A GOTA D´ÁGUA

A GOTA D´ÁGUA

A GOTA D´ÁGUA

Quanto tempo leva uma gota d´água durante a sua existência para se precipitar no mesmo local ao menos duas vezes? Embora a pergunta à primeira vista pareça absurda, isso é possível de acontecer

Por Altair Sales Barbosa

Independente do seu conteúdo, a probabilidade confirma ser possível que a mesma gota d´água venha a cair no mesmo local, seja deserto, rios, oceanos, folhas das árvores, telhados etc. E, depois de um longo ciclo de milhares ou bilhões de anos, eis que a mesma gotinha se precipita no mesmo local.

Pode ser que o local esteja modificado com o tempo e o magnetismo tenha mudado as coordenadas geográficas. Porém, aquele mesmo local um dia atingido por uma gota d´água pode vir a ser atingido pela mesma gota d´água uma segunda vez. 

A viagem conduzida por este raciocínio é muito longa e cheia de encruzilhadas, mas foi utilizada para mostrar a importância de uma gota de água, que forma rios, chuvas, lagos e oceanos, ou se encontra retida dentro de um geodo de cristal. 

Por isso, na verdade, uma gota d´água é uma página de um livro, que possui muitos volumes, e eles compõem bibliotecas, o verdadeiro Livro da Terra. Através do conteúdo de uma gota d´água, pode-se retirar informações preciosas sobre a história do planeta. 

Se, todavia, uma gota d’água pode dar informações preciosas, imaginem quantas informações podem ser retiradas da atmosfera, da hidrosfera, da litosfera e da biosfera. São esses os componentes que formam as incontáveis páginas da história do Planeta Terra (…). 

Mas o que significa ser apenas uma gota d´água? É que sem ela não existiria a atmosfera, também não existiriam os oceanos e toda a hidrosfera. A inexistência desses impediria a existência da litosfera, que por sua vez impediria a existência da biosfera e não teríamos assim a gota d´água.

O CAMINHO DA ATMOSFERA

Acima da litosfera e da hidrosfera, componentes da crosta terrestre, também chamada de estenosfera, encontra-se um conjunto de elementos, com diversos componentes físicos e químicos, cuja existência é responsável pela vida na Terra e em parte por suas feições geomorfológicas.

A esse conjunto de elementos, que varia desde o nível do mar até 800 km de altura, dá-se o nome de atmosfera. Portanto, a atmosfera é uma camada gasosa que envolve o planeta Terra em toda a sua expansão. 

Não se nos apresenta homogênea, mas dividida em camadas definidas que variam de temperatura e composição. Essa variação tem como base os tempos atuais, porque em eras mais remotas a composição apresentava maior variação e outras formações.

Atualmente, pode-se organizar a atmosfera terrestre em camadas, partindo do nível do mar em direção ao espaço sideral. Essas camadas são assim denominadas: troposfera, estratosfera, mesosfera, termosfera e exosfera. 

TROPOSFERA

A troposfera é a primeira camada da atmosfera. A partir do nível do mar, essa camada pode atingir de dez a doze mil metros de altura, sendo que essa variável depende da geomorfologia. 

Por exemplo: a troposfera é mais espessa a partir do nível do mar e menos espessa a partir das altas cadeias de montanhas; da mesma forma, sua composição e temperatura se alteram tanto em relação à latitude como em relação à altitude.

Atualmente, a troposfera terrestre é composta por cerca de 78% de nitrogênio, 21% de oxigênio e 1% de outros gases como o dióxido de carbono, óxido nitroso, dióxido de nitrogênio, gás metano, ozônio e vapor de água. 

Essa composição, entretanto, nem sempre foi feita dessa forma, houve grandes variações durante os diversos períodos da história geológica da Terra. Por exemplo, na aurora do Planeta, o teor de dióxido de carbono chegava a 99%. Esse material, posteriormente, foi sequestrado pelos mares primitivos, dando origem aos calcários hoje existentes na Terra.

É na troposfera onde ocorrem os maiores fenômenos naturais ou meteorológicos, como vento, chuva, neve, relâmpagos etc. A temperatura dessa camada é muito variável, situando entre 40ºC e 60ºC.

