Pesquisador da UNESP cria molécula que derruba o vírus da hepatite c
Composto desenvolvido na Unesp age contra tipos mais comuns de vírus que circulam no país.
Por Geovana Alves*, G1 São Carlos e Araraquara
O doutorando em biotecnologia Paulo Ricardo da Silva Sanches, 29 anos, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) de Araraquara (SP) produziu a primeira molécula eficiente sobre todos os pontos do processo de multiplicação do vírus da hepatite C (VHC).
Ao contrário dos antivirais utilizados atualmente, o novo composto age nos processos de multiplicação, entrada e saída do vírus da célula.
“O medicamento utilizado para o tratamento da hepatite C no Sistema Único de Saúde (SUS) age em um único ponto, a inibição da protease (enzima necessária para a replicação do vírus), o nosso composto age em todos os pontos e isso já é um diferencial”, comenta Sanches.
Sanches é orientado pelo doutor em biologia molecular da Unesp Eduardo Maffud Cilli desde 2015, quando ingressou no mestrado. Juntos testaram sete moléculas até encontrarem a combinação perfeita: o ácido gálico, de origem natural, acoplado no peptídeo hecate, de origem sintética, formando um bioconjugado, batizado de ácido gálico-hecate.
Segundo o pesquisador, a molécula é capaz de eliminar os tipos 1, 2 e 3 do VHC que são mais comuns e circulam no Brasil.
A pesquisa é realizada no Laboratório de Síntese e Estudos de Biomóleculas (Lasebio) de Araraquara em parceria com o Laboratório de Estudos Genômicos (Lego), do campus da Unesp em São José do Rio Preto (SP), onde são avaliados os compostos. A parceria ajuda a pesquisa a ser mais precisa.
“É impossível ser especialista em tudo, então, a melhor coisa é a gente trabalhar com grupos especialistas para o desenvolvimento de moléculas e, neste caso, é o grupo da doutora em microbiologia Paula Rahal. A gente prefere entrar em participação com outro grupo e desenvolver uma pesquisa de qualidade, do que fazer de uma maneira superficial”, explica Cilli.
A pesquisa levou quase dois anos para a comprovação de que a molécula é eficiente contra o VHC . Agora, os pesquisadores querem diminuir os efeitos colaterais, que já são baixos, ao menor nível possível.
Essa etapa deve ser realizada no laboratório, mas Cilli diz que a molécula está à disposição para empresas interessadas em produzir um medicamento em larga escala, embora ache difícil isso acontecer.
“Para pensar em aplicação industrial, a gente precisaria de alguma empresa interessada em investir na pesquisa, o que normalmente não acontece porque as pessoas trazem coisas prontas do exterior”, afirmou.
Os pesquisadores pretendem analisar a potencialidade do composto em outros vírus, como o da dengue, que é da mesma família do VHC. Já há a comprovação que ele funciona para o vírus da zika.
“Aqui em Araraquara e na região nós enfrentamos um surto de dengue e nós não temos antivirais que agem de forma efetiva. Eu acho que o desenvolvimento de qualquer antiviral eficiente e neste caso, um que age em diversas etapas da reprodução do vírus, é extremamente importante”, afirmou Sanches.
*Sob supervisão de Fabiana Assis, editora do G1 São Carlos e Araraquara.
Fonte: G1
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