Ilha do Marajó, Santarém e Alto Xingu: Conheça as antigas cidades da Amazônia

Ilha do Marajó, Santarém e Alto : Conheça as antigas da Amazônia

Ilha do Marajó, Santarém e Alto Xingu possuíam comunidades tão populosas quanto pólis gregas e vilas medievais

Por: Reinaldo José e Joseane Pereira – aventurasnahistoria

O território amazônico abrigou e abriga culturas diversas, e um exemplo arqueológico muito bem estudado é das populações que viveram na Ilha do Marajó de 400 a 1400 d.C. Uma série de acasos geográficos fez com que a região leste dessa Ilha fosse repleta de campos alagáveis que lembram mais o do que a imagem que normalmente temos da Amazônia. Mais ou menos a partir do ano 500, os moradores da região desenvolveram um sistema de construção de mounds (montes de terra conhecidos por lá como “tesos”) e de represas que lhes permitia escapar enxutos à fase das cheias, de janeiro a junho, e controlar o suprimento de que saíam do curso normal dos rios para desovar durante a inundação.

Tudo indica que, no alto dos tesos, desenvolveu-se uma baseada no controle dos recursos pesqueiros. A funerária em cerâmica feita para os senhores de Marajó é uma das mais requintadas das Américas, com motivos estilizados da fauna – em especial as curvas e as escamas de serpentes e aves que lembram a coruja. Tangas de cerâmica com variadas decorações parecem ter sido usadas em cerimônias ligadas aos diferentes estágios da  feminina, embora pesquisas em arqueologia experimental tenham atestado que também eram confortáveis para homens.

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Tangas de Marajó / Créditos: Reprodução

Á primeira vista, cerâmica pode não parecer um marco muito impressionante. Mas a construção desses vasos decorados indica uma pessoa especializada nisso. Um profissional. Algo que existe apenas em sociedades hierarquizadas.

A disposição geográfica dos tesos marajoaras parece ter sido cuidadosamente planejada para proteger certos tesos maiores, que seriam centros cerimoniais e de moradias aristocráticas, e cercar as represas nas quais alevinos (larvas de peixe) eram criados.

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Diferentes estilos na cerâmica de Marajó / Créditos: Fernando Chaves e Cristiana Barreto

Subindo o rio, nas regiões das atuais Santarém (mais a leste) e (mais a oeste), os últimos séculos antes da chegada dos europeus viram um grande crescimento demográfico, a intensificação da atividade agrícola e, principalmente, o uso dos ricos recursos pesqueiros amazônicos. Santarém, em particular, tinha “complexidade e escala urbanas”, segundo a arqueóloga norte-americana Anna Roosevelt, da Universidade de Chicago. Seriam 15 quilômetros quadrados de área construída, com a produção intensiva de cerâmica ritual e dos famosos muiraquitãs, amuletos de pedra semipreciosa esverdeada (muitas vezes no formato de anfíbios), que circulavam por boa parte da América do Sul e até pelo Caribe como objetos de alto valor – em comparação ruim, como se fossem iPhones mágicos.

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Muiraquitãs / Créditos: Reprodução

Mas, por enquanto, as marcas mais impactantes da presença humana na floresta vêm do Alto Xingu. Michael Heckenberger, antropólogo da Universidade da Flórida, junto com Carlos Fausto e Bruna Franchetto, do Museu Nacional da UFRJ, mostraram que, em primeiro lugar, havia cerca de dez vezes mais povoados indígenas na região antes do século 16 e que, de quebra, as maiores entre essas aldeias eram dez vezes mais populosas que suas equivalentes modernas, chegando a ter milhares de habitantes, similares a pequenas cidades medievais ou da Grécia antiga.

Dados de satélite mostram estruturas cuidadosamente planejadas ordenando a antiga paisagem do Alto Xingu. As maiores aldeias, que provavelmente eram centros religiosos com até dois “terreiros” para festas sagradas, serviam como ponto de partida para uma rede de estradas que as cortava nas direções leste-oeste, norte-sul e orientações secundárias em ângulos de 45 graus. estradas chegavam a ter 50 metros de largura, estendiam-se por vários quilômetros e contavam com pontes e “acostamentos” feitos de terra. Esses grandes povoados contavam ainda com muralhas de toras de madeira, controlavam o cultivo de grandes lavouras de mandioca e pomares de e, tal como em outros lugares da Amazônia, lagoas artificiais para a prática da piscicultura e a criação de tartarugas, cobiçadas por sua carne e seus ovos. Uma vida agitada, não?

Fonte: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/conheca-as-antigas-cidades-da-amazonia.phtml


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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