A luta contra o racismo no Brasil

A luta contra o racismo no Brasil

O atual governo federal está destruindo rapidamente todas as políticas públicas que, de algum modo, vinham enfrentando a profunda desigualdade social e racial no país, denuncia Benedita…
 
Por Benedita da Silva/via PT Nacional
 
O dia de Zumbi, 20 de novembro, é celebrado como o Dia da Consciência Negra porque, assim como o Quilombo dos Palmares nasceu da luta contra a escravidão, a consciência negra também nasce da luta contra o racismo.
A falsa teoria da “democracia racial”, por meio da qual as elites dominantes tentam amortecer a consciência do povo negro, não resiste um dia sequer numa favela ou periferia de qualquer cidade do Brasil.
São incontáveis os casos do crime de racismo, e cada vez mais as suas vítimas estão denunciando, o que revela uma mudança de atitude na população negra.
Vejamos o caso recente ocorrido em Monte Alegre de Minas Gerais, quando a negra Luciana Ramalho, pós-doutora em biomedicina, foi agredida e presa por três policiais apenas porque filmava a agressão deles contra o seu cunhado, também negro e desarmado, em frente à sua casa.
No vídeo, que divulgou depois que pagou fiança e foi solta, Luciana Ramalho disse que poucas pessoas tiveram as oportunidades acadêmicas e intelectuais que ela teve. “E do que isso me valeu? Nada! O que me valeu foi a cor da minha pele”.
Esse caso é muito significativo porque mostra que mesmo os poucos indivíduos negros que superam a exclusão e, por mérito próprio, conseguem subir na escala social continuam carregando junto consigo a muralha do apartheid racial, bem visível para eles, mas não para a sociedade.
Vinte de novembro pode ser o Dia da Consciência Negra, mas também pode ser a oportunidade para parte significativa da sociedade brasileira reconhecer que sofre da doença do racismo, uma doença que corrói a sua consciência e a capacidade de se reconhecer historicamente como um país majoritariamente negro e pardo.
A Abolição acabou com a escravidão oficial, ou seja, no papel, mas não com a exclusão social e a discriminação racial. Nascido da escravidão, o racismo estrutural é realimentado pela sociedade elitista brasileira para justificar todas as violências contra o povo negro e o condenar aos patamares de renda mais baixos da pirâmide social e às taxas mais elevadas entre os desempregados.
Segundo a Pnad de 2020, os negros e pardos representavam 72,9% dos desocupados do país.
Mas o racismo estrutural aflora também quando um negro ou negra com formação superior faz entrevista de emprego e geralmente é preterido em benefício dos candidatos brancos. Esta é a realidade nua e crua da sociedade racista e machista do Brasil.
No entanto, quando as engrenagens racistas da sociedade e do Estado brasileiro negam as mesmas oportunidades sociais e educacionais para o povo negro, também atingem o mundo branco, pois mantêm o país preso ao passado da mentalidade escravocrata e ajudam a eleger presidente uma aberração racista e machista como Bolsonaro, que está afundando o Brasil, seja ele negro, branco ou indígena.
O atual governo federal está destruindo rapidamente todas as políticas públicas que, de algum modo, vinham enfrentando a profunda desigualdade social e racial no país. Seu último crime foi a extinção do Bolsa Família, deixando cerca de 15 milhões de família sem o mínimo recurso para matar a fome.
Não é possível existir democracia no Brasil enquanto houver racismo. Este é o entendimento do movimento negro que contribui para a elevação da consciência negra como caminho principal da luta contra o racismo e contra a sua contraface, a exclusão social. Exigimos oportunidade iguais e não aceitamos ser julgados pela cor de nossa pele.
Benedita da Silva e deputada federal pelo PT-RS.
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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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