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Fabiano Leitão, o trompetista da Resistência!

Fabiano e Leitão, o trompetista da Resistência, é moço bonito de alma leve, coração generoso, vida modesta e simples trato.

Sem sofrência, vai logo contando que nunca conheceu o pai, um paraguaio que teve um “trelelê” com a mãe dele quando era estudante de matemática na UnB e deu no pé antes do moleque nascer, no dia 31 de maio do ano da graça de 1979. Com nenhum drama, Fabiano vai  falando dos esforços inglórios na busca pelo pai: “Quando pequeno, pra ver se o encontrava, eu mandava cartinha pro programa do Sílvio Santos. Depois, quando cresci fui à UnB, só que eles não dão informação sobre ex-alunos… Busquei então a Embaixada do Paraguai, mas lá também ninguém soube como me dar notícias de Antonio Favio Gomez Fontenele, que esse é o nome dele. Por fim, deixei de procurar e, no dia dos pais, passei a fazer cartinhas só pra minha mãe, porque é ela quem, de fato, sempre foi o meu pai.”

Da mãe, das Graças, funcionária pública aposentada, veio o exemplo da militância no PT desde 1989, quando tinha apenas dez anos de idade. “Naquela época em era o azul do Roriz contra o vermelho do PT, era a campanha do Lula contra o Collor, e eu adorava ir com minha mãe pro sinal de trânsito bandeirar. Eu amava discutir com os rorizistas porque tinha na ponta da língua todos os argumentos para detonar com eles!”

Os anos passaram, o jovem Fabiano entrou pra Escola de Música de Brasília, depois casou com uma decasségui e foi ganhar a vida do outro lado do mundo, no Japão. Por lá, ficou três anos trabalhando 15 horas por dia como operário, aprendeu muito da cultura japonesa, juntou alguma grana e, por conta de uma doença grave na família, voou de volta pra casa, no ano de 2008.

Em Brasília,  em vez de comprar carro e casa, Fabiano usou toda a grana que economizou pra fundar, em 2009, a Escola de Gigantes da Colina, no Varjão. Ali, passou a trabalhar com jovens em situação de risco pessoal e vulnerabilidade social. “O era lindo, mas acabaram expulsando a gente de lá, por razões políticas.”

Como em Brasília só pode ter uma escola de samba por região administrativa, do Varjão Fabiano foi parar na Escola de Samba de Águas Claras. Como lá “não deu liga”, o militante optou por ensinar música para as crianças de Samambaia, onde o projeto foi parando pouco-a-pouco, por falta de recursos, “mas quando pinta uma graninha, a gente chama a molecada e sempre faz alguma coisa.”

Depois de um divórcio, um novo casamento e, especialmente, da chegada de Théo e Dudu, os filhos de quatro de dois anos que teve com a companheira Chiquinha, Fabiano andava com a vida organizada, garantindo o sustento da família tocando na noite, em aniversários, casamentos, bailes de 15 anos e festas corporativas.Fabiano CuritibaAí veio o golpe sobre a Dilma e seu coração de militante entrou em fúria. “No dia do impeachment, eu fiquei tão triste que não quis voltar pra casa. Fui um dos últimos a sair da Esplanada dos Ministérios e fui lá pro Palácio da Alvorada. Fiquei ali por horas, jogando pedrinhas no espelho d´água, vendo os peixinhos se mexerem. Foi então que tive a ideia de trolar a Globo, para protestar contra o golpe.”

No começo, não teve trompete. Fabiano começou por “entrar” numa gravação ao vivo do jornalista Eraldo Pereira, no STF. “Fui pra lá e, com muita raiva, pulei a grade, dei a volta, me posicionei atrás das câmaras e gritei a plenos pulmões: Globo Golpista! Não deu outra, levei um pau do segurança, tomei soco e tomei chute.”

Quanto mais tentava argumentar que o cara não era segurança da Globo, e que não estava fazendo nada contra o Supremo, mais pancada Fabiano levava. “Depois de sair de lá todo machucado, com a ajuda de uma menina do Mídia Ninja, comecei a pensar num jeito mais inteligente de trolar a Globo sem sofrer física. Foi então que veio a ideia do trompete.”

Fabiano conta que optou por “colocar o fundo musical do Lula” nas gravações da Globo porque o som do trompete é forte, “não precisa chegar tão perto, a música é poderosa,” e ele tem a certeza de que depois do “olê, olá”, ninguém mais presta atenção no que estão falando. “É uma maneira amorosa de combater o ódio que a Globo espalha contra o Lula e o PT usando o próprio espaço dela.”

