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Barbudinho: O penetra das transmissões da Globo

Em entrevista exclusiva, o Barbudinho conta à Xapuri como conseguiu entrar – sem licença – nas transmissões da Rede Globo

Tarde de sábado em Brasília. A pedido da jornalista Tânia Zamberlam, chego ao Hotel Imperial para uma palestra no Seminário de Formação do Sindicato dos Vigilantes. Junto comigo na mesa da Comunicação Social está prevista a participação de Luiz Henrique Oliveira, o famoso Barbudinho. Já na entrada, vejo as meninas da recepção super maquiadas,  fora dos padrões dos encontros sindicais. Pergunto à Tânia e à Walkiria Simões, jornalista do Sindicato, se nos vigilantes é sempre assim. Me respondem: “Que nada, hoje é um dia especial. Estão todas mais arrumadas para fazerem fotos com o Barbudinho.” Esparramo minhas revistas, subo pro almoço. Quando volto, lá estava o piá: barba cerrada, cocorote enrolando os fios de cabelo no alto da cabeça, e um bom humor invejável. Trocamos prosa, pergunto se quer falar pra Xapuri. Topa na hora, sem frescura. Sorte nossa, aí vai o resultado:

Xapuri – Quem é o Barbudinho?

Barbudinho – Luiz Henrique Oliveira, mais conhecido como Barbudinho, que acabou invadindo algumas transmissões ao vivo da Rede Globo, denunciando o golpismo da emissora.

Xapuri – De onde vem o Barbudinho?

Barbudinho – Sou de Santa , no Rio Grande do Sul. Estudo marketing e me defino como ativista digital. Até esta semana trabalhava em Brasília, no gabinete do Deputado Federal Paulo Pimenta. Pedi demissão e estou voltando pra Santa Maria como pré-candidato a vereador nas eleições de outubro pelo meu partido, o Partido dos Trabalhadores.

Xapuri – Como surgiu a ideia de entrar ao vivo nas transmissões da Globo?

Eu já andava muito incomodado com a Rede Globo, e não vinha de agora.  A gente percebe uma manipulação da Rede Globo e do PIG, o Partido da Imprensa Golpista, como uma forma evidente na sociedade brasileira. Eles tratam assuntos como a corrupção como se fossem exclusivos apenas de um partido político. Eles tem a força de manipular nossa sociedade para formar opinião de com o que eles pensam. A gente vê a Globo que sempre vem interferindo nos processos democráticos no País, a exemplo da ditatura militar, eles foram o instrumento principal do de 1964 que derrubou o Jango [presidente João Goulart], eles em 1982 tentaram impedir a posse do governador Leonel Brizola no Rio de Janeiro, eles manipularam o debate eleitoral entre Lula e Collor em 1989, abafam as falcatruas do governo FHC,  e agora estão de novo por trás do golpe de 2016, um golpe contra uma presidenta honesta que não cometeu os crimes pelos quais está sendo condenada, como já foi provado.

Xapuri – Sim, mas daí a entrar ao vivo em uma transmissão da Globo, o que deu em você?

Barbudinho –  A gota d`água foi a condução coercitiva do no dia 4 de março. Eu vi aquela tentativa covarde de intimidar o presidente Lula, porque todo mundo sabe que a condução coercitiva é feita quando o investigado se recusa a depor, mas o presidente Lula não tinha sequer  sido convidado a depor. Naquele dia saí do trabalho, entrei em uma lan house, preparei o cartaz e voltei pra denunciar, na própria Globo, a arbitrariedade que estava sendo cometida. Escolhi denunciar a Mansão Paraty porque estava muito irritado com o fato da Globo transformar os pedalinhos dos netos do presidente Lula em pauta nacional par destruir a imagem dele.

Xapuri – Foi fácil entrar ao vivo na Globo?

Barbudinho – Da primeira vez foi, porque não esperavam.  Da segunda em diante, foi ficando mais difícil, porque encheram as transmissões de segurança. Aí eu fui tendo que inventar formas de entrar. Uma vez me vesti de gari, não deu certo. Outra vez, entrei no uniforme de atleta, também não deu certo. Então resolvi bancar o advogado, de terno e gravata, falando bravo com quem me acompanhava. Vestido de “doutor”, entrei fácil e denunciei a Globo na própria Globo como golpista. Depois disso, entrei mais vez na Globo e mais duas vezes em duas emissoras. Foi o suficiente pra viralizar nas redes sociais ( em três meses tenho mais de 140 mil seguidores nas redes sociais), e para surgirem muitos barbudinhos pelo afora usando as telas da Globo para denunciar o golpe contra a presidenta Dilma  e contra o Estado Democrático de Direito.

Uma vez me vesti de gari, não deu certo. Outra vez, entrei no uniforme de atleta, também não deu certo. Então resolvi bancar o advogado, de terno e gravata, falando bravo com quem me acompanhava. Vestido de “doutor”, entrei fácil e denunciei a Globo na própria Globo como golpista.

Xapuri – Como você se sente vendo outros “barbudinhos” copiando você?

Barbudinho – Imensamente feliz. É engraçado que quando as pessoas falam a meu respeito, dizem: “O Barbudinho? Aquele que sempre entra na Globo?”.  Mas eu só entrei nas transmissões da Globo três vezes! Significa que outras pessoas estão fazendo a mesma coisa. Acho então que o que fica relacionado a mim é essa atuação espontânea de outros jovens contra essa ação covarde da grande mídia patrocinando mais um golpe no Brasil. Essas ações, que se viralizam nas redes sociais, são a melhor forma de dizer que todos nós podemos participar, que todos nós precisamos nos mobilizar e ir pras ruas tentar barrar esse golpe.

Xapuri – O que mais o preocupa na conjuntura brasileira?

Barbudinho –  Me preocupa muito a política de retrocesso na questão indígena. Os , por exemplo, são um povo muito sofrido, muito atacado pelo . Eu estive lá na terra deles no tekohá [terra sagrada] Taquara no ano passado e vi o medo com que enfrentam a chegada da noite, ante o perigo de mais um ataque. Esse ano, depois do ataque do mês de junho, que acabou com a vida de um jovem, o Clodiodil Guarani-Kaiowá, o deputado Paulo Pimenta, da Comissão de da Câmara dos Deputados, esteve lá e confirma que a situação dos Guarani-Kaiowá continua cada vez mais crítica.  Me preocupa também a consciência ambiental que precisa crescer entre os governos, entre as empresas, entre as organizações do movimento social e entre as pessoas, para proteger nosso planeta das , do e da exclusão social,  que coloca em risco a própria vida da raça humana no planeta Terra.

Xapuri – Você está a caminho de um processo eleitoral. Qual será a sua plataforma de campanha, seu principal compromisso com sua comunidade? Minha principal agenda será construir uma plataforma de juventude. Quero, a partir de Santa Maria,  trabalhar muito para oxigenar a política de juventude no Brasil. Quero ver mais jovens nas mídias sociais se contrapondo ao golpismo midiático que existe hoje em nosso País. Quero ver mais jovens na política, mais quadros jovens qualificados nos partidos políticos. Pretendo usar desse meu espaço de visibilidade para mobilizar e colocar mais jovens  nas ruas na luta pela Democracia.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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