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CATACLISMO BIOLÓGICO - EPIDEMIAS NA HISTÓRIA INDÍGENA

CATACLISMO BIOLÓGICO – EPIDEMIAS NA HISTÓRIA INDÍGENA

Cataclismo Biológico – epidemias na história indígena

Cataclismo biológico’ foi uma expressão utilizada pelo antropólogo Henry F. Dobyns para descrever o efeito das epidemias trazidas pelos invasores europeus nas populações ameríndias. Colocar todos os episódios de epidemias em uma linha do tempo seria uma tarefa quase impossível. Para a maioria delas, variam as datas, os registros e a quantidade de vitimas. Essa linha do tempo reproduz alguns desses eventos, um alerta para a vulnerabilidade histórica das populações indígenas a agentes biológicos importados para seus territórios.

1554

A PRIMEIRA GRANDE EPIDEMIA

Uma das primeiras grandes epidemias aconteceu em 1554. “Com estes que fizemos cristãos saltou a morte de maneira que nos matou três Principais e muitos outros índios e índias” escreveu um jesuíta na época (Monteiro, 1995:21).

1560

EPIDEMIAS DEVASTAM ALDEAMENTO DE SÃO VICENTE

Entre 1560 e 1563 surtos de sarampo e varíola atingiram as populações indígenas em São Vicente. Segundo Monteiro (1995), “os jesuítas temiam pela sobrevivência dos aldeamentos, frequentemente assolados por surtos e contágios”. Em 1563, o padre baltasar Fernandes descreve com bastante espanto uma epidemia que atingia os aldeamentos.

1562

VARÍOLA E SARAMPO DIZIMAM OS PRIMEIROS ALDEAMENTOS NA BAHIA

Entre 1562 e 1564, aldeias jesuítas da Bahia foram dizimadas por epidemais de varíola e sarampo. A aglomeração dos indígenas nos aldeamentos facilitou o contágio. Segundo Carneiro da Cunha (1994), as pessoas morriam sobretudo de fome e sede, já que, acometidas pela doença ao mesmo tempo, não havia quem alimentasse os doentes.

1618

EPIDEMIA ATINGEM ALDEAMENTOS NA REGIÃO DE GUAIRÁ

Aldeamentos que já sofriam com ataques de bandeiras paulistas sofrem com uma grande epidemia em 1618.

1624

INDÍGENAS ESCRAVIZADOS SOFREM COM EPIDEMIAS EM SÃO PAULO

Outras epidemias foram registradas em 1624, 1630 e 1635, relacionando-se com a chegada de grandes contingentes de cativos guarani.

1631

REGIÃO ENTRE OS RIOS PARANÁ E PARAGUAI

Em 1631, uma violenta epidemia atingiu a região entre os rios Paraná e Paraguai. Neste ano, o Padre Diego Salazar escreveu que os graves contágios que se espalhavam pelas reduções “povoou o céu de novos cristãos” (Monteiro, 1995:37).

1647

EPÍDEMIA DE VARÍOLA MATA UM TERÇO DOS OMÁGUA NO SOLIMÕES

Antes mesmo que os portugueses se fixassem no território Omágua, uma epidemia já havia dizimado boa parte de sua população. As informações estão em um relato de Laureano de La Cruz.

1740

EPIDEMIA DE VARÍOLA DEVASTA O ALTO RIO NEGRO APÓS CONTATO COM PORTUGUESES

Em conseqüência do contato com os portugueses, uma epidemia de varíola devastou o Alto Rio Negro em 1740, matando grande número de indígenas. É muito provável que ela tenha se alastrado por certas partes da região sem contato direto com os “brancos”, por meio de tecidos e roupas de algodão.

1749

INDÍGENAS DO RIO NEGRO SOFREM NOVAMENTE COM EPIDEMIA

Entre 1749 e 1763, epidemias recorrentes de varíola e sarampo continuaram assolando a região, sendo que a de sarampo de 1749 foi tão terrível que passou a ser chamada “o sarampo grande”. Trocano em frente à maloca tukano de Pari-Cachoeira, no Rio Tiquié.

1788

ALDEAMENTO XAVANTE É CASTIGADO PELO SARAMPO

Em 1788, os Xavante sofreram com uma epidemia de sarampo que matou mais de 100 pessoas. A doença veio depois de serem aldeados na área conhecida como Carretão. (Karasch 1992).

1826

GUATÓ PERDERAM 98% DE SUA POPULAÇÃO

Hércules Florence descreveu uma população de dois mil Guató vivendo no alto Paraguai em 1826. Anos depois, em 1901, Max Schmidt registra uma população de 46 indíviduos vivendo na mesma região. As mortes seriam consequência de epidemias de varíola (Carvalho 1992 :466).

