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A esquerda do século XXI é antineoliberal

A do século XXI é antineoliberal

Estamos lutando hoje no em dois níveis. No primeiro deles, pela derrubada do Bolsonaro, numa luta democrática em que cabem todos os que estejam hoje contra o Bolsonaro, sem importar que posições tiveram no passado, nem os graus de responsabilidade que tiveram pela chegada do Bolsonaro ao governo.

Por Emir Sader

Não temos que estabelecer nenhum tipo de acordo formal, basta caminhar separados e bater juntos no Bolsonaro. Qualquer posição de cobrar o passado, que exclua – inclusive com o uso da força física – aos tucanos, por exemplo, é uma posição sectária. O que não os exime de suas responsabilidades no golpe contra a Dilma, na exclusão do Lula das eleições de 2018, na eleição do Bolsonaro.

Mas queremos e precisamos de todos que estejam contra o Bolsonaro para poder derrotá-lo e a todos os que ainda estão com ele, inclusive parte do empresariado e dos militares. Não é uma luta fácil, precisamos isolá-los e construir uma frente muito ampla, que   expresse o desejo e os interesses da grande maioria dos brasileiros.

Estamos lutando contra um regime autoritário, blindado militarmente, que precisa ser derrotado, para que a democracia plena seja instaurada no Brasil. Os militares se retiraram do primeiro plano da cena política quando a ditadura que tinham instaurado se esgotou, mas não sofreram uma derrota política aberta.

Esta aconteceu na Argentina, depois da tentativa dos militares de usar as Malvinas para recuperaram prestígio. Aconteceu no Chile, quando o Pinochet foi derrotado no referendo de 1988, quando pretendeu poder se candidatar outra vez. Aconteceu no Uruguai, quando duas consultas da para poder privatizar empresas públicas foram derrotadas. Não aconteceu, até aqui, no Brasil.

O resgate da democracia é nosso primeiro plano de luta. Derrubar o Bolsonaro, pelo impeachment ou nas eleições. Empossar um governo democrático no Brasil é condição para o segundo plano da luta.

Este é o da derrota e superação do modelo neoliberal. Na etapa histórica atual, o capitalismo aderiu a esse modelo, desde o modelo anterior, desenvolvimentista ou como queiramos chamá-lo, vigente desde o fim da segunda guerra mundial até por volta do final da década de 1970 e começo da década de 1980.

É um modelo profundamente regressivo, concentrador de renda, promotor das desigualdades sociais, um modelo cuja concepção é a de que se deve mercantilizar a toda a sociedade, segundo a visão de que tudo tem preço, tudo se vende, tudo se compra. É o reino incontestado do dinheiro, da riqueza monetária, é a dominação absoluta dos bancos privados, do capital financeiro e da especulação financeira.

Por isso a esquerda do século XXI é frontalmente antineoliberal. Luta pela derrota dessa visão de mundo e das suas políticas de centralidade do ajuste fiscal no lugar da prioridade das políticas sociais. Pela derrota das políticas de enfraquecimento do Estado, com privatizações do patrimônio público, com corte de recursos para as políticas sociais e corte de servidores públicos.

Lutar contra o é a forma de lutar contra o capitalismo, na sua etapa histórica atual, centralmente neoliberal. Essa é a luta de fundo que temos, para derrotar o modelo neoliberal, fulcro de todos os retrocessos que sofremos nos anos 1990 e voltamos a sofrer nos últimos 5 anos, razão de fundo do golpe contra a Dilma e da prisão do Lula.

A escolheu o Bolsonaro porque era quem tinha mais votos nas pesquisas, para montar a operação que o levou à presidência, para preservar o modelo neoliberal, reimplantado pelo governo Temer e radicalizado com as políticas do Paulo Guedes.

O Brasil só poderá retomar o caminho escolhido pela maioria dos brasileiros em quatro eleições democráticas consecutivas, com o resgate da democracia, com a escolha novamente do presidente do Brasil pelo voto livre de todos os brasileiros.

Para que, desde a democracia, possa substituir o nefasto modelo neoliberal por outro, centrado nos investimentos produtivos, nas políticas de distribuição de renda, para diminuir as desigualdades sociais no país mais desigual do continente mais desigual do mundo.

Nossa luta tática é contra o Bolsonaro, nossa luta estratégica é contra o modelo neoliberal.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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