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A LENDA DO PORAQUÊ

A LENDA DO PORAQUÊ

A do Poraquê: o guerreiro encantado que dá choques

Diz a lenda que, antes de virar o temido peixe elétrico da , o Poraquê era um exímio caçador e um valente guerreiro de uma bonita aldeia , localizada perto do fenômeno da pororoca, que é onde as águas do encontram as águas do mar, lá no Amapá.

Por lá contam que, nos tempos de festa, era sempre Poraquê quem trazia a melhor caça, era sempre ele que mais vencia nos combates. Porém, contam também que Poraquê nunca estava feliz com suas conquistas, que sempre queria mais, que na verdade o que ele queria era ser o maior guerreiro da face da .

Para se tornar o grande guerreiro, Poraquê tentou, um dia, dominar o , mas as labaredas o fizeram recuar. Ele tentou, então, dominar o grande rio, mas uma pororoca enviada contra ele por , a sereia das águas, o derrotou outra vez. Foi então que Poraquê subiu em um pé de vento e pediu ao deus trovão um relâmpago emprestado.

Poraquê, por fim, conseguiu o que queria. Com seu relâmpago, fez uma borduna e, com ela, nos frequentes dias chuvosos, invocava os raios. Foi assim que ele se fez grande, derrotando com sua borduna de raios os inimigos de sua aldeia. Porém um dia, depois de vencer mais uma batalha, notou sangue em sua borduna. Ao lavá-la, nas águas fortes do Rio Amazonas, um dos raios caiu na água e o transformou em um peixe diferente que, para se defender, ao ser atacado, dispara rajadas elétricas sobre seu inimigo.

PORAQUÊ, O PEIXE-ELÉTRICO QUE MATA COM CHOQUES DE 500 VOLTS 

A LENDA DO PORAQUÊ
Foto: Fauna News

“Aquele que põe para dormir”. Esse é o significado do nome do peixe amazônico poraquê (Electrophorus electricus). Mas não se engane! Isso não tem nada a ver com canções de ninar. O poraquê é temido pelos e é capaz de derrubar um cavalo. Mas como isso acontece? Se prepare, porque a resposta é eletrizante! 

O poraquê possui células modificadas capazes de gerar eletricidade, os eletrócitos. Quando ameaçado, produz uma descarga elétrica que pode chegar a 500 volts, o suficiente para matar um homem adulto. O choque é terrível: os músculos se contraem de forma tão intensa que é impossível controlar os movimentos.

Os órgãos internos são danificados, o coração entra em colapso e, finalmente, para de bater. Essa habilidade lhe rendeu outro nome: peixe-elétrico.

Mas não pense que a energia acaba por aqui, a do peixe-elétrico é repleta de “raios e trovões”. Ele emite pulsos de baixa voltagem enquanto se aproxima lentamente. Quando a presa se encontra em seu raio de alcance, o peixe-elétrico confere a descarga elétrica fatal e pega seu almoço requentado pelas microondas.

O poraquê não é o único peixe capaz de utilizar a eletricidade para perceber o ambiente, mas é o peixe elétrico com a maior descarga conhecida até hoje.

A LENDA DO PORAQUÊ
Foto: Conexão

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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