Adeus Elza Soares, Estrela da Resistência

Adeus Elza Soares, Estrela da Resistência

Por Rosilene Corrêa

Elza Soares, a “Mulher do Fim do Mundo” escolheu o 20 de janeiro, dia de São Sebastião, para embarcar nas asas da quimera, rumo aos mistérios do infinito. Depois de uma longa vida de incessantes lutas, Oxóssi concedeu a ela o divino privilégio de morrer serena, em paz, no aconchego de sua casa, no Rio de Janeiro.

Entristecido, o Brasil honra a memória de sua estrela-purpurina de tanto brilho, guerreira de tantas lutas. Enlutadas, nós mulheres todas nos sentimos um pouco órfãs da força cósmica dessa mulher gigante, força motora da consciência negra,  que conquistou, na voz e na raça, o direito de botar a boca do trombone contra todo e qualquer tipo de violência e opressão. 

Precisamos ter consciência de que muitas mulheres morreram para que pudéssemos ficar vivas, termos liberdade de escolher e fazer o que quisermos”, disse a feminista Elza, que também se fez voz ativa contra o racismo, o machismo, o feminicídio, a homofobia.  Não serão os fáceis os dias sem Elza, mas, também por ela, seguiremos lutando, resistindo e esperançando. 

Adeus Elza Soares, Estrela da Resistência!

Rosilene Corrêa – Diretora do Sinpro/DF. 

Capa: BBC. Foto Rosilene: Acervo Sinpro/DF. 


Block

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapui.info. Gratidão!