CNS protesta contra arrastão para “passar a boiada” nas reservas ambientais do Acre

CNS protesta contra arrastão para “passar a boiada” nas reservas ambientais do Acre

 

NOTA DE REPÚDIO DO CNS:

O Conselho Nacional das Populações Extrativistas – CNS, vem REPUDIAR à sociedade brasileira e aos movimentos sociais e ambientais da Amazônia, mais um ataque aos territórios das comunidades tradicionais, na mesma lógica de Ricardo Salles de “passar a boiada”, durante crise sanitária do covid19 no Brasil.

Trata-se da Reunião do presidente do ICMBio, Homero Cerqueira, realizada em Brasília -DF, no dia 16 de junho de 2020 com o vice-governador do Acre, Major Rocha (PSDB/AC) e parlamentares do Estado, Senador Márcio Bittar (MDB/AC), Deputada Federal Mara Rocha (PSDB/AC)  e o Deputado Estadual Luiz Gonzaga (PSDB/AC), representantes da bancada ruralista, que foram pedir apoio do governo de Jair Bolsonaro ao PL 6.024/2019 da deputada federal Mara Rocha, que propõe altera os limites da RESEX , retirando da Unidade de quase 8 mil hectares das terras públicas, localizadas nos munícipios Assis Brasil, Brasiléia, Capixaba, Epitaciolândia, Rio Branco e Sena Madureira, para atender aos interesses dos produtores rurais e pecuaristas, que ocupam, ilegalmente, as terras públicas da Resex, e ainda propõe mudança na categoria do Parque Nacional da Serra do Divisor para Área de – APA, um prejuízo sem tamanho a ecológica, que ficará sujeita à exploração ilegal madeireira, desmatamento e pecuária, além de uma ameaça para povos indígenas na região.

O ICMBio sob o comando do Ministro Ricardo Salles, segue atuando na Amazônia, em favor de quem é responsável pelo desmatamento na Amazônia: grileiros, madeireiros, garimpeiros e pecuaristas. E nesta reunião em Brasília com representantes ruralistas, afirmou que apresentará uma proposta de solução ao conflito na Resex Chico Mendes, em um mês, em plena pandemia, ignorando a luta do CNS e dos movimentos sociais que são contrários ao PL 6.024 em tramitação na Câmara dos Deputados.

Lutas do CNS e mobilizações dos movimentos sociais da Amazônia contra o PL 6.024/2019.

1. Sessão Solene aos 30 anos da Resex Chico Mendes. No dia 11 de março de 2020, em BrasíliaDF, aconteceu a Sessão Solene, na Câmara dos Deputados, promovida pela Frente Parlamenta Ambientalista da Câmara dos Deputados, com apoio do Fórum Permanente em Defesa da Amazônia e organizações socioambientais da Amazônia: CNS, Comitê Chico Mendes, STTR de Xapuri, Memorial Chico Mendes, CONTAG, APIB, mais de 70 lideranças extrativistas e indígenas de toda Amazônia, que prestaram solenidade as Reservas Extrativistas, como modelo de conservação ecológica, sustentabilidade das comunidades tradicionais e reconheceram a luta e a história de líder sindical e ambientalista Chico Mendes, na criação do modelo de reserva sustentável de uso comum das comunidades tradicionais, e que não pode ser destruída por uma visão equivocada do governo federal com o meio ambiental. E todas as organizações socioambientais e sindicais participantes foram contrárias ao PL 6.024/2019.

2. Indígenas e Extrativistas lançam Campanha Nacional e Internacional em Defesa dosTerritórios de Uso Comum da Amazônia. O CNS, o Fórum Permanente em Defesa da Amazônia, a APIB, e as organizações socioambientais da Amazônia lançaram em Brasília, no dia 11 de Março de 2020, durante a Sessão Solene na Câmara dos Deputados, com apoio dos deputados federais da Frente Parlamentar Ambientalista e de outras Bancadas a Campanha em Defesa dos Territórios de Uso Comum no Brasil e contra o PL 6.024/2019. É uma campanha para mobilizar a sociedade brasileira, o Congresso Nacional, a justiça (STF/MPF) no Brasil e organizações internacionais de outros países.

3. Documento Manifesto assinando pelos movimentos socioambientais do Brasil ao Presidente da Câmara do Deputados, Rodrigo Maia, pedindo o arquivamento do PL 6.024/2019 da Deputada Federal Mara Rocha. Entregue e protocolado, durante audiência com o Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, o documento “manifesto da Amazônia” assinado pelas representações dos movimentos socioambientais, que pede o arquivamento do PL6.024/2019.

