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CARTA PARA ALICE: “JOVEM ALMA,”

Carta para Alice:  Jovem Alma, 

Por Jairo Lima

Jovem alma, 

Em que suspiros a alma que de ti respira a tal pensamentos lhe fere?

Ao cair da tarde, quando o equinócio à luz pálida do dia que se apresenta, à mãe do céu noturno olhe para as estrelas e lá verás, triste espírito, que dos sonhos de liberdade dos grilhões invisíveis d’alma te livrastes.

Ao horizonte foca teu olhar e das sombras do mundo que te rodeia entenda que dos sentimentos somos senhores e não servos.

Afinal, que desperdício seria se cedêssemos ao arbítrio do invisível que de tão presente, por vezes, toma forma de uma dor, que profundamente aperta em nosso peito, nos consumindo a existência tal qual a lúgubre luz de uma vela que aos poucos perece.

Acalente seu coração, minha pequena rosa vermelha. Saiba que há dias para a caça e outros para a prece. Há dias para de si se pores ao longe, e dias para ao longe se pôr de si.

Ao engenho da vida nos entregamos, juntando as pequenas peças de um infinito mosaïque, na vã esperança que ao fim de nossa comédia existencial o tenhamos finalizado.

Caminho ao jardim, entregando-me aos aromas de minhas rosas, embriagando-me de lembranças do que foi, ou do que poderia ter sido.

Mas, se ao passo essa embriaguez ao tino não me afasta, da razão me preenche e das dúvidas me põe ao longe, dando-me à certeza de minha maturidade que das peças do mosaïque, que ao primeiro suspiro à luz pus a primeira peça, ao distante estou de seu fim.

Respire, jovem alma… respire esse ar impregnado de lembranças que te embalam, e que à distância do horizonte transporta teu leve espírito aos meus maternos braços. De suas lágrimas acalento ao colo, seguro e aconchegante, como se de mim, teu frágil corpo jamais tivesse se afastado. E trarei à certeza de sua jovem alma o entendimento de que somos como a brisa morna ao fim do gelado inverno, prenunciando o renascer eterno da primavera.

Lembre-se, : Há dias para a caça, e há dias para a prece…

Nunca deixe que o perigoso láudano da tristeza em seu ser faça morada.

De sua, sempre vigilante,

Mãe de Copas

Primidi, mês de Germinal.

Jairo Lima acreano. Em Diários de Alice.

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ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS 

O livro conta a de uma menina chamada Alice que cai numa toca de coelho que a transporta para um lugar fantástico povoado por criaturas peculiares e antropomórficas, revelando uma lógica do absurdo, característica dos sonhos.

Este está repleto de alusões satíricas dirigidas tanto aos amigos como aos inimigos de Carroll, de paródias a poemas populares infantis ingleses ensinados no século XIX e também de referências linguísticas e matemáticas frequentemente através de enigmas que contribuíram para a sua popularidade.

É assim uma obra de difícil interpretação pois contém dois livros num só texto: um para crianças e outro para adultos.

Este livro possui uma continuação Alice do Outro Lado do Espelho, e ambos influenciam ainda diversas obras como The League of Extraordinary Gentlemen, de Alan Moore e Sandman, de Neil Gaiman.

Alice Liddell 2
Retrato de Alice Liddell no Verão de 1858.

ORIGEM

Em 4 de julho de 1862, durante um passeio de barco pelo rio Tâmisa, Charles Lutwidge Dodgson (Lewis Carroll), que então tinha 30 anos, na companhia do seu amigo Robinson Duckworth, conta uma história de improviso para entreter as três irmãs Liddell (Loriny Charlotte de 13 anos, Alice Pleasance Liddell de 10 anos, e Edith Mary, mais nova de 8 anos).

Eram filhas de Henry George Liddell, o vice-chanceler da Universidade de Oxford e decano da Christ Church, bem como diretor da de Westminster. O passeio começou em Folly Bridge, perto de Oxford e terminou na aldeia de Godstow.

Dando inicio ao conto de fadas das aventuras subterrâneas de Alice, em que a maior parte das aventuras foram baseadas e influenciadas em pessoas, situações e edifícios de Oxford e da Christ Church, onde por exemplo, o Buraco do Coelho (Rabbit Hole) simbolizava as escadas na parte de trás do salão principal na Christ Church.

Acredita-se que uma escultura de um grifo e de um coelho presente na Catedral de Ripon, onde o pai de Carroll foi um membro, forneceu também inspiração para o conto.

Essa história imprevista deu origem, a 26 de novembro de 1864, ao manuscrito de Alice Debaixo da Terra (título original Alice’s Adventures Under Ground) com a finalidade de oferecer à Alice Pleasance Liddell a história transcrita para o papel.

Mais tarde, influenciado tanto pelos seus amigos como pelo seu mentor George MacDonald (também escritor de literatura infantil), decidiu publicar o livro e mudou a versão original, aumentando de 18 mil palavras para 35 mil, acrescentando notavelmente as cenas do Gato de Cheshire e do Chapeleiro Louco (ou Chapeleiro Maluco).

Deste modo, a 4 de julho de 1865 (precisamente três anos após a viagem), a história de Dodgson foi publicada na forma como é conhecida hoje, com ilustrações de John Tenniel. Porém, a tiragem inicial de dois mil exemplares foi removida das prateleiras devido a reclamações do ilustrador sobre a qualidade da impressão.

A segunda tiragem, ostentando a data de 1866, ainda que tenha sido impressa em dezembro de 1865, esgotou-se nas vendas rapidamente, tornando-se um grande sucesso, tendo sido lida por Oscar Wilde e pela rainha Vitória. Na vida do autor, o livro rendeu cerca de 180 mil cópias. Foi traduzida para mais de 125 línguas e só na língua inglesa teve mais de 100 edições.

Em 1998, a primeira impressão do livro (que fora rejeitada) foi leiloada por 1,5 milhão de dólares americanos.

Algumas impressões desta obra contêm tanto As Aventuras de Alice no País das Maravilhas, como também a sua sequência Alice no Outro Lado do Espelho.

 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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