A LENDA DA BORBOLETA AZUL

A LENDA DA BORBOLETA AZUL

A da borboleta azul

Diz a lenda oriental da borboleta azul que, há muitos e muitos anos, um homem ficou viúvo e teve que cuidar de suas duas filhas, meninas muito inteligentes e curiosas. 

Por Lúcia Resende

Constantemente, essas duas criaturas enchiam o pai de perguntas que ele nem sempre sabia como responder. Por essa razão, nas férias, o pai mandou as meninas para o topo de uma colina, para conviver e aprender com um sábio que lá vivia

Espertas, elas decidiram testar o conhecimento (e a paciência) do sábio. Queriam muito fazer pelo menos uma pergunta que ele não soubesse responder. 

Uma das irmãs, a mais velha, saiu então caminhando pelo morro em busca de uma artimanha. Voltou depois de uma hora, com alguma coisa escondida no avental. 

Ansiosa, a outra irmã, a mais nova, perguntou à mais velha o que trazia ela. A irmã mais velha abriu o avental e mostrou o que tinha trazido do campo: uma linda borboleta azul. 

Ante a pergunta da mais nova – O que essa borboleta tem a ver com o sábio? – a irmã explicou que a borboleta azul seria a pergunta-armadilha que ambas fariam ao mestre. 

– Quando a gente for para nosso encontro com o mestre, vou perguntar a ele se a borboleta que trago na minha mão está viva ou morta. Se ele disser que está viva, eu apertarei minha mão bem forte e a matarei. Se disser que está morta, eu a deixarei voar. 

As meninas foram, então, para o encontro com o sábio. 

– Mestre, disse a mais velha, trago em minha mão uma borboleta. Pode me dizer se ela está viva ou morta?

“Depende de você, ela está em suas mãos. Da mesma forma que a dessa borboleta, aprender comigo o que posso lhe ensinar ou voltar pra casa sem nenhum conhecimento novo depende apenas de você”, disse o metre às meninas incrédulas com tanta sabedoria. 

LUCIA RESENDE e1657551386624Lúcia Resende – Professora.  Lenda reescrita com base nas várias versões disponíveis na Internet. Foto: Divulgação/Internet.

 

 

 

 

 

 

 

 

A LENDA DA BORBOLETA AZUL
Vida Simples

 

 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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