Adeus à cineasta Tânia Quaresma

Adeus à cineasta Tânia Quaresma (1950–2021): Vá em paz, Tânia Guerreira 

Brasília acordou nesta quarta-feira com a triste notícia da morte da cineasta Tânia Quaresma, ocorrida na noite de ontem (6/7), após sofrer uma parada cardíaca. A jornalista do Rosário Caetano registrou em sua página no Facebook que a fotógrafa e diretora de cinema realizou muitos documentários, sendo o mais famoso deles Nordeste: , Repente, Canção, de 1975 (veja o aqui).

Sobre este documentário Maria do Rosário lembra que Werner Herzog “teria assistido ao filme e se encantara. E que por causa dele tivera a ideia de realizar, em 1987, o filme Cobra Verde”. O lançamento comercial deste documentário teve grande repercussão.

Tânia fez também Trindade: Curto Caminho Longo (1979), e Nísia, Paulo e Josué: Oficina de  (2008).

Mineira, nascida em Belo Horizonte, Tânia radicou-se em Brasília em 1983, onde criou o cinematográfico administrado pela Fundação Bem Te Vi. A artista mineira faz parte da história cultural de Brasília e deixou um legado de longas-metragens e séries documentais para tevê. Tânia deixa um filho, Alexandre Quaresma, que também trabalha na produção cinematográfica.

Em depoimento realizado ao Projeto Memória & Invenção, Tânia disse: “Eu estava feliz: Brasília tinha me recebido de asas abertas. Achei então que já era hora de ter uma base fixa, um ponto permanente para pouso e decolagem. Percebi que meu sonho com Brasília era mais que um filme: ele me indicava um projeto de vida. Acreditei nele e vivo essa realidade, desde então”.

Tânia começou a trabalhar aos 16 anos como fotógrafa. Atuou na redação da Folha de S. Paulo, onde registrou o movimento estudantil contra a ditadura militar nos anos 1960. Como cinegrafista, esteve no Jornal Nacional, da TV Globo, e fez uma especialização numa tevê alemã.

A Secretaria de Cultura do DF lamentou a morte da cineasta. Recentemente, Tânia buscou a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) para discutir a possibilidade de doar o seu televisivo. Sobre essa tratativa, o secretario Bartolomeu Rodrigues disse que foi procurado pela cineasta: “Ela estava muito entusiasmada com a ideia de disponibilizar tudo o que documentou para a brasiliense. Sua morte é uma perda sem tamanho, pela sua sensibilidade e pelo olhar humano para Brasília e sua população”.

Todos os programas realizados por Tânia que foram ao ar abordavam a história da construção de Brasília, sob o ponto de vista dos operários.

Muitos artistas e produtores culturais de Brasília lamentaram a morte da cineasta. A seguir alguns depoimentos colhidos na rede social:

Cuca, atriz: “Que tristeza, Tânia tinha um trabalho lindo, batalhadora incansável. Trabalhamos juntas no final dos 80”.

Alexandre Ribondi, ator e diretor de teatro: “Uma sonhadora que quis futucar a onça Brasília com a vara curta. Conseguiu por algum tempo e foi divertido e criativo ter estado com ela no projeto Bem Te Vi. Tomara que ela arrume uma boa turma por lá e mande ver.”

Rita Andrade, ativista cultural: “Tânia foi uma mulher excepcional, uma artista aguerrida, uma inspiração que siga na luz e paz.”

Dioclécio Luz, jornalista: “Depois de muito tempo vou ver novamente o documentário da Tânia Quaresma – Nordeste: Cordel, Repente Canção. Esse filme valoriza a região e diz de outro modo o que já dizia Guimarães Rosa: ´o sertão é dentro da gente´. Ela sacou isso e mostrou pra gente ao seu modo: telúrico e cósmico.”

Rênio Quintas, músico: “Entrou para a galeria das imortais! Grande mulher, grande ser humano! Voa Tânia querida!”

Zuleica Porto, diretora de cinema: “Que tristeza… fazia muito tempo que não a via. Vá em paz, Tânia guerreira.”

Foto de Capa: JBP.


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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