Afastar-se e retornar
A documentarista Maria Maia nasceu no Acre, estudou na UnB (Universidade de Brasília) e vive na capital da República há algumas décadas.
É socióloga, antropóloga e mestre em comunicação social pela mesma UnB, tendo defendido dissertação de mestrado sobre a “Escritura Fílmica”, o processo de criação da linguagem cinematográfico.
Roteirista e diretora de quase 50 documentários de curta, média e longa duração, além de programas especiais para TV , ela realizou, na TV Senado, títulos de grande importância e sobre personagens da grandeza de Levi-Strauss, Candido Portinari, Glauber Rocha, Darcy Ribeiro, entre muitos outros.
Foi companheira do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães (falecido em 2023), que atuou na Embrafilme na gestão de Celso Amorim, e foi adjunto do Ministério das Relações Exteriores, Governo Lula.
CHICO MENDES PROJETOU UMA UTOPIA
Eu hoje fico pensando como a agenda da Aliança dos Povos da Floresta tinha um apelo tão forte e tão mobilizador. Eu acho que esse apelo tinha a ver um pouco com a novidade da nova Constituição [de 1988]. Foi nesse ambiente que o Chico Mendes projetou mais do que ideias, ele projetou uma utopia.
Por Ailton Krenak
Com sua presença calma, com o seu próprio tom de voz – nunca tinha exaltação na fala dele e, mesmo quando ele falava das injustiças, das coisas duras que aconteciam com ele e com a floresta, a maneira dele expressar era sempre tão amorosa e tão boa que, em vez de desespero, o que o Chico passava sempre era a esperança.
A presença do Chico como uma pessoa da paz e do diálogo, naquele momento em que o Brasil vivia o seu processo de redemocratização, ficou marcada de forma muito especial naquela plantinha que nós chamamos de Aliança dos Povos da Floresta, que brotou naquele ambiente de mudança.
Apesar de todas as dificuldades, porque nada foi fácil e nem a gente sabia se a semente que nós plantamos ia vingar ou não.
Quando ainda não se pensava na articulação de vários setores da sociedade, a nossa Aliança juntou índios, seringueiros, ribeirinhos e mais um monte de gente em uma só bandeira, em um espaço acolhedor para a prática da parceria e da solidariedade.
Eu me sinto orgulhoso de ter participado de tudo isso com uma turma tão comprometida com o entendimento de que a floresta é uma lugar sagrado onde a vida se realiza de maneira plena.
Durante toda essa jornada, a presença do Chico foi sempre muito viva e muito importante. Até hoje a presença dele é tão forte e tão inspiradora que muitas vezes sinto que está bem aqui junto com a gente.
Mas hoje, passados quase 35 anos da morte do Chico, tento, com uma certa distância, recontextualizar essa nossa história e esse legado do Chico Mendes para repassá-lo à geração que agora chega, que se acerca de nós através de nossos filhos e netos.
Ao fazer essa reflexão, penso sempre no Chico Mendes como um ser humano curioso, inquieto e instigador, que estava sempre buscando alternativas para melhorar a qualidade de vida dos povos da floresta.
Ailton Krenak – Imortal da ABL. Conselheiro da Revista Xapuri. Depoimento a Zezé Weiss par ao livro Vozes da Floresta – Editora Xapuri, 1a edição, 2008.