Antes eventuais, depois da prisão do Lula os “trompetaços” de Fabiano passaram a ser muito mais frequentes. Dos links da Globo, e eventualmente de outras emissoras, Fabiano passou a mover multidões com o som engajado de seu trompete em espaços públicos e privados do inteiro.

“Toda vez que penso no Lula lá naquela cela, condenado sem uma única prova, me bate uma revolta danada  e eu sinto que preciso fazer alguma coisa.  Meu jeito de lutar pela liberdade do Lula é tocando meu trompete nas feiras, nos mercados, nas marchas, nos encontros do PT, onde me convidam. A companheirada faz uma vaquinha, paga a passagem, arranja uma casa pra eu ficar, e eu embarco. Essa é uma , eu vou onde for preciso.”

Perguntado se tem noção da importância do papel que assumiu na mobilização da militância, Fabiano se mostra muito humilde: Eu toco pra sacudir a galera, eu toco para ridicularizar quem manipula a informação, mas o que faço não chega nem perto do que fez meu tio Celso Leitão, que foi assassinado pela ditadura, ou do Zé Dirceu, o líder político que mais admiro, esse sim, um gigante, o maior exemplo de resistência, o cara que toca nos brios da gente.”

Esse agito todo impacta diretamente as finanças de Fabiano. “Reduzi o meu tempo trabalhando como motorista, tem final de semana que não consigo tocar na noite, faço só o mínimo pra manter minha família, mas não tem problema, porque minha prioridade é a liberdade do Lula, e eu sei que o meu trompete ajuda na mobilização popular, que é a única arma capaz de libertar o Lula.”

É por isso que, enquanto seus “trompetaços” vão tocando corações e mentes na luta em defesa do #LulaLivre, ao mesmo tempo em que ridiculariza a mídia golpista com suas “entradas” ao vivo nos telejornais de maior audiência, a militância vai lhe dando o troco em forma de afeto e apoio, inclusive apoio financeiro. Em nota recente, a advogada e militante Tânia Mandarino faz um resumo do sentimento de muita gente:

Tenho o número da conta bancária do trompetista porque quando ele veio a Curitiba, para ficar no acampamento, tocar na Vigília e fazer serenata pro Moro na justiça federal, ele veio às suas próprias expensas e ia voltar de ônibus pra Brasília, então fizemos uma arrecadação, para que ele pudesse retornar de avião.

Estou abismada com a energia e a coragem do Fabiano; ele saiu de Brasília de ônibus, foi até Belo Horizonte, onde participou de um ato no Mercado Central e já entrou num ônibus em seguida, viajando a noite inteira para participar de um ato no Mercado Municipal, assim que desembarcou em Curitiba, onde permaneceu por cerca de uma semana, tocou no lançamento do do japonês da federal – dentro de um shopping center -, arrastou uma multidão no Shopping Estação e depois foi pro Rio, tocar no Festival Lula Livre. (…) Como Fabiano tem sido um nosso artista de rua pela Resistência, eu tiro o meu chapéu pra ele (…).

E, como eu guardei o número da conta do Fabiano, mais uma vez, além de tirar o chapéu, eu vou passar, também, o chapéu pra ele agora. Não só porque sei que Fabiano, junto com sua companheira Chiquinha, tem dois meninos para alimentar, mas, sobretudo, porque o Fabiano é um Arauto da ! Seguem os dados do chapéu: Banco Itaú – Agência: 9383 – Conta Poupança: 17084-3 Titular: Fabiano e Silva Leitão – CPF: 841.271.553-53. E completa Tânia: “Daqui a pouco vamos todos buscar Lula, com Fabiano ao trompete!” O que Fabiano acha disso? “Sou só alegria, só gratidão, na verdade, sou eu quem me energizo com a resposta da nossa militância. Estou em luta, estou a postos e, sobre buscar Lula ao som do meu trompete, que assim seja, companheira!”

Fabiano Julia Zeze

 

ANOTE AÍ:

Zezé Weiss – Jornalista Socioambiental. Editora da Revista Xapuri.

O texto de Tânia Mandarino foi editado, por questões de espaço.

Foto de Capa: Gebran Nunes, cedida por Fabiano

Foto Interna: Júlia Feitosa Dias (Acre), Fabiano e Zezé Weiss, na sede do PT-DF, em Brasília.

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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