Lula, em carta para as Margaridas: “Esse momento difícil de hoje passará. Ele não é fim da nossa caminhada”

, em carta para as Margaridas: “Esse momento difícil de hoje passará. Ele não é fim da nossa caminhada”

Viva as Margaridas!
Viva o Brasil!
Viva o Povo Brasileiro!

“Queridas Margaridas,

Fiquei muito feliz em receber a carta de vocês, e saber que a Marcha das Margaridas segue forte, na por mais direitos e um Brasil mais justo para as mulheres do campo, das e das águas.

Estávamos começando a construir um país melhor, com social, um país filho da democracia, da liberdade de pensar, de falar, de se organizar e escolher seus governantes. Um país onde nenhuma mãe teria o sofrimento de não ter o que dar para o seu filho comer. Onde a energia elétrica chegue em todas as casas.

Onde quem quer trabalhar no campo tenha terra para plantar, apoio para a colheita e a venda dos frutos do seu trabalho. Onde as famílias tenham casa própria. Onde os jovens tenham oportunidade de estudar, de fazer uma faculdade ou um curso técnico. Onde as pessoas tenham oportunidade de emprego e vida digna. Onde as mulheres estejam protegidas da doméstica pela Lei Maria da Penha. Onde as pessoas possam sorrir.

Para cada objetivo desse, da dignidade que nossa promete ao nosso povo, criamos programas sociais, , ouvindo a população, movimentos sociais e especialistas. Bolsa Família, Luz para Todos, Minha Casa Minha Vida, Reforma Agrária, Cisternas, Programa de Aquisição de Alimentos, apoio para cooperativas agrícolas e de extrativismo, Prouni e FIES, Brasil Sorridente, valorização do salário mínimo. Todos no mesmo sentido e objetivo: cuidar e promover a dignidade do povo brasileiro, nossa soberania, , dignidade e independência.

Simples, não? Mas cuidar de quem precisa parece que incomoda certas pessoas.

Procuramos governar com a generosidade de uma mãe, que cuida de todos, protegendo os mais fracos. Agora o Brasil é governado pelo ódio e loucura daqueles que falam fino para os poderosos, mas fingem-se de valentes contra os indefesos.

Por isso mesmo eu quero muito cumprimentar a coragem verdadeira dessa marcha que leva as mulheres do campo para verem e serem vistas pelos poderosos de Brasília. Olhem bem para eles. E que eles enxerguem o povo da nossa terra a quem devem respeito, para quem deviam trabalhar e proteger a nossa soberania.

Queria estar com vocês mais uma vez na marcha. Será que outros presidentes que não os do PT marcharam com as mulheres do campo? Mas mesmo que eles coloquem paredes para me impedir de estar aí fisicamente, continuamos juntos, lado a lado, nessa marcha.

Esse momento difícil de hoje passará. Ele não é fim da nossa caminhada. Ele é apenas uma pausa na construção do Brasil que queremos: justo, com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência.

O povo brasileiro voltará a ser tratado com o respeito que merece. As mulheres da nossa terra voltarão a ter o respeito e carinho que merecem. O ódio não vencerá o . O medo não vencerá a . A grosseria não vencerá a solidariedade.

Obrigado pelo abraço, pelo carinho. Sigamos em frente, sem medo de sermos felizes. As margaridas chegaram e eles não tem como deter a primavera.

Viva as Margaridas!
Viva o Brasil!
Viva o Povo Brasileiro!

Luiz Inácio Lula da Silva”

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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