada dos portugueses) no território, criando uma camada social média de produtores rurais que importam uma série de trabalhadores tâmeis do Sul da Índia, a ponto da etnia voltar a crescer e se tornar 10% da população do território. O Ceilão torna-se ponto relevante do comércio mundial, gerando renda para diversos setores da economia colonial.

Independência e conflitos nacionais

No pós-guerra, as elites mestiças começam uma campanha pela independência do Sri Lanka. Em 4 de fevereiro de 1948, através de acordos diplomáticos e militares e tratados com a Grã-Bretanha, o país atinge a autonomia formal, estabelecendo-se como país independente com o nome de Sri Lanka. Porém, os acordos previam a manutenção das bases aéreas e navais do Reino Unido que foram estabelecidos em tempos coloniais.

Porém, o desenvolvimento nacional foi bastante fragilizado pelas cicatrizes deixadas pelos portugueses, holandeses e britânicos durante a colonização. Uma das principais foi à criação de barreiras sociais de bases étnicas, que foram usadas pelos ingleses como forma de criar inimizades internas no país e desestruturação das forças de resistência a colônia. Com isso, criou-se uma rixa étnica entre os cingaleses e os tâmeis. Também se criou conflitos relativos à soberania dos burghers, a elite crioula, miscigenada entre holandeses e cingaleses, que era tratada como autoridade racial e estabeleceu brigas profundas com as comunidades originárias.

Esses conflitos étnicos desencadeiam em 1983 em uma grande guerra civil que ocorre na Sri Lanka até 2009. Somando os conflitos étnicos com a jornada travada pela minoria tâmil pela independência e separação de uma pátria particular, estabelecida no Norte da ilha. É estabelecida uma guerrilha no país e uma série de ataques terroristas contra os exércitos cingaleses, que levarão à morte de mais de 100 mil pessoas na guerra. Incapazes de manter uma guerra contra a maioria da população, os tâmeis acordam um cessar-fogo com o governo central, dando fim à sangrenta guerra civil.

Desde o fim da Guerra Civil, está estabelecido um período de paz vigente na Sri Lanka, o que possibilitou uma importante retomada econômica e o reestabelecimento da infraestrutura básica do país na década de 2010.

O primeiro evento que quebra com o período estabelecido de paz no país ocorreu no dia 21 de abril de 2019, quando uma série de atentados terroristas contra igrejas cristãs e hotéis mataram cerca de 300 pessoas e deixaram 500 feridas.

Os atentados são reflexos do legado colonial que estabeleceu uma relação extremamente conflituosa no país com as populações cristãs, herdeiras das invasões portuguesas.

Fonte: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/conheca-historia-do-sri-lanka-pais-marcado-pelo-conflito-entre-budistas-e-cristaos.phtml

ANOTE:  Este site é mantido com a venda de nossas camisetas. É também com a venda de camisetas que apoiamos a luta de movimentos sociais afora. Ao comprar uma delas, você fortalece um veículo de comunicação independente, você investe na Resistência. Visite nossa Loja Solidária: http://xapuri.info/loja-solidaria. Em , encomendas com Geovana: 61 9 9352 9191. Em Brasília, com Janaina: 61 9 9611 6826.

Camiseta Corisco: http://xapuri.info/produto/camiseta-corisco/
Post 009 Cangaço

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

PARCERIAS

CONTATO

logo xapuri

posts relacionados

REVISTA