A seca que assombra o sertão nordestino

A seca que assombra o Sertão Nordestino

Através de uma visão macro, as imagens desta matéria narram a poesia de um lugar difícil e desfalecido sobre os reflexos de um fenômeno sócio-climático muito comum, que ocorre na do sertão nordestino.

Por Fernando José Cantele 

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Caatinga em -guarani significa mata branca. Essas são características dadas à vegetação, com exemplares que, em tempos de estiagem, perdem as folhas, criando um aspecto seco e sem vida.

Acredita-se que esse bioma seria o resultado da degradação de formações vegetais, tais como a Mata Atlântica e Floresta Amazônica. Logo, criou-se a falsa ideia de que sua vegetação era homogênea e pobre em espécies, no entanto, pesquisas apontam que a Caatinga é muito rica em biodiversidade.

Hoje, o contexto da paisagem mostra mudanças fisionômicas influenciadas pelo e impactos diretos e indiretos causados pela ação humana. A relatividade caracterizada pelo atraso da precipitação de chuvas constrói o que chamamos de “poética das vidas secas”.

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Aqui, o ciclo sazonal morre, dando lugar ao ciclo estático da seca, é como um rito de passagem, porém com deficiências no estágio de renovação.

Os ossos nos aproximam dos resultados dessa transição, a de cor capta o caos, a morte, o luto e a dor resignada de um pastoril inexistente, o fantasma da seca resultante da relação entre e meio ambiente.

Cada um desses pontos de vista se afirma como uma das principais preocupações, a ciência mostra que o maior processo de degradação da Caatinga veio juntamente com a expansão da pecuária.

De acordo com o de geoprocessamento do CRN/INPE, entre 2013-2014, dados gerais do monitoramento revelam 39,98% de Caatinga preservada, 45,06 % de Caatinga degradada, 7,24 % de solo exposto, 6,45 % de lavoura, 0,76 % de corpos d’água e 0,32 % de área urbana.


 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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