1849

KRAHÔ PERDEM 40% DE SUA POPULAÇÃO PARA EPIDEMIAS

Os Krahô foram aldeados em 1849 com o objetivo de liberar áreas para a ocupação colonial. De mais de mil indígenas, em 1852 somente 620 haviam sobrevivido às epidemias. (Karasch 1992:.408).

1861

CÓLERA MATA METADE DA POPULAÇÃO FUNIL-Ô

Os Funil-ô, que em 1855 eram 738, em 1861 estavam reduzidos a 382 pessoas. A maioria das pessoas morreu em consequência de uma epidemia de cólera.

1880

SARAMPO FUSTIGA POPULAÇÃO WAPICHANA NA REGIÃO DO RIO BRANCO.

Uma epidemia iniciada no Rio Negro se disseminou no Rio Branco trazida pelos indígenas que fugiam dos batelões em quarentena. O povo wapichana foi um dos principais atingidos (Farage e Santilli 1992).

1912

GRIPE DEIXA POPULAÇÃO KAINGANG DE SÃO PAULO À BEIRA DA EXTINÇÃO

No início do século XX, as frentes de expansão cruzaram os territórios dos Kaingang no Estado de São Paulo. Uma estrada de ferro começou a ser construída rumo ao sertão no território desse povo. Horta Barboza registra que metade dos Kaingang paulistas morreu de uma epidemia de gripe logo após os primeiros contatos entre 1912 e 1913.

1940

A EXTINÇÃO DOS IRA’A MRAYRE (PAU D’ARCO)

Os Ira’a Mrayre, conhecidos também como Pau d’Arco, eram em torno de mil pessoas em 1909. Vitimados por uma epidemia, tiveram os últimos sobreviventes mortos em 1940.

1945

DOENÇAS RESPIRATÓRIAS DEVASTAM OS UMUTINA

O povo Umutina experimentou uma rápida depopulação a partir do processo de contato. Em 1862 eram 400 indivíduos, já em 1911, depois de serem “pacificados”, sua população se reduziu para 300 pessoas. Em 1923 eram 120 pessoas, vinte anos depois, 43. Em 1945, uma violenta epidemia de coqueluche e bronco-pneumonia reduziu seu número para 15 indivíduos.

1954

AWETI: SARAMPO ATACA O XINGU

Os Aweti experimentaram, nas primeiras décadas do século XX, um agudo declínio populacional. Em 1924, os Aweti eram 80. Na década de 1940, sua população era de menos de 30 pessoas; Em 1954 uma epidemia de sarampo atingiu o Xingu, reduzindo os Aweti a 23 indivíduos.

1955

EPIDEMIAS REDUZEM EM 97% POPULAÇÃO TUPARI

No início do século havia três mil Tupari. Em 1934, quando receberam a visita do antropólogo Snethlage, havia somente 250 indivíduos. Em 1948, segundo Franz Caspar, havia 200 e, em seu retorno em 1955 (meses após uma epidemia de sarampo), apenas 66.

1960

POVO AIKEWARA PERDE DOIS TERÇOS DE SUA POPULAÇÃO

Os Aikewara tiveram contato definitivo com os brancos em 1960. Nesse período, uma epidemia de gripe matou dois terços de sua população, reduzindo-a de 126 para 40 pessoas. Em 1962, uma epidemia de varíola matou mais seis pessoas.

1974

CONSTRUÇÃO DE RODOVIA ESPALHA EPIDEMIAS ENTRE OS YANOMAMI

Durante a construção da Perimetral Norte, entre 1974 e 1975, doenças infecciosas mataram 22% da população de quatro aldeias no caminho das obras (Ramos 1979). Dois anos depois, uma epidemia de sarampo matou metade da população de outras quatro comunidades. No rio Apiaú, leste do território Yanomami, estima-se que cerca de 100 indígenas teriam morrido na década de 1970, restando apenas 30 sobreviventes.

1977

ARAWETÉ PERDEM METADE DE SUA POPULAÇÃO DEPOIS DO CONTATO

Em 1977, após ‘contato’ com a Funai, a população arawaté foi reduzida quase pela metade pelas epidemias, indo de 200 para 120 pessoas. De várias aldeias na margem direita do Xingu, só sobrou uma.

1987

INVASÃO GARIMPEIRA CAUSA EPIDEMIAS E MORTE ENTRE OS YANOMAMI

Entre 1987 e 1990, cerca de mil Yanomami morreram em consequência de epidemias trazidas por uma corrida do ouro que tomou conta do território Yanomami.

2000

DOENÇA EVITÁVEL ATINGE 80% DOS ARAWETÉ

Em 2000 uma epidemia de varicela, doença evitável por vacina, atingiu 80% da população araweté, resultando em nove mortes.

Fonte: ISA

Adendo Xapuri: 2020

Coronavírus – a culpa é do desgoverno.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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