ESTRATOSFERA

NASA astronaut Scott Kelly took this aurora image over Canada on Jan. 21 2016 01 scaled
Foto: NASA

 

A estratosfera é a segunda camada da atmosfera a partir do nível do mar. Vai desde os limites da troposfera e pode alcançar a altitude de 50 km. Variando também de temperatura, de acordo com a altitude, indo de -5ºC a 70ºC.

O principal componente dessa camada é o ozônio, com níveis de 85% a 90%. Mas nem sempre foi assim. Esse gás começou a se formar durante o período geológico conhecido como Permiano, por volta de 300 milhões de anos antes do presente. 

Nessa época, o oxigênio constituía cerca de 20% da atmosfera. Durante esse período, uma forte radiação solar quebrou as ligações entre os átomos e oxigênio, fenômeno conhecido como fotólise, dando origem ao ozônio, que é uma combinação desses átomos com moléculas de oxigênio O3, e após esse processo passou a formar uma camada específica entre 25 e 30 km de altura.

A camada de ozônio é a responsável por diminuir os efeitos nocivos da radiação solar sobre a Terra, inclusive protegendo a vida da ação dos raios ultravioleta. Por essa razão é que a partir dessa época houve uma explosão da vida sobre a Terra, possibilitando inclusive a colonização das partes continentais, tanto por comunidades vegetais, como também por animais. 

Além do ozônio, outros gases com proporção menor entram na composição da estratosfera: óxido de azoto N2O, metano CH4, clorofluorcarbonetos CFC, gases liberados por atividades vulcânicas, ácidos de halógenos, dióxido de enxofre, ácido sulfúrico, este último é importante para a formação das nuvens. Outra observação importante é salientar que todos são gases de vida longa.

MESOSFERA

Logo acima da estratosfera, numa altitude situada entre 50 e 80 km e com temperaturas que variam entre -10º C até -100º C, situa-se a mesosfera, camada da atmosfera na qual se concentram os íons, que são partículas elétricas para a transmissão das ondas sonoras de rádios e sinais de TV.

Nessa camada também ocorre o fenômeno da luminescência, que consiste na queima de gases, provocando flashes de luminosidades, tanto no período diurno quanto no noturno.

TERMOSFERA

Em termos puramente lineares, apenas para reforçar o raciocínio aqui utilizado, encontra-se logo acima da mesosfera a camada denominada termosfera, que pode chegar a uma altitude de 500 km acima do nível do mar. É basicamente composta por raras moléculas de ar; por essa razão, a radiação solar é muito mais intensa, fazendo com que as temperaturas atinjam facilmente a casa dos 1000º C. 

EXOSFERA

Acima dos 500 km de altitude encontra-se a exosfera, camada que antecede o espaço sideral e que, segundo alguns estudos, pode atingir até 800 km de altura e é formada basicamente por Hélio e Hidrogênio. A título de curiosidade, é nessa camada que se encontram os satélites artificiais e os telescópios espaciais.

MAGNETOSFERA

Atualmente, é perfeitamente conhecida a dinâmica dos ventos solares. Sabe-se que o sol irradia em todas as direções um vento com velocidades de 300 a 900 km por segundo. 

Esses ventos geralmente carregam radiações nocivas e, se atingissem a superfície da Terra, arrasariam tudo o que existe de vivo no Planeta e ainda poderia provocar a evaporação das águas oceânicas e outras águas superficiais. Entretanto, isso não ocorre porque a Terra possui um escudo magnético protetor.

Esse campo magnético recebe o impacto dos ventos solares e os rebate, os absorve, permanecendo envolto neles. Essa bolha magnética é considerada por alguns meteorologistas como mais uma camada da atmosfera, talvez a última recebendo a denominação de Magnetosfera. 

altair sales barbosa 15 12 09 ed pelikano 11 1Altair Sales BarbosaDoutor em Antropologia / Arqueologia. Sócio Titular do Instituto Histórico e Geográfico do Estado de Goiás. Pesquisador Convidado da UniEvangélica de Anápolis. Conselheiro da Revista Xapuri. Excerto de O Livro da Terra, Gráfica e Editora América, 2019.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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