A IGUALDADE RACIAL VOLTOU

A VOLTOU

Por Zezé Weiss

    Aos 37 anos, Anielle Franco, educadora, jornalista, escritora, feminista preta, mãe de meninas, doutoranda, diretora do Instituto Marielle Franco e “irmã de Marielle”, conforme definição dela própria em seu perfil no Twitter, agora Ministra da Igualdade Racial, nomeada pelo Presidente em 1º de janeiro de 2023, o primeiro dia do governo da  União e da Reconstrução.

    Militante da linha de frente da por e igualdade social, especialmente na defesa das pretas e periféricas, essa que, em homenagem às suas comunitárias, com frequência se apresenta como “cria da Maré’, que é o conjunto de comunidades da zona norte do Rio de Janeiro, onde nasceu, no ano de 1985, e se criou.

 “Chego com o de Marielle e com a trajetória das mulheres negras. Isso mostra que somos muito maiores que qualquer discurso de ódio, desinformação e violências. Também é importante que nós, mulheres e pessoas negras, estejamos em todos os espaços de decisão de forma transversal. Somos qualificadas para estarmos em todos os ministérios e secretarias. Vamos construir o do futuro, da esperança para todas, todes e todos”.

Atleta do vôlei, a jovem preta da Maré, irmã de Marielle Franco, vereadora covarde e cruelmente assassinada em 14 de março de 2018, junto com seu motorista Anderson Gomes, estudou nos , com bolsas esportivas,  onde se formou em jornalismo pela Universidade da Carolina do Norte, uma das grandes universidades consideradas historicamente negras nos Estados Unidos.

Fundadora do Instituto Marielle Franco, para defender o legado da irmã militante, como presidenta do Instituto Anielle lançou a Plataforma Antirracista nas Eleições.

Convidada a participar da equipe de transição do Governo Lula, Aniellle torna-se a capitã da esperança na luta pela igualdade racial em nosso país. Não por acaso, seu primeiro decreto coloca Antonieta de Barros, nossa primeira  negra, no Panteão de Heróis e Heroínas da Pátria brasileira.

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Zezé Weiss – Jornalista. O discurso de posse da Ministra Anielle Franco não pôde ser reproduzido aqui porque ocorreu em 9 de janeiro, data posterior ao fechamento desta edição. 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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