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A Cúpula da Amazônia e o desmatamento zero

A Cúpula da Amazônia e o desmatamento zero

Nos dias 8 e 9 de agosto próximo, ocorrerá em Belém, estado do Pará, a Cúpula da Amazônia – IV Reunião de Presidentes de Estados Partes do Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), precedida pelos Diálogos Amazônicos entre os dias 4 e 6, compostos por plenárias promovidas pelo governo e por múltiplas atividades auto-organizadas por entidades da sociedade civil, academia e de centros de pesquisa que terão espaço para apresentar suas propostas aos governantes – já pensando na 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP 30, que se realizará em Belém, em 2025. 

Por Gilney Viana 

A questão central para a COP, desde o Acordo de Paris, em 2015, é evitar a elevação da temperatura média da superfície do planeta até 1,5º C além da média registrada antes da revolução industrial – o que está a exigir metas nacionais e globais mais ambiciosas e em prazos mais curtos do que os compromissados até agora, para redução das suas emissões de gases de efeito estufa. 

Já para os países amazônicos, especialmente o Brasil, a questão central é reduzir o desmatamento da floresta a zero, o mais breve possível, o que lhes possibilitaria, não apenas atingir metas mais ambiciosas de redução das emissões de gases de feito estufa, mas, se articulada com outras medidas, como reflorestamento em larga escala, se transformarem em países com balanço positivo de carbono. Isto é possível, contudo, exigirá muito mais que acordos de cúpulas globais e regionais. 

O simples anúncio oficial de que a cidade de Belém sediará a COP 30, em 2025, já desencadeou uma série de processos políticos e sociais que não poderão mais ser barrados: os governos reativaram a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA); os povos destes países tendem a cada vez mais entender o que significa a crise climática e o papel estratégico que a Amazônia ocupa para seu enfrentamento; os povos indígenas, através das suas organizações nacionais e internacionais, ganharam um protagonismo internacional relevante, nesta e noutras temáticas globais; e, as mais variadas representações da sociedade amazônica exigem protagonismo, para definir seu destino.

Assim como é crescente a percepção global de que não se pode mais ter uma economia baseada nas fontes de energia fósseis, em benefício de monopólios que dominam este segmento, também é crescente na Amazônia, e no Brasil, que já não é mais tolerável uma economia regional baseada na conversão da floresta em pastagens para pecuária e campos de soja, sob domínio de uma minoria que se apropria da terra, da água, da biodiversidade, dos minerais, dos conhecimentos tradicionais e dos conhecimentos científicos e socializa a poluição, as emissões de CO2, a elevação da temperatura do planeta, a alteração dos regimes das chuvas, com todos os amazônicos e amazônicas, todos os brasileiros e brasileiras, e toda a humanidade (e, porque não dizer, com todas as espécies viventes). 

Uma mudança dessa amplitude e profundidade, que atinge milhões de pessoas, exige um período de transição ecológica com forte atuação do Estado e da Sociedade. Atingir a meta do desmatamento zero é fundamental, porque no caso do Brasil é a maior fonte de emissão de CO2; é inadiável, porque está se aproximando do ponto de não retorno, da perda da capacidade de regulação das chuvas e de conservação da biodiversidade, por parte da floresta amazônica. A hora é agora. 

gilney amorimGilney Viana – Pesquisador do Núcleo de Estudos Amazônicos da UnB. Membro do Conselho Editorial da Revista Xapuri. Foto: Divulgação/ Ricardo Stuckert.

 
 
 
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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