A selfie de Jesus é racista, pô!

A selfie de Jesus é racista, pô!

O cineasta britânico Duncan Thomsen acaba de viralizar selfies ditas “ultrarrealistas”, que ele criou na plataforma Midjourney. Entre os retratos, um de Napoleão, outro de Cleópatra, e, acredite se quiser, um de Jesus Cristo com os discípulos, Ele branco, loiro, de olhos azuis, rindo a bandeiras despregadas (foto acima).

Por ACQ

Depois das evidências da inépcia dos programas de Inteligência Artificial ao desenhar mãos humanas, saiu mais uma prova de que esses programas não são tão inteligentes assim.

O problema é que ninguém até hoje provou provada, na chincha, a existência física de Jesus. Como então saber como ele era? Esse não é um problema para quem tem fé à maneira de Paulo, pois o apóstolo dizia que o reino do patrono da Igreja que ele fundou não é deste .

2 ilustracao feita por especialista richard neave para documentario da bbc em 2001
Ilustração feita pelo especialista forense Richard Neave para documentário da BBC, em 2001

Mas, se Ele ressuscitou – uma ideia que os gregos epicuristas da época taxaram de “louca” –, é claro que dEle não sobrou nem um ossinho com amostras de DNA, o que, convenhamos, dificulta a determinação da cor de Sua pele. Ainda bem que a está aí para resolver a questão: na hipótese de ter existido em carne e osso o Yeshua do Novo , obviamente, Ele teria sido um judeu da Galileia, e os judeus daquela época e lugar eram negros. Jesus, portanto, não era branco nem loiro nem tinha olhos azuis. Era preto!

Ao compor a selfie de Jesus, o programa utilizado pelo cineasta Duncan Thomsen reuniu séculos de informações preconceituosas sobre o suposto Jesus histórico. Quase todos os pintores europeus O retrataram com a cara do Robert Powell ou do Diogo Morgado, loiro, loiro!

O Duncan poderia ter ponderado as informações disponíveis para controlar a composição feita pela máquina. Teria sido muito mais “realista”. Em vez disso, preferiu pescar nas águas turvas da Rede um retrato parecido com a sua própria imagem e semelhança – de britânico loiro do zói azul.

Autor: ACQ. Foto de capa: Duncan Thomsen – Plataforma Midjourney. Este artigo não representa a opinião da Revista e é de responsabilidade do autor.


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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