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A VITÓRIA-RÉGIA

A VITÓRIA-RÉGIA NÃO É FLOR, É PLANTA QUE DÁ FLOR

A vitória-régia não flor, é planta que dá flor

A vitória-régia é a planta aquática que se tornou uma espécie de logotipo amazônico. Aparece em tudo que é folheto de turismo como se fosse flor. Pois não é. A vitória-régia é planta. E planta de uma folha só. Mas planta que dá flor.

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A VITÓRIA-RÉGIA NÃO É FLOR, É PLANTA AQUÁTICA QUE DÁ FLOR
Foto: Wikipedia

De sua raiz, fincada no fundo do lago, sobe um cipó grosso, retorcido, que, ao chegar à superfície da água, vai formando uma folha, que cresce, que cresce, cada vez mais e sempre redonda, chega a ter um metro de diâmetro.

Redondinha que dá gosto, cheia de nervuras, parece uma grande bandeja verde, de bordas reviradas.

Vi, num verão de cheia desconforme, no laguinho em frente ao lugar da Neném Cabral, amiga de minha mãe, uma vitória-régia que acabava de dar flor.

Já nasce grande, arredondada, como um repolho, só que lilás. Nasce da folha, não tem haste.

A face interior da folha, que repousa na água, é escurecida e espinhenta. Embaixo dela o jacaré cochila. A jaçanã fica pulando em cima dela, feliz da . Quando o rio seca, a flor vira fruto. O tambaqui, que não é bobo nem nada, vem e come.

A VITÓRIA-RÉGIA NÃO É FLOR, É PLANTA AQUÁTICA QUE DÁ FLOR
Foto: Aki é Show

 

Thiago de Mello maior da e do , em “Amazonas – Águas, Pássaros, Seres e Milagres”. Editora Salamandra, 1998.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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