A LÁGRIMA DE UM CAETÉ (FRAGMENTO)

A LÁGRIMA DE UM CAETÉ (FRAGMENTO)

A Lágrima de um Caeté (Fragmento)

Nísia Floresta

Era da natureza filho altivo,

Tão simples como ela, nela achando

Toda a sua riqueza, o seu bem todo…

O bravo, o destemido, o grão selvagem,

O brasileiro era… – era um Caeté!

Era um Caeté, que vagava

Na terra que Deus lhe deu,

Onde Pátria, esposa e filhos

Ele embale defendeu!…

É este… pensava ele,

O meu rio mais querido;

Aqui tenho às margens suas

Doces prazeres fruído…

Aqui, mais tarde trazendo

Na alma triste, acerba dor,

Vim chorar as praias minhas

Na posse de usurpador!

Que de invadi-las

Não satisfeito,

Vinha nas matas

Ferir-me o peito!

Ferros nos trouxe,

Fogo, trovões,

E de cristãos

Os corações

E sobre nós

Tudo lançou!

De nossa terra

Nos despojou!

Tudo roubou-nos,

Esse tirano,

Que povo diz-se

Livre e humano!

 

mulheres 13Nísia Floresta era o pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto, nascida em 1810, na cidade de Papari, Rio Grande do Norte, que atualmente leva seu nome. Nísia é considerada a primeira feminista brasileira e latino-americana, pois foi precursora em diversos campos ligados à emancipação das mulheres. Seu primeiro livro, Direitos das mulheres e injustiças dos homens, publicado em 1832, foi o passo inicial em direção a um caminho sedimentado pela defesa dos direitos das mulheres, indígenas e escravos. Aos 28 anos, abriu a primeira escola para meninas no Brasil, onde ensinava gramática, música, francês e matemática, contrariando as outras instituições que focavam na costura, boas maneiras e cozinha.

 

Fonte: Tag Livros

SER CAPAZ, COMO UM RIO
Foto: Reprodução/Internet

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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