A imprensa no Acre na década de 1970
A imprensa do Acre, na década de setenta, se submetia às normas do regime militar. Havia um único jornal diário circulando na capital, O Rio Branco, da rede dos Diários Associados de Assis Chateaubriand. A TV Acre, afiliada da Rede Globo, e as emissoras Rádio Difusora, do estado, e Novo Andirá, do ex-governador Wanderley Dantas (1971-1974), apoiavam a ideia de “bovinização” dos seringais.
Por Elson Martins
Os conflitos no Acre passaram a ser divulgados quando os jornais O Estado de S. Paulo e o Jornal do Brasil estabeleceram correspondentes com atuação no estado, a partir 1975.
Dois anos depois (1977), começou a circular o jornal alternativo Varadouro, com o slogan “Jornal das Selvas”, tendo Elson Martins (Estadão) e Silvio Martinelo (JB) como editores. As seis primeiras edições foram pagas com empréstimo obtido com o bispo Dom Moacyr Grecchi, que antes tratava com limitações os conflitos no jornalzinho mimeografado Nós, Irmãos.
MENOS CÓDIGO, MAIS TRANSPARÊNCIA
O que acontecia no Acre tinha algo de incomparável com o conhecido em outras regiões. A insatisfação com a ditadura era comum, mas se distinguia no discurso e nas formas de resistência. O que Chico Mendes trazia da floresta era mais simples e novo para os que lutavam na cidade. Tinha menos código, mais transparência, e a certeza de um mundo diferenciado e possível.
Chico contemplava as alianças consideradas impossíveis. Afinal, antes da criação do PT, tinha sido eleito vereador pelo MDB, em Xapuri, com apoio declarado de seu patrão, um seringalista. A luta dos seringueiros em defesa da floresta e de todo o ambiente acreano ganhava aos poucos a simpatia dos seringalistas que não queriam ver a mata no chão.
Chico Mendes soube cercar-se e aprender lições de pesquisadores, ambientalistas, cientistas políticos, lideranças dos sindicatos, partidos de esquerda etc., mas sobretudo utilizar a imprensa. Com genialidade e candura, ele queria tornar a luta dos seringueiros e índios do Acre planetária. Ele chamou a atenção para o valor da floresta e das populações tradicionais, para sua cultura, seus sentimentos e crenças.
Elson Martins – Jornalista. Escritor. Acompanhou e documentou o movimento dos seringueiros nos tempos de Chico Mendes. Membro do Conselho Editorial da Revista Xapuri. Foto: Arquivo da biblioteca nacional.