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Buchada

BUCHADA

Buchada

Todas as vísceras devem ser muito bem lavadas, esfregadas com limão e temperadas com cebola, coentro, cebolinha, vinagre e sal, o tempero básico de tudo

Por Rachel de Queiroz

Com o estômago, raspado por dentro e bem limpo, faz-se um saco, que se recheia com a tripa, muito bem temperada e raspada miudinho. Essa tripa já deve ter sido esvaziada, virada pelo avesso com o auxílio de uma vara fina e bem lavada.

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Todas as vísceras devem ser muito bem lavadas, esfregadas com limão e temperadas com cebola, coentro, cebolinha, vinagre e sal, o tempero básico de tudo.

Do caldo cozido faz-se o pirão escaldado (bem mole), que acompanha as carnes.  O que for cozido, serve-se com pirão; as partes assadas, com arroz e farofa.

Os caprinos (bode castrado) são menos apreciados que o carneiro, mas são mais frequentes no cardápio diário do sertanejo. O bode que os matutos chamam “o come de pobre” é a carne mais acessível de que se dispõe lá.

O roubo de bode é dos mais comuns do sertão, já que não se costuma “asssinar” o caprino com um corte nas orelhas, assim como se faz com as ovelhas.

Nas nossas fazendas não é comum abater-se um boi, salvo nas grandes festanças, como vaquejadas ou alguma comemoração especial.

 

Rachel de Queiroz 1920

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p style=”text-align: justify;”>Rachel de Queiroz – Escritora, em O Não Me Deixes – Suas Histórias e Sua Cozinha, Editora Sicicliano, 2000.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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