Cerca de 45 famílias do Povo Kariri-Xokó reintegraram na manhã de hoje (21/05), o território das Cachoeiras sagradas no município de Paulo Afonso – Bahia.
O povo Kariri-Xokó esteve vivendo acampado de maneira improvisada há quase um ano, na escola José Geraldo ao lado da ponte metálica da entrada da cidade.
Vítimas de despejo judicial que retirou o grupo indígena em favor de uma empresa grileira da região e ameaçados de desocuparem a escola, as famílias foram reintegradas a área também sob medida judicial depois do juízo federal comprovar a falsificação de documentos da referida empresa Uzi Construtora.

O povo Kariri-Xokó, entende que este território é o coração sagrado dos seus ancestrais e, “com a permissão dos encantados estamos fazendo hoje nossa autodemarcação. Nós não somos donos da terra somos guardiões, porque a terra não nos pertence, nós que pertencemos a terra”, disse o Pajé Kaitité.

O Cacique Jaguaray Waiãpy, inferiu “depois de mais de 30 anos desterritorializados, foi aqui que nossos ancestrais indicaram o lugar para gente viver, mesmo com a reintegração de posse que causou grande sofrimento do nossos povo, vamos se manter na escola porque e aqui agente retorna também por nosso lugar sagrado, porque todos esse lugar faz parte do território que a SPU demarcou para nós. Graças a Deus o juiz federal conseguiu ver que essa empresa é uma grileira”, reforça o cacique.

A Secretaria de Patrimônio da União – SPU, comprovou que as terras pertencem a União e, portanto, agilizam processo de Cessão de Uso em favor dos indígenas
. Para os indígenas, esse é um dia especial porque odespejo provocou fortes traumas às crianças, jovens e adultos e hoje sentem-se reintegrados ao território.
A Sociedade Brasileira de Ecologia humana como parceira dos indígenas vem acompanhando o movimento social e entende, que “este é um território de pertencimento dos povos que aqui sempre existiram. Então, sua luta é legítima”, afirma a presidente da SABEH Alzeni Tomáz.
O idioma ancestral é falado e ensinado nas comunidades Kariris

Na beira do São Francisco
A comunidade Kariri-Xocó pertence ao grupo dialetal Dzubukuá e representa a fusão de uma variedade de agrupamentos tribais segregados pela colonização e catequese jesuíta. Atualmente, a comunidade está aldeada no município de Porto Real do Colégio, no interior de Alagoas. As margens do Rio São Francisco, a comunidade ainda preserva tradições rituais como a dança do Toré e produção de artesanatos. O ensino da linguagem é feito através de aulas ministradas na escola Subatekié Nunú criada dentro do território Kariri-Xocó.
Como recurso pedagógico extra-aula, a escola conta ainda com grupos de whatsapp que praticam a associação de termos com emojis, entre outras estratégias. Formadores da comunidade também mantém sites e um canal no youtube voltados para o ensino da linguagem.
A linguagem Kariri-Xocó é dinâmica, não se engessa no tempo, nem se perdeu pelo opressão colonial imposta aos povos indígenas no território brasileiro desde 1500. José Nunes de Oliveira é Nhenety, guardião das tradições, como é conhecido pela sua comunidade. Ele diz que na língua indígena “cada palavra tem vida e falando podemos manter nossa cultura ancestral através do tempo” e considera que a reconexão cultural através da ancestralidade da linguagem pode ampliar a comunicação do povo Kariri com a natureza e o mundo.
Contador de histórias formado nas vivências do seu povo, Nhenety auxilia na educação escolar da sua comunidade na língua Kariri-Xocó a mais de 30 anos. Em 1984, o guardião recebeu através de histórias dos seus antepassados contadas pelo Sr. Manuel Iraminon, índio da etnia Xocó, um vocabulário de 128