4. Audiência Pública em Brasileia/Acre de discussão do PL 6.024/2019 com a participação das comunidades tradicionais da Resex Chico Mendes. A audiência aconteceu no dia 12 de março de 2020, com a participaram mais de 400 moradores da Resex Chico Mendes, e todos protestaram contra a diminuição da área da Resex, e bem como contra a tentativa de mudar a categoria do Parque Nacional do Divisor para Área de Proteção Ambiental – APA. E reafirmaram que os desmatadores cadastrados no ICMBio não devem ser anistiados, precisam pagar pelos crimes cometidos ou essas pessoas serão retiradas de dentro da Resex ou comprometem-se em recuperar a floresta que desmataram. Não é cabível e nem admissível discutir temas da regularização fundiária em plena pandemia.

A Câmara dos Deputados no PL 2633 da “Grilagem” de terras públicas, especialmente, na Amazônia, recuou de levar à frente o tema fundiário, pela crítica e pressão nas redes sociais dos movimentos e ativistas socioambientais de todo rasil. Na reunião do ICMBio com a comitiva de parlamentares e representantes do governo do Acre, expressa, claramente, a vontade do Ministro de Meio Ambiente Ricardo Salles que articula medidas governamentais para “passar a boiada”, ou seja, “flexibilizar as leis ambientais” no País, uma posição política favorável a quem de forma ilegal, ocupou
terras públicas na Amazônia, por meio de “Grilagem” de terras.

A principal luta do CNS, hoje na Amazônia e em outras regiões do Brasil, em de pandemia, é garantir a das populações extrativistas, que vivem nas comunidades tradicionais. A discussão sobre regularização fundiária e ocupação de terras públicas, precisam ser debatidas, amplamente. Não é nada democrático o governo federal, por meio do ICMBio, forçar medidas governamentais, ouvido apenas um lado dos envolvidos, e ainda mais grave, em plena pandemia, em que medidas de restrições de locomoção foram decretadas pelo Governo Estadual e Prefeituras do Acre em portos, rodovias e estradas, para assegurar o isolamento social e a das pessoas, e evitar serem infectadas pelo vírus, motivadas por aglomerações, impedindo reuniões presenciais.

O MPF (6ª Câmara de Coordenação e Revisão) responsável pela Temática de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais, vem atuando por meio de um conjunto de recomendações que exige ações emergenciais coordenadas e integradas dos órgãos públicos – até agora não há nenhuma atuação do ICMBio, em ações de alimentar e cuidados para proteger as comunidades tradicionais, vulneráveis ao vírus na Amazônia, seu papel institucional como órgão de meio ambiente – sobretudo, a prevenção da disseminação de doenças, mas também na garantia do pleno atendimento à saúde, e +pede ainda o controle sanitário das pessoas que ingressem nos territórios étnicos e comunidades tradicionais e a ampliação de política de distribuição de cestas básicas.

O CNS, mesmo em tempo de pandemia, com todos os cuidados sanitários necessários, irá mobilizar as Associações das Resex Chico Mendes e comunidades extrativistas, dos municípios Assis Brasil, Brasiléia, Capixaba, Epitaciolândia, Rio Branco e Sena Madureira diretamente atingidas com o PL 6.024/2019 da Deputada Federal Mara Rocha – a principal ameaça, hoje, a conservação da Resex Chico Mendes – para reagirem a proposta do ICMBio prometida à comitiva de parlamentares do Acre e ao governo do Estado.

O CNS conclama a sociedade civil brasileira, parceiros sociais e movimentossocioambientais indígenas e quilombolas da Amazônia e outras regiões do Brasil, para juntarem-se, nesta luta, em defesa da Resex Chico Mendes, denunciando em todo País às ameaças do governo federal por meio do ICMBio, do senador Márcio Bittar/MDB, da deputada Mara Rocha/PSDB, do deputado estadual Luz Gonzaga/PSDB e do Governo do Acre, que deveriam, em tempo de pandemia, priorizar suas ações públicas para garantir a “vida e saúde das famílias extrativistas” vulneráveis ao covid19, mas, ao contrário, aproveitam a pandemia para atacar os territórios das comunidades tradicionais e a .

Xapuri (AC), 18 de junho de 2020.
Júlio Barbosa de Aquino
Presidente do CNS

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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