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Apocalipse

“Apocalipse Agora” para a Amazônia: Promessas devastadoras do presidente-eleito

“Apocalipse Agora” para a Amazônia: Promessas devastadoras do presidente-eleito

Por: Philip Martin Fearnside

A eleição de Jair Bolsonaro, que é conhecido como o “Trump tropical”, é catastrófica para a . O meio- ambiente era uma questão insignificante para a maioria dos eleitores. Uma pesquisa de opinião em abril de 2018 descobriu que 75% da população temem a invasão por um país rico por causa da natural do , adicionando apelo à representação de Bolsonaro das preocupações ambientais como ameaças à soberania nacional. 

As vitórias conservadoras nas parlamentares deste ano podem acelerar a aprovação de legislação proposta, efetivamente eliminando o licenciamento ambiental e terminando com a criação de áreas protegidas. Bolsonaro prometeu não permitir a de “um único centímetro” de terra indígena. Onze projetos de lei e de emenda constitucional que o Bolsonaro apoia estão sendo acelerados e podem ser aprovados antes dele assumir o cargo em 1º de janeiro de 2019.

Um dos principais aliados congressionais de Bolsonaro prometeu “vender” as terras do País. De considerável interesse para os apoiadores ruralistas de Bolsonaro é uma modificação da lei para classificar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) como organização terrorista. Isso, junto com a proposta de Bolsonaro de permitir a porte de armas para a “proteção de propriedades rurais”, poderia incitar ainda mais os conflitos na Amazônia, que já é palco de milhares de assassinatos rurais. Bolsonaro promete o fim dos “ativistas” e a expulsão de organizações ambientais internacionais.

As agências ambientais brasileiras perderiam o poder de licenciar projetos de infraestrutura, que são grandes impulsores do desmatamento. O que sobra de licenciamento seria distribuído para outros ministérios, notadamente aqueles que mais impactam a Amazônia: Agricultura, Infraestrutura e Minas e Energia, deixando a “raposa guardando o galinheiro”. O atual licenciamento ambiental do Brasil é lamentavelmente inadequado, mesmo sem o enfraquecimento planejado. O controle do desmatamento seria relaxado para por fim a uma suposta “indústria de multas[ambientais”.

ApocalipseA negação climática, uma força poderosa no Brasil, é endossada por Bolsonaro. Ele vê a mudança climática como uma conspiração estrangeira para impedir o Brasil de desenvolver, e já encaminhou materiais negacionistas para sua base através das mídias sociais. Em agosto de 2018, um de seus filhos viajou para Nova York para se reunir com Steve Bannon – o homem que convenceu Trump a abandonar o Acordo de Paris. Durante sua campanha, Bolsonaro prometeu retirar o Brasil do Acordo, mas pouco antes do segundo turno, ele pareceu voltar atrás.

No entanto, ficar no Acordo estava condicionado em “alguém” dar-lhe uma garantia escrita em “preto no branco” de que não há questão de “triplo A, nem da independência de qualquer terra indígena”. “Triplo A” refere-se a um corredor ecológico ligando os Andes ao Atlântico (que Bolsonaro acredita ser uma conspiração estrangeira para usurpar a soberania sobre a Amazônia), e “independência” refere-se à crença de que os podem declarar independência do Brasil e serem reconhecidos por governos estrangeiros conspiratórios. Uma vez que tal garantia não pode ser esperada em relação a estas duas lendas urbanas, a intenção de Bolsonaro de se retirar do Acordo de Paris pode ser considerada como inalterada. Ironicamente, é previsto que o Brasil sofra alguns dos maiores impactos das .

Fonte: Amazônia Real http://amazoniareal.com.br/

philipPhilip Martin Fearnside
Doutor pelo Departamento de e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan (EUA) e pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em (AM), onde vive desde 1978.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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