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O CALENDÁRIO AGRÍCOLA DO POVO KAXINAWÁ

O CALENDÁRIO AGRÍCOLA DO POVO KAXINAWÁ

O calendário agrícola do Kaxinawá 

 Não se deve plantar em qualquer tempo os legumes do bai kuin, porque eles morrem, acabam, e a gente perde as sementes antigas.  

É bom de plantar os legumes no tempo certo da floração do mato, pois cada legume tem seu tempo próprio.

Atsá, como chamamos a , é bom de plantar quando o nishu (pau d´arco) está florando; tamá, que os cariús chamam de mudubim, é bom de plantar na floração do ashu (mulateiro).

Sheki kuin, como chamamos o milho massa, é bom de plantar quando shunu (samaúma) está florando; puá (inhame); cari (batata-doce); yubin (taioba); shapu (algodão) e nixi-barã (jerimum) quando seshun nimenarwá (cajazeira-braba) está florando na mata.

Yussu, um legume parecido com o feijão dos cariús,  é bom de plantar quando a árvore de kashu (mulungu) está florando.

Fonte: Texto extraído da Enciclopédia da – O Alto Juruá – Prática e Conhecimento das Populações, organizada por Manuela Carneiro da Cunha e Mauro Barbosa de Almeida. Companhia das Letras. 2002.

O CALENDÁRIO AGRÍCOLA DO POVO KAXINAWÁ
Foto: Ricardo Stuckert

SOBRE O PAJÉ DO POVO

Pajé dá e tira vida. Para virar pajé, vai sozinho para a mata e amarra o todo com envira. Deita numa encruzilhada com os braços e as pernas abertos.

Primeiro vêm as borboletas da noite, os husu, elas cobrem seu corpo todinho. Vem os yuxin que comem os husu até chegar a tua cabeça. Aí você o abraça com força. Ele se transforma em murmuru, que tem espinho.

Se você tiver força e não solta, o murmuru vai se transformar em cobra que se enrola no teu corpo. Você aguenta, ele se transforma em onça. Você continua segurando.

E assim vai, até que você segura o nada. Você venceu a prova e daí fala, aí você explica que quer receber muka e ele te dá.”

Fonte: Texto do pajé Siã HuniKuin, que também atende pelo nome de branco de José Osair Sales.

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Foto: Double Blind Magazine

O QUER DIZER HUNI KUI OU HUNI KUIN

Huni Kuῖ quer dizer que é o próprio povo, somos nós mesmos. Porque Huni é a denominação de ‘homem’, ‘gente’ e kuῖ quer dizer que é esse mesmo, é o verdadeiro. E a palavra Kaxinawa veio durante os contatos entre nós.

Os parentes sempre têm esse costume de ver alguém com aquela característica de roupa, de alimentação, de , de língua – “Então se fazem isso é o povo tal” – aí eles deram esse nome Kaxinawa para nós. Kaxi é morcego, nawa é povo.

Tem duas versões dessa . Imaginamos que nos deram esse nome porque o nosso povo comia os parentes mortos, não todo mundo, mas alguns. Então quem suga sangue, come carne, é morcego, é Kaxi.

E a outra versão é que em algum momento os Huni Kuῖ estavam matando morcego quando alguém de outro povo chegou e começou a fazer pergunta. Ele respondeu que estava matando morcego, kaxi, daí a pessoa entendeu que era o nome do povo e falou:

‘Então deve ser Kaxinawa’. Esse nome ficou como um registro, mas atualmente a gente tem falado que Kaxinawa é um nome pejorativo e que nós somos Huni Kuῖ.

Atualmente, no Brasil, o povo Huni Kuῖ tem uma população de cerca de 14 mil pessoas, divididas em 5 regiões ou municípios, 12 terras e 104 aldeias (FEPHAC, 2019). Existem Huni Kuῖ também no Peru, onde há uma população de cerca de 2419 pessoas.

Nessas 12 terras indígenas [Brasil] meus parentes estão trabalhando seus projetos da vida social Huni Kuĩ, pois entendemos que durante o contato tivemos muitas perdas no espaço físico, na cultura e na língua.

Fonte: CPI-Acre, Texto de Mana – Joaquim Paulo Adelino Kawinawá, Doutor em Linguística e Huni Huĩ. 

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Terra Kaxinawa – Foto: Ministério da Defesa

 

 
 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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