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A primeira das Marias

A primeira das Marias

De minha irmã Iêda Vilas-Boas, escritora e conselheira da , encantada em 8 de abril de 2022, ganhei em 19 de março de 2019 este  lindo poema. Compartilho por seu valor literário, e também  por ser uma uma à irmandade, à amizade e à . Ubuntu: Eu sou, porque nós somos!

Por: Ieda Vilas-Boas Guarani-Kaiowá

Todo mundo tem seu dia
Todo mundo tem sua vida

E essa Hermana, mais que querida, completa um ciclo 
e inicia outro neste 19 de março de 2019.
Pessoa singular, diferente, marcante. Peculiar.
É a irmã das prosas de longas horas, do debate, dos combates e embates!
Minha Hermana tem sempre um comentário a acrescentar, uma boa pra contar.

No seu Bem-querer passa gente de todo jeito,
gente de todos os cantos
De todas as e crenças
que sentam, se embalam
e se espalham pela sala grande, cheia de xícaras, quadros, livros, zarabatana, chocalho e dizem… (até um saci na garrafa).

Sobretudo, nesta sala
e no peito largo da guerreira e solidária,
cabem ideias variadas e assuntos muitos.
Minha Hermana, mais que querida,
Traz sempre uma chuva de ,
Num dia chuva calma
no outro brava, (sem perder seu encanto)
a depender da vontade do Santo.

Essa Hermana, a mais velha,
nos dá enorme orgulho:
por suas ideias, sua coragem (derrotou até um câncer),
sua solidariedade, suas viagens e andanças.
Essa mana, a primeira das Marias, vive pelejando
pelo mundo e leva carga grande a tiracolo,
no seu ecobornal vai junto
sua lealdade, seus ideais, suas causas, que são muitas,
seus amigos e todos os seus!

Essa mana é a melhor companhia pra pegar estrada ou tomar um café! Essa mana é a Zezé! Parabéns, Hermana! 


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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